Torcedor do Palmeiras relata dor pela derrota na final do Paulista de 2018: “Se c... todo” - Gazeta Esportiva
Torcedor do Palmeiras relata dor pela derrota na final do Paulista de 2018: “Se c... todo”

Torcedor do Palmeiras relata dor pela derrota na final do Paulista de 2018: “Se c... todo”

Gazeta Esportiva

Por Tiago Salazar

08/04/2020 às 05:00

São Paulo, SP

Em 8 de abril de 2018, o Allianz Parque se vestiu de verde e branco para a grande final do Campeonato Paulista. Se no gramado só os corintianos fugiam do tom, a determinação por torcida única em clássicos paulistas tornou o ambiente fora das quatro linhas todo favorável aos mandantes.

Emerson Zichelle estava lá, mais especificamente no setor Superior Norte, acompanhado de sua irmã, Tatiana. À Gazeta Esportiva, o gerente de logística de 45 anos falou sobre a experiência e o drama para os palmeirenses naquela tarde/noite de domingo.




“Primeiro que jogo contra o Corinthians, qualquer um, eu já não durmo. Não consigo, não dá! Qualquer jogo é assim, então, imagina numa final”.

Descendente de italiano, com sotaque típico da Mooca, frequentador da Mancha Verde desde 1994 e sócio da principal torcida organizada do Palmeiras há cinco anos, Emerson revelou que foi um dos poucos a segurar a empolgação depois da vitória no primeiro embate das finais, em Itaquera.
Eu estava na (Rua) Turiassú (hoje chamada de Palestra Itália) com a família e acho que fui o único que não saiu muito empolgado. Para mim, eu diria 'já era' se fosse 3 a 0, 4 a 0. Mas, 1 a 0 é muito pouco. Mesmo assim, lá na Turiassú estava todo mundo no ‘já era’, ‘tudo nosso’, ‘acabou’, ‘é campeão’

Na semana que antecedeu o reencontro na Barra Funda, os clubes manifestaram desejo por promover treinos abertos. A Polícia Militar vetou as ações simultâneas e o Corinthians, por ser visitante, teve de recuar, mesmo que contrariado. A diretoria alvinegra, então, convocou a Fiel para a antevéspera do jogo e proporcionou uma festa inédita, com direito a passagem do elenco pelo meio da torcida e muitos sinalizadores.

Para muitos corintianos, a final começou a ser vencida ali. Emerson minimizou o fato e não poupou o time do coração ao tentar resumir o real motivo pelo histórico revés.

“Isso não ganha jogo, não. Jogador tem que entrar em campo concentrado, era uma final. Aquilo é uma festa para a torcida. Para a torcida isso é maravilhoso, os caras ficam maluco, p... festa, mas não acho que isso ganhe jogo. O problema é que deu caganeira no Palmeiras. Essa é a verdade. Se c... todo”.

ANGÚSTIA NA ARQUIBANCADA


Apesar do fanatismo que o leva ao Allianz Parque em praticamente todos os jogos da equipe, o gol de Rodriguinho depois e apenas 1 minuto e 29 segundos de bola rolando não chegou a ser uma surpresa para Emerson Zichelle.
Eu sou muito pé no chão. Eu tinha falado para minha irmã, que estava comigo: ‘Se os caras fizeram um gol, f...’. No estádio, o clima era de euforia, todo mundo confiante. Normal, né?!

“Ai, logo no começo do jogo, saiu aquele gol. Eu só olhei para ela e falei: ‘Não estou acreditando. Me belisca, diz que estou sonhando, porque não é possível’. Por um lado, você pensa: 'Pelo menos tem quase 90 minutos para fazer um gol'. Só precisava de um, mas...”



De fato, o gol alvinegro em terras alviverdes caiu como um balde de água fria nos mandantes. O forte sistema defensivo do Corinthians, à época, não era segredo para ninguém.

“Cara, torcedor sente as coisas, todo mundo sabe como é. E ali começou aquela pressão, e a bola bate, rebate, vai na trave, passa raspando... Você já olha e pensa: ‘Hoje a bola não vai entrar’. No fim do primeiro tempo eu já tinha certeza que não ia ter jeito, a bola não ia entrar”.

POLÊMICA NÃO VIRA DESCULPA


A etapa final reservou a grande polêmica do Derby. O árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza assinalou pênalti para o Palmeiras aos 26. Uma verdadeira confusão se instaurou no gramado e oito minutos depois o homem do apito voltou atrás na decisão.

Os replays da TV mostraram Ralf tocando a bola, e não em Dudu. A diretoria do Palmeiras, no entanto, suspeitou de interferência externa em uma época que o VAR ainda não era uma realidade.
Eu não sei, cara, se foi, se não foi, a gente não tem como saber. Eu só acho que aquilo ali não decidiu nada, porque pênalti não é gol. O cara poderia bater e fazer ou bater e perder, a gente não sabe. A verdade é que o Palmeiras foi incompetente por não ter conseguido fazer um gol. O problema ali não foi não ter dado o pênalti, o problema é que abalou demais o time. O time sentiu muito aquilo lá e não jogou mais. Se c... todo.



A TENSÃO DOS PÊNALTIS


Apesar dos corintianos se mostrarem satisfeitos ao fim do tempo regulamentar, tudo seria decidido nos pênaltis. E se por um lado a confiança era grande em Cássio, do outro a desconfiança existia em cima dos batedores.
O que eu pensava era em quem ia bater. Esse é o problema. O Lucas Lima, cara, estava na cara que ele ia perder. Todo mundo já sabia. Quantas decisões a gente já não viu, eu, você, todo mundo que já jogou bola um dia? A gente sabe. Esse era certo que ia perder, não precisava nem bater. O Dudu eu achava que ia fazer, esse foi uma decepção na hora, mas o Lucas Lima era certeza. E não tinha o Prass, né? Era o Jaílson, experiente e tal, mas não pegou nenhum. Resumindo, o palmeiras se c... todo

O Corinthians também quase teve seu vilão. Fagner, com a bola do título, isolou e manteve a esperança verde.

“Quando o Fagner foi bater eu já estava indo embora, já estava no corredor. Nem vi ele batendo. Ai ele errou e eu falei: ‘Então, vamos esperar para ver se vai fazer’. O Palmeiras fez, mas ai o outro lá (Maycon) fez o gol...”

O baque foi forte. O Allianz Parque se calou ao ponto de ser possível ouvir os jogadores em campo comemorando.

“Cara, quando uma coisa dessa acontece você fica em silêncio. Eu já vivi eliminações piores e tal, mas contra o Corinthians é f... Eu não conseguia nem xingar. Nessa hora você fica em silêncio mesmo e vai embora”.


E SE DESSEM VOLTA OLÍMPICA?


Após a entrega do troféu e todo o protocolo a Federação Paulista de Futebol, os jogadores campeões foram orientados até pelo próprio presidente Andrés Sanchez a evitar a tradicional volta olímpica.
Foi a melhor coisa. A torcida já estava p..., se os caras dessem volta olímpica, cara, nessas horas só precisa um. Se um pular, o resto vai tudo atrás. Ia dar m...

O TAMANHO A DOR


Ao fim de 2018, em parte, o Palmeiras compensou a dor de seus torcedores com o título do Campeonato Brasileiro. Antes da decisão do Estadual, porém, um dos líderes da Mancha Verde chegou a dizer que trocaria um eventual título de Libertadores para ser campeão em cima do Corinthians, entre tantas outras afirmações que geraram muita polêmica na ocasião.
Cara, eu concordo com ele. Eu preferia ter sido campeão do Paulista, contra o Corinthians do que ganhar Brasileiro, Copa do Brasil, o que for. Só a Libertadores que é outra cosia, né? Libertadores eu já ganhei, estava lá, e você fica maluco, aéreo, não sabe se vai para casa, se dorme da rua. Libertadores eu acho que é mais, mas, eu trocaria o Brasileiro, o resto tudo para ser campeão daquele Paulista contra o Corinthians.

Como a hipótese de troca de títulos serve apenas para dimensionar a relevância do acontecimento, o que fica é a vontade de dar o troco o quanto antes.

“Cara, não precisa nem ser em Itaquera. Onde for eu nem ligo, mas dá vontade de ser campeão em cima dos caras, isso sim. Nem ligo onde, pode ser até no Palestra, de novo”.

No aniversário de dois anos do título corintiano dentro da casa palmeirense, Emerson Zichelle termina seu relato à Gazeta Esportiva admitindo que a quarta-feira não será das mais fáceis.

“Eu não ligo. Tem uns que vêm na provocação, ai eu vou pra porrada, mas a maioria fala na brincadeira. Faz parte, nós também já fomos lá em Itaquera e eliminamos eles. Eu vejo futebol assim, nem sempre você vai ganhar, o outro também pode ser melhor e faz parte. Tem que aguentar. É Paulistinha Day, mas tem Tolima Day, Guaraní Day, Talleres Day. Nessa quarta eu já sei que vai ter as piadinhas, mas, fazer o quê? Só te falo que dói, cara. Dói, dói até hoje”.

Conteúdo Patrocinado