Do sofá à fama, Geuvânio se blinda e sonha alto: "Dinheiro não é tudo" - Gazeta Esportiva
Do sofá à fama, Geuvânio se blinda e sonha alto: "Dinheiro não é tudo"

Do sofá à fama, Geuvânio se blinda e sonha alto: "Dinheiro não é tudo"

Gazeta Esportiva

Por Ana Paula Canhedo e Tiago Salazar

27/02/2015 às 19:34

São Paulo, SP


Geuvânio tornou real o sonho de milhões de crianças que têm o futebol como uma de suas primeiras paixões na vida. Hoje titular absoluto do Santos, o atacante traçou seu objetivo de vida quando ainda era apenas um torcedor comum, que vibrava com seus ídolos pela TV. “No sofá de casa, descobri que queria ser mesmo jogador profissional”. Agora, pretende alçar voos ainda mais altos, mas não sem antes relembrar cada passo da caminhada que o trouxe até aqui.


O atleta, natural de Ilha das Flores, Sergipe e criado desde os dois anos em São Paulo, driblou a desconfiança da mãe e vingou na Baixada Santista em pouco tempo. “Para mim, foi uma surpresa. Saí do Jabaquara com 16 anos e já estava em um time com essa grandeza”.


Irreverente e carismático, como é de costume, Geuvânio relatou à Gazeta Esportiva, com exclusividade, sua trajetória no futebol, as principais adversidades e os planos para o futuro. Bem humorado, em um raro dia de folga, o ponta de 22 anos recebeu a reportagem na Capital pouco antes de sair para almoçar com sua namorada. “Acho que vamos pegar um cineminha. É difícil a gente conseguir sair assim”, comentou com sua equipe de assessores.


Com dois gols logo na estreia do Peixe no Campeonato Paulista deste ano, o atacante passou a colher desde o início os frutos dos trabalhos realizados durante as férias. “Sabia que não podia voltar abaixo dos meus companheiros, tinha que voltar no mesmo nível ou um pouco acima”. E admitiu estar bastante otimista para a temporada de 2015. “Agora, a alegria voltou ao Santos. Não tem mais motivo de cara fechada, nem nada”.


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O otimismo é justificável após uma temporada recheada de turbulências no time de Vila Belmiro, em 2014. Primeiro, o camisa 45 teve de lidar com a frustação de frequentar o banco de reservas depois de ter sido o grande destaque da equipe no Paulistão. Por vezes, Geuvânio nem mesmo foi relacionado. “A gente fica triste, mas é normal. Faz parte. Nunca abaixei minha cabeça”.


Posteriormente, o elenco alvinegro foi surpreendido com a onda de salários atrasados. O clima ficou pesado e a relação com a diretoria, então comandada por Odílio Rodrigues, praticamente inexistia. “Foi o momento mais difícil no Santos. Conversei com a minha família para não fazer nada precipitado”.


Com vínculo por mais três temporadas, Geuvânio quer fazer de 2015 o seu ano de afirmação no Santos. Para isso, ignorou até a polêmica sobre a venda de 35% de seus direitos econômicos, concretizada pelo ex-presidente Odílio, sem ciência do atleta e seus representantes. “Acho que quem perde com isso, infelizmente, é o Santos”.


O jovem atacante estreou pelo profissional do Peixe em junho de 2012 ao substituir Elano, um dos grandes ídolos da torcida santista e que hoje, ao lado de Robinho, Ricardo Oliveira e Renato, é um dos veteranos do elenco alvinegro. Este último, inclusive, acolheu Geuvânio e o tem ajudado em seu crescimento diário. “A gente até brinca, ele me chama de ‘bebê’ e eu chamo ele de ‘bebezinho’ também”, relatou aos risos.


Ao destacar um momento inesquecível com a camisa do Peixe, logo voltou, não sem um largo sorriso no rosto, ao dia de seu primeiro gol. “Estava fazendo boas jogadas, mas a bola não entrava. Então, finalmente, pude comemorar”. O feito aconteceu dia 1º de fevereiro, contra o Botafogo-SP, em vitória do Alvinegro Praiano por 5 a 1, pelo Campeonato Paulista do ano passado.


Agora, com 16 gols em 65 partidas, o Caveirinha, apelido que recebeu ainda nas categorias de base, sonha alto. “O Robinho fala que vai me levar para a Seleção Brasileira. Ele diz: ‘já levei muitos (jogadores) ruins, como não vou levar você, que é bom?”, revelou, aos risos.


E com a notória boa fase na carreira, chamar a atenção de grandes clubes se torna inevitável. O próprio técnico Enderson Moreira, recentemente, admitiu que Geuvânio tem o perfil procurado pelos europeus. Porém, mesmo com sua valorização e um mercado alternativo cada vez mais forte, como China e mundo árabe, o atacante prima por uma carreira de sucesso em um time tradicional do Velho Continente. “Eu sonho em jogar em algum clube grande da Europa. Dinheiro não é tudo na vida”.


Veja a galeria de imagens da entrevista com o atacante!


Confira a entrevista exclusiva com Geuvânio, na íntegra:


­Início da carreira


Eu sempre joguei na várzea. No sofá de casa, descobri que queria ser mesmo jogador profissional. Falei para minha mãe que eu queria jogar de verdade, queria ser igual os caras da TV. Sempre tive esse sonho comigo, mas ela não acreditava muito (risos).


O Guga, meu amigo, me ajudou a chegar em um time de uns caras, que tinham uns contatos. Hoje, são meus empresários. Fiz uma peneira no Jabaquara, time do Litoral que o Pelé tomava conta na época e tinha uma parceiria com o Paulista de Jundiaí. Eram 100 garotos, ficou eu e mais um. Deu uma semana, voltei para casa e falei para minha mãe que tinha conseguido. Ela começou a chorar, não acreditava.


Meus empresários sempre me ajudaram, com a permissão dos meus pais. Me levavam para tudo quando é lugar. Morei no alojamento (do Jabaquara). Fiquei três anos no Jabaquara. Fui emprestado e fiz testes no Santos. Disputei o Paulista Sub-17 lá, estava me adaptando ainda. Foi um aprendizado no começo, alguns treinos.


Ascensão meteórica


Para mim, foi uma surpresa. Saí do Jabaquara com 16 anos e já estava em um grande time como o Santos. Tudo aconteceu em um momento em que eu estava preparado, até mesmo quando eu subi para o profissional. Tudo no momento certo.


Queda de rendimento


Foi bom ter sido revelação do Paulistão 2014. Prêmio importante. No período que eu fiquei afastado, me preparei fisicamente e psicologicamente. Temos sempre que tirar o lado bom das coisas. Melhorei muito. Estou mais consciente. Tenho certeza que tudo que eu passei valeu à pena. São coisas que acontecem.


Relação com Oswaldo de Oliveira


Na realidade, não tivemos essa conversa (quando sacado do time), mas é como ele sempre dizia, quem estivesse melhor iria jogar. Como eu não estava fazendo o que ele esperava, ele optou por outro. Acontece. Treinador é a autoridade. A gente fica triste, mas é normal. Nunca abaixei minha cabeça.


Troca da camisa 10 pela 45


Ninguém, na época, queria a camisa 10. Então, falaram para dar para o Caveirinha. Eu aceitei, sabia que não iria pesar para mim. Fiz belos jogos com a camisa de número 10, honrei esse número como deve ser.


Não teve nenhum problema com o Gabriel. Conversamos e eu até brinquei com ele: “Aí sim, hein, nego”. Passei um pouco da minha sorte para ele (risos). Nós dois temos consciência que precisamos honrar o manto santista com qualquer número que estejamos nas costas.


Relação com Enderson Moreira


Ele acreditou em mim. Em 2013, teve um jogo lá em Goiás e ele era o treinador. Gostou de me ver jogando com a camisa do Santos. Quando chegou (à Baixada), já sabia do meu potencial. Falou que era para eu ter tranquilidade, que iria me colocar para jogar com o tempo. Sempre me ajudou. Senti confiança nele e voltei ao meu melhor futebol.


Venda dos direitos econômicos


Eu nem sabia direito o que tinha acontecido e nem busquei saber o que era, para mim não muda nada. Acho que quem perde com isso, infelizmente, é o Santos.


Salários atrasados


Tive que fazer muitas coisas. Economizar em várias coisas. Pedi ajuda aos meus empresários, minha família precisava de mim. Foi o momento mais difícil no Santos. Não só eu, mas todos estavam perturbados. Alguns jogadores tomaram decisões difíceis. Conversei com a minha família para não fazer nada precipitado.

Geuvânio não nega que salários atrasados deixou o clima pesado no Santos e foi o pior momento de sua carreira
Geuvânio não nega que salários atrasados deixou o clima pesado no Santos e foi o pior momento de sua carreira - Credito: Fernando Dantas/Gazeta Press
Treino nas férias


Foi ideia minha treinar nesse período. Conversei com o fisioterapeuta do Santos, o Avelino (Buongermino, coordenador de fisioterapia), sabia que não podia voltar abaixo dos meus companheiros, tinha que voltar no mesmo nível ou um pouco acima. Então, ele recomendou que eu treinasse à parte. Busquei um técnico de confiança em São Paulo, meu personal, e ele montou atividades para mim, o Santos sabia de tudo. Fiz trabalhos de fortalecimento na coxa. Assim, cheguei bem na pré-temporada.


Queda em 2014 para ascensão em 2015


(Meu rendimento) Caiu por causa da minha contusão também. E o time todo caiu, foi transparente a queda da equipe. Agora, a alegria voltou ao Santos. Não tem mais motivo de cara fechada nem nada. Estou preparado mentalmente. Chegaram jogadores para ajudar, Ricardo Oliveira, Elano. O Santos tem um bom elenco e a diretoria contratou bem também. O Elano faz um papel importante no meio. Saiu o Arouca e, sim, foi uma perda importante, mas temos peças para repor.


Importância dos veteranos


Sou muito próximo do Renato. A gente até brinca, ele me chama de bebê e eu chamo ele de bebezinho também. Com o Ricardo Oliveira também, uma amizade muito legal. Bem antes de chegar no Santos, já tinha conversado com ele pelo Instagram, estou concentrando com ele, a gente divide o quarto. Estou aprendendo muito com esses caras.


Melhor momento


Foi meu primeiro gol pelo profissional (1º de fevereiro de 2014, contra o Botafogo-SP, pelo Campeonato Paulista, em vitória do Santos por 5 a 1). Não vou esquecer nunca. Estava fazendo boas jogadas, mas a bola não entrava. Então, pude comemorar.


Europa


Eu sonho em jogar em algum clube grande da Europa. Dinheiro não é tudo. Ir para um time ruim, você acaba sendo esquecido. Não quero isso para mim. Quero mostrar meu talento, meu futebol.


Preferência por Liga


A Liga Espanhola é muito boa. A Italiana também.


Seleção Brasileira


O Robinho fala que vai me levar para a Seleção Brasileira. Ele diz: ‘já levei muitos (jogadores) ruins, como não vou levar você, que é bom? Sonho com isso. Vou trabalhar firme para alcançar isso, acho que tenho potencial.


Recado para a torcida


Pode ter esperança. Temos certeza que podemos brigar por título esse ano. Vamos comer grama, raça não vai faltar, força de vontade também não. Queremos colocar o nome do Santos lá em cima.

Em alta no Santos, jovem atacante quer se dedicar ainda mais para, um dia, chegar a um grande clube europeu
Em alta no Santos, jovem atacante quer se dedicar ainda mais para, um dia, chegar a um grande clube europeu - Credito: Fernando Dantas/Gazeta Press


*Especial para a GE.Net

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