Sono profundo e gritos de "Brasil": como Iser Bem bateu Paul Tergat - Gazeta Esportiva
Sono profundo e gritos de "Brasil": como Iser Bem bateu Paul Tergat

Sono profundo e gritos de "Brasil": como Iser Bem bateu Paul Tergat

Gazeta Esportiva

Por Thiago Tassi*

07/10/2017 às 10:00 • Atualizado: 10/10/2017 às 16:23

São Paulo, SP

Quando cruzou a linha de chegada da 73ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre, em 1997, à frente de Paul Tergat, o brasileiro Émerson Iser Bem não acreditou no feito: afinal, nem mesmo ele cria que fosse possível bater o bicampeão da prova, à época, e maior postulante àquela conquista – mais tarde, o queniano viria a ser pentacampeão da prova.

Aos gritos de “Vai, Brasil” de um público que até então não o conhecia, tinha dificuldades para pronunciar seu sobrenome, mas que sabia de sua nacionalidade e o “empurrou” na reta final do percurso, na Avenida Paulista, o atleta de Santo Antônio do Sudoeste, no interior do Paraná, teve na "fantasia" de representar o seu país o estímulo final para se tornar o único brasileiro a bater Tergat na maior corrida de rua da América Latina, realizada em São Paulo.




“Quando entramos juntos, ali, no finalzinho da [Avenida] Brigadeiro [Luís Antônio], entrando na [Avenida] Paulista, aconteceu uma coisa muito curiosa. Quando o cara começa a se aproximar [da chegada], todo mundo se vira para a rua. E meu sobrenome ninguém conseguia pronunciar, é um sobrenome diferente. À época, eu até era conhecido no meio da corrida, mas para o público geral não. Aí, aconteceu uma coisa fantástica: a galera começou a gritar ‘Brasil’ ao invés do meu nome. E naquele dia eu tinha mentalizado muito, era a minha chance de representar o país, eu criei uma fantasia na minha cabeça que estaria representando o país”, disse o atleta, orgulhoso, apontando para uma foto em que se via a bandeirinha do Brasil que bordou no uniforme.

Horas antes da fama que viria a rechaçar mais para frente, Iser Bem acordou em Piracicaba, no interior de São Paulo, onde residia, naquele 31 de dezembro de 1997, e dirigiu-se com seu próprio automóvel a Cosmópolis, local onde encontraria o restante da equipe. Lá, subiu no carro da Funilense antes de passar para pegar Vanderlei Cordeiro de Lima (sexto na prova) e Eduardo Nascimento (nono), parar para almoçar na Rodovia Anhanguera e vir à capital paulista.

“Como o dono da equipe tinha indústria, ele sempre conseguia para a gente estacionar o carro no subsolo da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo]. A gente entrou, desceu o carro dois subsolos para baixo, e aí deitei do lado do carro, era bem escuro. Eu tinha levado uma calça. Aí eu tirei a calça, dobrei, fiz um travesseiro, peguei uns pedaços de papelão que tinha no porta-malas do carro, forrei o chão e dormi. Eu dormi profundamente. Eu lembro que dormi, assim, de sonhar. Acordei naquela preguiça de quem dorme de tarde”, contou.

Em seguida, o paranaense e seus companheiros receberam seus números de prova e aqueceram para a São Silvestre ali mesmo, na baixa luz do estacionamento do prédio, sem nenhum tipo de glamour ou atenção da imprensa que cobre o evento. Faltando 15 minutos para a largada da elite masculino, os três atletas deram a volta pela Alameda Santos, paralela à Paulista, e pularam as grades de ferro, que servem de contenção, para se juntar aos demais adversários. Na hora que foi saltar, porém, Iser Bem foi surpreendido.

“Quando eu estava pulando a grade, aconteceu uma coisa muito curiosa. Um rapaz colocou a mão no meu braço. Aí eu conversei com ele rapidamente. Era um amigo de infância, lá da minha cidade, que estava morando aqui há alguns anos também. E eu falei para ele: ‘Depois da prova a gente conversa’. Nunca mais, depois da prova não teve como (risos)”, afirmou. Apesar de ficar “inacessível” após a prova, Iser Bem revelou compreensão do velho amigo Valtoir, o qual mantém contato até hoje.

*Especial para a Gazeta Esportiva

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