Discreto, Iser Bem celebra "anonimato" 20 anos após vencer São Silvestre - Gazeta Esportiva
Discreto, Iser Bem celebra "anonimato" 20 anos após vencer São Silvestre

Discreto, Iser Bem celebra "anonimato" 20 anos após vencer São Silvestre

Gazeta Esportiva

Por Thiago Tassi*

09/10/2017 às 10:00 • Atualizado: 10/10/2017 às 16:28

São Paulo, SP

Em 1998, com status totalmente diferente, Émerson Iser Bem chegava à São Silvestre carregado de expectativa – e a inconsciente obrigação de manter-se no topo. Já sem o Volkswagen Gol (prêmio de primeiro brasileiro a cruzar a linha de chegada no ano anterior), que sequer utilizou e vendeu para comprar uma casa, e impossibilitado de fazer uma preparação semelhante à que lhe rendeu a vitória, o discreto atleta do interior do Paraná terminou a prova de 98 em sexto, e credita grande parcela do resultado à fama, ao assédio.

“A partir dali minha vida mudou bastante, porque eu não estava preparado para o que aconteceu. Isto [a fama] foi uma coisa muito forte, foi um negócio que me impactou violentamente”, afirmou Iser Bem antes de explicar, na sequência, que não conseguiu realizar uma preparação parecida à que havia dado resultado um ano antes, longe dos holofotes e com algumas horas de sono.




Aparentemente traumatizado por tornar-se figura pública, Iser Bem relembrou algumas histórias que só foram possíveis de existir devido à conquista da 73ª Corrida Internacional de São Silvestre, em 1997. Dentre elas, recordou do dia em que teve o treino interrompido, nas ruas da cidade de Campos do Jordão, onde costumava se exercitar, quando um automóvel se jogou à sua frente: era um casal que paralisou a viagem para conseguir uma fotografia ao lado dele.

“Era uma coisa que me incomodava. Eu não podia ir em lugares públicos que as pessoas me abordavam, e eu sou um cara que gosto de andar da rua anonimamente. Nunca passou pela minha cabeça ter este tipo de coisa”, disse. Quase 20 anos depois, ele fala aliviado sobre o assunto: “Ninguém me conhece mais na rua, isto é ótimo (risos)”.

Outro fato curioso, proporcionado somente pela fama, aconteceu na Corrida do Círio, em Belém (PA), quando Émerson Iser Bem foi convidado para ser uma das atrações da prova – e, portanto, ainda colhia os frutos da principal conquista da carreira, como o próprio alegou sem titubear.

“Eles me levaram como convidado, e eu já estava no aquecimento. O cara da TV queria conversar comigo antes da largada, e aí beleza, a gente alinhou ali no portal, perto da largada. Acontece que o som estava muito alto, era um carro de som mesmo. Aí ele falou: ‘Vamos ali atrás, que ali não tem som e eu consigo gravar com você’. ‘Mas vai dar a largada´, eu disse. ‘Não, eles só vão dar a largada depois que a gente conversar’. Aí eu estou lá, conversando com o cara, deram a largada”, contou.

Haviam quatro, cinco mil pessoas na prova. Quando ele conseguiu “costurar”, correndo até mesmo pela calçada, e se desvencilhar do pelotão geral da prova, e a partir disso brigar na ponta, o principal atleta capaz de batê-lo já estava longe. Apesar do contratempo, e de perder o vigor físico por conta dele, Iser Bem conseguiu terminar na segunda colocação, a cerca de 20m distante do vencedor.

Atualmente, o ex-atleta de elite, que correrá a 93ª Corrida de São Silvestre neste ano por hobby, ao lado da atual esposa, vive em Taubaté (SP) e trabalha com a produção de chips descartáveis para a cronometragem e registo de desempenhos em corridas. Ainda que tenha uma ocupação ligada ao esporte que o exibiu para o mundo, o atletismo, e lhe rendeu a estabilidade em vida, Émerson Iser Bem prefere não se apresentar como “o vencedor da São Silvestre de 97” ou, até mesmo, “o único brasileiro a bater Paul Tergat na maior corrida de rua da América Latina”.

Humilde e comedido, o agora educador físico não coloca esta alcunha em seu cartão de visitas, por exemplo, e opta por não expor este fato aos contatos que a nova função gera: "Eu prefiro mostrar primeiro meu trabalho, e depois geralmente a pessoa fica sabendo da minha história. E quando descobrem que fui atleta, inevitavelmente não existe outra coisa a se dizer: ‘Ele foi campeão da São Silvestre’”, finalizou.

*Especial para a Gazeta Esportiva

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