Rumo a pódio em 2016, Magnano experimenta parceria com psicólogas - Gazeta Esportiva
Rumo a pódio em 2016, Magnano experimenta parceria com psicólogas

Rumo a pódio em 2016, Magnano experimenta parceria com psicólogas

Gazeta Esportiva

Por André Sender

28/08/2015 às 10:00

São Paulo, SP

Argentino Rubén Magnano tentar levar Brasil a histórica medalha no Rio (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Argentino Rubén Magnano tentar levar Brasil a histórica medalha no Rio (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)


A vaga da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro demorou a sair, mas foi confirmada pela Federação Internacional de Basquete (Fiba). A notícia deixou o técnico Rubén Magnano tranquilo para usar a Copa América, Pré-Olímpico continental, como teste de jogadores e de um inédito trabalho com psicólogas para tentar levar o time a uma histórica medalha em 2016.

O Brasil teria vaga direta no torneio do Rio de Janeiro por ser país-sede, mas uma dívida da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) com a Fiba pelo convite ao Mundial de 2014 a deixou em xeque. A confirmação veio no início do mês, a poucas semanas do início da Copa América, disputada entre 31 de agosto e 12 de setembro no México. O País precisou ser convidado à Copa do Mundo por ter sido eliminado ainda na primeira fase do torneio continental de 2013.

Antes mesmo da decisão da Fiba, Magnano convocou a Seleção Brasileira sem suas maiores estrelas para o torneio que poderia valer a classificação olímpica. A ideia era testar atletas que pudessem contribuir em quadra e aguentar o desafio – em vez de pressão, como ressalta nesta entrevista à Gazeta Esportiva – de disputar os Jogos em casa.

A preocupação do treinador com o que se passa na cabeça de seus jogadores cresceu após a eliminação nas quartas de final do Mundial de 2014 pela Sérvia, em jogo no qual o descontrole emocional com o placar adverso ajudou a sepultar as pretensões nacionais. Magnano, campeão olímpico com a Argentina em 2004, então adotou pela primeira vez psicólogas na preparação de suas equipes.

Os Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015 foram a estreia do time adulto após Samia Hallag e Alessandra Dutra, psicólogas do Comitê Olímpico do Brasil, se integrarem à Seleção. Deu certo e o País conquistou o ouro, o que deixou Magnano ainda mais animado para 2016, quando tentará levar o Brasil, bronze em Londres 1948, Roma 1960 e Tóquio 1964, a uma histórica medalha.

Gazeta Esportiva: A Seleção disputa a Copa América já com a vaga nos Jogos Olímpicos garantida. Isso te dá algum alívio?
Rubén Magnano:
Sem dúvida temos uma tranquilidade por já termos a vaga. Isso tira um pouco dessa incerteza das nossas costas e por que não falar também desse peso? Mas também tem uma situação curiosa porque tomamos uma posição muito corajosa com a CBB de encarar uma ideia de trabalho que começou no Pan e agora caminha à Copa América. Felizmente está dando certo e a cereja do bolo, por assim dizer, foi que nesse trecho tivemos a grata notícia de que o Brasil está nos Jogos.

Gazeta Esportiva: Antes mesmo da confirmação da vaga, você convocou o time sem os jogadores que atuam na NBA, além do Alex e do Marcelinho Huertas. Estava confiante que a vaga viria?
Magnano:
Tínhamos muitas esperanças de que sairia e não precisássemos disputar na quadra. Mas era muito claro que nosso problema não era jogar. Porque, mesmo se jogássemos a Copa América, ficássemos entre os dois primeiros e a CBB não respondesse ao que pedia a Fiba, também não jogaríamos as Olimpíadas. Não era uma questão esportiva, passava por coisas fora da quadra.



Gazeta Esportiva: A dúvida da vaga olímpica do Brasil existia por causa da dívida da CBB com a Fiba pelo convite ao Mundial e isso só aconteceu porque a Seleção foi eliminada ainda na primeira fase da Copa América de 2013. Apagar a imagem deixada há dois anos é uma motivação para esse time?
Magnano:
Não tem absolutamente nada a ver. Meu objetivo é outro. Não sou uma pessoa por quem passa pela cabeça o negócio ou ideia de revanche para nada. Nossa meta é dar experiência a alguns jogadores para o futuro do basquete. Fundamentalmente isso. Nada de revanche. A imagem mais recente, não vou nem falar do Pan que é muito próximo, mas do último Mundial e dos Jogos Olímpicos. E te digo que a da Seleção é muito boa.

Gazeta Esportiva: Não precisar buscar a vaga olímpica na Copa América muda seu planejamento para o torneio?
Magnano:
Temos que ser conscientes. É claro que é bom jogar com a vaga em casa. Mas curiosamente nestes quase 70 dias de trabalho nunca falamos da classificação. Sempre de nossas metas individuais, de nossas metas como equipe. É verdade que cada um de nós tem interiormente, implícita, uma situação de Olimpíadas. Ninguém vai tirar isso. Tentamos fazer o melhor trabalho em cada um dos treinos e partidas e vamos continuar desse jeito, tratando de melhorar nossos atletas e nosso jogo.

Gazeta Esportiva: Tanto no Mundial quanto nas Olimpíadas, a Seleção era colocada com chance de brigar por medalhas. Isso se repete no Rio de Janeiro?
Magnano:
Tem que ser nosso grande compromisso. Temos que declarar e trabalhar por isso. Ter coragem de declarar e correr atrás dessa possibilidade. A oportunidade está aberta. Não é um torneio fácil, todo o mundo sabe. Mas temos qualidade para pensar que nossas perspectivas são boas. Vamos tentar e ver se conseguimos uma briga por medalha

Gazeta Esportiva: Nos dois casos, o Brasil foi eliminado nas quartas de final. Nas Olimpíadas, pela Argentina. No Mundial, pela Sérvia. Você já sabe como fazer para dar passo a mais que faltou?
Magnano:
Cara, são situações de limite. Se eu tivesse esta resposta, estaria em outro patamar. Mas sei que vamos trabalhar e preparar cada um dos jogos como se fosse uma final para chegar lá. É claro que ficou um conjunto de perguntas do último jogo contra a Sérvia, em que um estado anímico pouco inteligente causou uma adversidade de equilíbrio no jogo. Vamos trabalhar para que não aconteça mais.

Gazeta Esportiva: Contra a Sérvia, houve um desequilíbrio emocional. No início do terceiro quarto, o Brasil estava atrás do placar, levou duas faltas técnicas por reclamação com a arbitragem e ficou quase sem chances no jogo. Isso te acendeu um sinal de alerta para as Olimpíadas, especialmente por serem no País?
Magnano: Claro que é um elemento muito importante o fato de jogar em casa. Precisamos trocar essa palavra que se usa tanto, que é a pressão, por desafio. E sermos inteligentes em conduzir todo o exterior a coisas positivas porque jogar em casa pode causar um efeito bumerangue e se voltar contra você. Temos que estar muito espertos, blindar a equipe de coisas externas e fazer nosso trabalho.

Gazeta Esportiva: E você tem algum apoio para trabalhar essa parte mental?
Magnano:
Hoje, pela primeira vez estamos trabalhando com duas psicólogas. Estou avaliando a situação porque para mim também é novo. Nunca trabalhei com psicólogas. Se falarmos de números, deu certo. Fomos ao Pan e saímos campeões [risos]. Mas estamos fazendo uma experiência muito legal e vamos ver se continuamos com isso.

Campeão olímpico experimenta trabalho com psicólogas por medalha no Rio 2016 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)


Gazeta Esportiva: No Pan, os jogadores te deram a medalha de ouro que seria do Raulzinho, que não jogou porque assinou com o Utah Jazz da NBA...
Magnano:
São situações muito curiosas. Primeiro, infelizmente porque não tivemos Raul. Felizmente porque fomos campeões, sobrou uma medalha e os atletas me entregaram. Mas esse reconhecimento por parte dos atletas não tem preço para um treinador. O gesto da equipe supera o valor da medalha. É uma gratificação ao trabalho que nós fizemos. A verdade é que me senti muito orgulhoso com isso.

7 a 1 acendeu alerta em olímpicos


O fracasso da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2014 expôs a pressão sofrida pelos atletas nacionais em casa. Diante de milhares de torcedores, o lacrimejante time brasileiro chorou em momentos de tristeza, nervosismo e alegria, da execução do hino nacional aos instantes que antecederam as cobranças de pênalti contra o Chile, nas oitavas de final. Os primeiros gols da Alemanha na semi desmontaram psicologicamente a equipe, ainda abalada na decisão do terceiro lugar diante da Holanda.

Atletas como o ginasta Arthur Zanetti já estão recebendo cobranças de torcedores para apagar em 2016 o vexame deixado pela Seleção. O nadador Thiago Pereira, por exemplo, se submete a consultas semanais com um psicólogo em seu trabalho para buscar uma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

"Estamos trabalhando muito bem essa parte de preparação mental e emocional. Esse trabalho já vem ao longo de alguns anos. Nesse momento, temos a área de psicologia e a área de coaching trabalhando com os atletas. A psicologia faz parte de um leque de serviços que contribuem para aquele atleta chegar equilibrado nos Jogos. Ele precisa ter uma série de qualidades bem trabalhadas para que consiga naquele momento específico, naquele dia único, ter condição de oferecer sua melhor performance. Para isso, trabalhamos para preencher todas essas lacunas. Em Londres 2012, trabalhamos com sete psicólogos dentro da equipe e em Toronto 2015 foram envolvidos no trabalho 11. Não é uma ação pontual", disseo gerente geral de performance esportiva do COB, Jorge Bichara.

Disputar os Jogos Olímpicos em casa tem sido benéfico para os países. Em Londres 2012, a Grã-Bretanha ficou com a terceira colocação do quadro de medalhas com 65 pódios, 18 a mais do que em Pequim. Na China, o país-sede liderou as Olimpíadas com 100 medalhas, 12 a mais do que quatro anos depois na capital inglesa. A importância de receber o evento para os asiáticos foi ainda maior se comparado com seu desempenho em Atenas 2004, em que subiu ao pódio 63 vezes.


Gazeta Esportiva: O Raulzinho trocou a Espanha pela NBA, assim como já tinha feito o Lucas Bebê, que não vem jogando muito no Toronto Raptors. O que isso muda para a Seleção?
Magnano: Essa resposta já dei muitas vezes, muitas vezes. Não adianta ir à NBA e não jogar. Minha preocupação quando um jogador vai de um clube a outro, faz a passagem do basquete da Fiba para a NBA, é sempre que não jogue. Isso é prejudicial para o atleta diretamente e indiretamente para a nossa Seleção. Já tivemos muitos exemplos em que o atleta não jogava nunca no time e chegava aqui com uma performance muito abaixo do que eu conhecia. Mudar esse chip é muito difícil. Por isso fico feliz que Raul tomou a decisão de atuar no melhor basquete do mundo, mas espero que ele consiga jogar.

Gazeta Esportiva: O Marcelinho Huertas não fica no Barcelona, ainda está sem contrato, e chegou a treinar com a Seleção em São Paulo só para manter a forma. Segundo a imprensa espanhola, já recusou uma proposta do Galatasaray, esperando um contrato na NBA. A situação dele a um ano dos Jogos te preocupa?
Magnano:
A verdade é que, conhecendo Marcelo, ele vai acabar jogando. Então não me preocupa tanto. É a mesma coisa que aconteceu com Raul. Se ele decide ir à NBA, espero que tenha uma quantidade boa de minutos de jogo. Mas, com a qualidade dele, vai lá para jogar, sem dúvida. Não me preocupa se ele vai à Turquia ou à NBA porque vai jogar em qualquer lugar.

Gazeta Esportiva: O Vitor Benite, por outro lado, foi para o Murcia, ex-time do Raulzinho, e terá sua primeira experiência no basquete europeu...
Magnano:
É outro caso que me deixou muito feliz porque ele vinha correndo atrás disso faz muito tempo e aconteceu. Ele vai encontrar uma situação de competição muito interessante para saber em que patamar está, e com certeza vai dar certo porque está trabalhando muito duro e focado. Ele está conseguindo coisas muito positivas para seu futuro a partir de seu trabalho.

Gazeta Esportiva: Ao contrário do Brasil, a Argentina, com que você foi campeão em Atenas 2004, tem que buscar a classificação olímpica e já sem muitos daqueles jogadores da geração dourada. Ficaram só o Scola e o Nocioni. Eles correm risco de não se classificar?
Magnano:
A Copa América é muito dura com equipes muito fortes. A Argentina vai estar na briga, tem alguns jogadores jovens já experientes e duas referências muito grandes, que são Scola e Nocioni. Acho que eles vão ficar muito em quadra. Agora, é preciso jogar. A possibilidade está aberta para uma quantidade de times: o Canadá; a República Dominicana; Porto Rico trocou quase todo o grupo que foi ao Pan; o México joga em casa, pode elevar seu nível, e foi campeão na última Copa América. Vai ser um torneio muito duro.

Gazeta Esportiva: Você ainda mantém contato com os jogadores da Argentina?
Magnano: 
Sim. Alguns deles conheço há muito tempo por terem participado das categorias de formação, quando ainda trabalhava na base lá. Outros, da seleção adulta, como Scola e Nocioni. Dialogo com eles.

Gazeta Esportiva: O técnico Sergio Hernández você também conhece bem, foi seu sucessor na Argentina, conquistou a medalha de bronze em Pequim 2008...
Magnano:
[interrompe] Ah, sim, sim. Conheço todo o estafe técnico. Imagina, cara, estive lá por 12 anos. E ainda uns anos como treinador na liga nacional. Então do ambiente conheço praticamente tudo.

Gazeta Esportiva: O Brasil pode ter papel importante na briga da Argentina para se classificar às Olimpíadas, já que há chance de os dois times se enfrentarem na semifinal, repetindo duelos de Londres 2012 e do Mundial de 2014.
Magnano:
Não estou acostumado a fazer futurologia. Não sei se vamos jogar contra a Argentina. Temos que esperar chegar lá e se acontecer, tem que acontecer. Jogaremos. Como falo sempre, minha cabeça está na próxima partida. Se, no futuro, tivermos que enfrentar a Argentina, vamos jogar sem nenhum problema.

Dívida com a Fiba quase deixou basquete do Brasil nas sombras (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

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