Campeão por Galo e Cruzeiro, Nelinho construiu carreira no Mineirão - Gazeta Esportiva
Campeão por Galo e Cruzeiro, Nelinho construiu carreira no Mineirão

Campeão por Galo e Cruzeiro, Nelinho construiu carreira no Mineirão

Gazeta Esportiva

Por Juliana Arreguy, especial para GE.net

04/09/2015 às 21:00 • Atualizado: 05/09/2015 às 16:22

São Paulo, SP

Boa atuação nos rivais mineiros renderam a Nelinho convocação à Seleção (Foto: Divulgação)
Boa atuação nos rivais mineiros renderam a Nelinho convocação à Seleção (Foto: Divulgação)

Em 50 anos de história, o Mineirão acumula lembranças preciosas do futebol brasileiro. Palco de glórias e tragédias do esporte - que vão de conquistas da Libertadores ao 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa do Mundo -,  o estádio serviu para projetar as equipes locais no cenário nacional. A intimidade com os clubes mineiros, que tratam o lugar como segunda casa, pode ser representada através de uma pessoa: Manoel Rezende de Matos Cabral, o Nelinho.




Nelinho fez 348 partidas no Mineirão, (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Nelinho fez 348 partidas no Mineirão, (Foto: Acervo/Gazeta Press)


Com grandes passagens por Cruzeiro e Atlético-MG, o ex-jogador participou de momentos marcantes na história de ambos os clubes. Somando as partidas pelas duas equipes, Nelinho se tornou o jogador que mais atuou no Mineirão, com 348 jogos. A saga do carioca que desbravou Minas Gerais iniciou em 1973, quando foi contratado pela Raposa. A hegemonia celeste no estado iniciou nos anos 60, impulsionada pela conquista da Taça Brasil de 1966 diante do Santos de Pelé, ajudou a consagrar a figura do ex-lateral.

O próprio Nelinho foi protagonista de parte da boa fase cruzeirense, com os títulos dos Campeonatos Mineiros de 73, 74, 75 e 77, além da Libertadores de 76, no qual o atleta anotou seis gols durante a campanha no torneio continental. Negociado com o Galo em 1982, o ex-jogador também participou de um dos melhores momentos da história alvinegra, entrando na equipe a tempo de participar dos últimos títulos mineiros em uma sequência de seis conquistas seguidas (78, 79, 80, 81, 82, 83).

Embalado pelo triunfo do Campeonato Brasileiro em 71, o Atlético deu fim à boa sequência vivida pelo Cruzeiro em Minas Gerais, tornando-se o soberano do estado. "Na época que eu fui transferido, o time do Atlético-MG era infinitamente superior. Quando eu cheguei no Cruzeiro a fase era melhor, era a fase áurea do clube. E depois o Galo começou a crescer com Reinaldo, Cerezo, Marcelo, Éder, Luizinho... a diferença era enorme. Quando cheguei ao Atlético o clube conquistou o hexacampeonato mineiro. Era um timaço", contou Nelinho com exclusividade à Gazeta Esportiva.

Atlético-MG antes de partida do Brasileiro de 1986. Em pé (da esquerda para a direita): Nelinho, Elzo, e o goleiro Pereira(D) (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Galo antes de jogo do Brasileiro de 1986. Em pé (da esq. para a dir): Nelinho, Elzo, e o goleiro Pereira(D) (Foto: Acervo/Gazeta Press)

A rivalidade entre os times proporcionou alguns dos jogos mais marcantes do ex-lateral no Mineirão, que vê com carinho os dois clubes que o acolheram e o deixaram em alta em sua carreira profissional. "As duas passagens minhas foram importantíssimas: o Cruzeiro me projetou e o Atlético-MG encerrou minha carreira em grande estilo. A companhia de jogadores excelentes me ajudou muito, tanto no Cruzeiro como no Atlético-MG. Se você está numa determinada idade e não cai num time bom, num time armado, você não rende tanto".


A responsabilidade de defender ambos os clubes pesou nas principais memórias de Nelinho no Mineirão, selecionando os clássicos como alguns dos maiores confrontos que disputou no estádio. Pelo lado do Cruzeiro, a final do Mineiro de 77 ficou na lembrança pela disparidade entre as duas equipes em campo. "Ninguém acreditava na gente, mas mesmo assim levamos a melhor de três. O Atlético-MG venceu o primeiro, nós vencemos o segundo e na terceira partida ganhamos já na prorrogação. Foi quando Revetria fez quatro gols nos dois últimos jogos", relembrou.

Já atuando pelo Galo teve a preocupação em agradar a torcida alvinegra no primeiro duelo diante do ex-clube. "A minha responsabilidade de jogar bem era grande. Os atleticanos esperavam isso de mim, de jogar bem contra o Cruzeiro como joguei contra o Atlético".



Os clássicos não foram os únicos momentos que mais marcaram Nelinho nos gramados do Mineirão. A estreia do Cruzeiro na Libertadores de 76, com vitória diante do Internacional por 5 a 4, está entre as partidas mais significativas na memória do ex-jogador, responsável pelo gol de desempate aos 40 minutos do segundo tempo. Outro confronto listado foi contra o Bayern de Munique no Mundial de clubes realizado no mesmo ano. O jogo de ida, na Alemanha, terminou com a vitória dos bávaros por 2 a 0. Na volta, em Belo Horizonte, o Cruzeiro não conseguiu sair do empate sem gols, que deu aos rivais o título.


Com a camisa alvinegra, o ex-lateral cita as oitavas de final do Brasileiro de 86, cujo adversário era o Flamengo. O primeiro confronto terminou no empate por 1 a 1. Já o segundo, em casa, teve vitória do Atlético por 1 a 0, com gol de pênalti marcado pelo próprio Nelinho. Mais especial que o próprio resultado foi a presença da torcida, que encantou o carioca. "Acho que quase 100 mil foram nos ver", relatou.

Diminuição da média de público e as vantagens das arenas "padrão Fifa"

Um dos aspectos que mais simboliza o Mineirão antes da reforma para a Copa do Mundo de 2014 era a existência da geral. A localização de ingressos a preços mais baratos do estádio não tinha privilégio algum: no mesmo nível do campo, dificultava a visão de jogo e não garantia nem mesmo uma sombra aos torcedores nos dias ensolarados - os chuvosos, então, nem se fala. Com arquibancadas de concreto, sem lugares numerados como hoje, era difícil ditar um limite para o número de torcedores presentes. Não por acaso, era comum ter mais de 100 mil torcedores em partidas decisivas, aumentando, em muito, a média de público que frequentava o estádio.


A diminuição da capacidade de pessoas no local quando o Mineirão reabriu, em 2013, não afeta a sensação vivida pelos atletas em campo. Para Nelinho, o espetáculo da torcida é igualmente belo se a capacidade máxima, apesar de menor, for atingida. "Mesmo o estádio comportando, hoje, um máximo 58 mil pessoas, se estiver lotado a impressão que o jogador tem é a mesma, a satisfação de ver tudo lotado. Não faz diferença. E hoje tudo é mais bonito, o campo é mais bonito, a grama é melhor, tudo é melhor", comparou.




Nova estrutura do Mineirão agrada Nelinho, que evita saudosismo (Foto: Washington Alves/Gazeta Press)
Nova estrutura do Mineirão agrada Nelinho, que evita saudosismo (Foto: Washington Alves/Gazeta Press)

O ex-jogador avalia positivamente as mudanças que deixaram o estádio de cara nova. "A gente tem que imaginar que as arenas hoje tem um conforto muito melhor para o torcedor e para os jogadores, com os vestiários, as cadeiras e o campo reformados. Só porque antigamente dava mais público não dá para achar que era melhor", explicou.


"Nossa realidade é outra: se você acha que hoje conseguiria colocar 100 mil num estádio vai ver que não dá, tem uma concorrência muito grande com as televisões. Há também o aumento de violência nos estádios, que tem deixado muita gente em casa. Atingir um público de 100 mil é impossível hoje. O que importa é que os times se programem e consigam fazer bons elencos para atrair as pessoas. Olha a prova do Cruzeiro de 2013 e 2014: era um time que ia tão bem que conseguia colocar 50 mil no Mineirão. É o que paga o jogador dentro do campo", completou

Outro marco na história do estádio: a bola para fora e o chute poderoso

A característica que consagrou Nelinho no futebol brasileiro foi a potência do chute, que o tornou um exímio cobrador de faltas. Só no Cruzeiro, em 410 jogos o lateral marcou 105 gols - marca acima da média para a posição. A proporção seguiu no Atlético, com 52 tentos anotados em 247 jogos.

Apelidado de "canhão" pela força de seus disparos, foi o primeiro atleta que se tem conhecimento a chutar a bola para fora do Mineirão, em 1979. "Aquilo foi uma brincadeira", disse, completando na sequência.

"Eu tinha acabado de operar de coluna e comentei na imprensa que quando ficasse totalmente recuperado chutaria a bola para fora do Mineirão. Quando voltei a treinar veio uma proposta do Fantástico, da Globo, e aí fui para o Mineirão, tentei e consegui. Mas sem segundas intenções, foi um fato inusitado. Nem foi muito difícil, outros jogadores, se tentassem, conseguiriam. O que acho que acabou marcando é que fui o primeiro", explicou o ex-jogador.

Os capítulos marcantes das "páginas heróicas imortais" escritas por Nelinho transformaram as conquistas do estádio em "orgulho do esporte nacional". Presente em décadas importantes da história de Cruzeiro e Atlético-MG, o ex-jogador se tornou um dos responsáveis pela construção da identidade do Mineirão ao longo dos anos.

Equipe do Cruzeiro antes de final do Mundial Interclubes de 76. Em pé (da esquerda para a direita): Morais, Nelinho, Osiris, Piazza, Vanderlei e o goleiro Raul (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Equipe do Cruzeiro antes de final do Mundial Interclubes de 76. Em pé (da esquerda para a direita): Morais, Nelinho, Osiris, Piazza, Vanderlei e o goleiro Raul (Foto: Acervo/Gazeta Press)

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