Daniel Guedes abdica de noites com o filho antes de chance no Santos - Gazeta Esportiva
Daniel Guedes abdica de noites com o filho antes de chance no Santos

Daniel Guedes abdica de noites com o filho antes de chance no Santos

Gazeta Esportiva

Por Redação

11/11/2018 às 08:00

São Paulo, SP



No minuto 11 do segundo tempo da derrota do Santos por 3 a 2 para o Palmeiras, no último sábado, no Allianz Parque, Daniel Guedes recebeu uma boa notícia. Victor Ferraz levou o terceiro cartão amarelo e a suspensão abriu espaço para nova oportunidade do lateral-direito reserva na partida contra a Chapecoense, segunda-feira, às 20h (de Brasília), no Pacaembu, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro.

O elenco folgou no domingo e segunda-feira posteriores ao clássico, mas Daniel começou ali a preparação antecipada para a chance de ser titular. O Menino da Vila conversou com a sua esposa Leticia e organizou melhores noites de sono para o decorrer da semana livre de treinamentos.

O motivo é nobre: o filho Davi, nascido em setembro. A paternidade mudou a vida do ala para melhor, porém, inspira cuidados na rotina de trabalho - e um sacrifício para a segunda oportunidade de sair jogando sob o comando do técnico Cuca. A primeira foi contra o Bahia, no dia 25 de agosto.

"Como tive tempo para saber que vou jogar, tive tempo para me organizar lá em casa e trazer alguém para dormir e cuidar melhor para que eu possa repousar e me alimentar melhor para nada refletir em campo (contra a Chapecoense)", disse Daniel Guedes, em entrevista à Gazeta Esportiva. 

Em um papo de quase 20 minutos com a reportagem, Daniel Guedes admitiu a queda de rendimento antes de perder a vaga no time para Victor Ferraz, elogiou Cuca (e Jair Ventura) e falou sobre a saudade de Ricardo Oliveira, hoje no Atlético-MG. Veja a entrevista abaixo, na íntegra. 

Gazeta Esportiva - A semana de treinamentos muda ao saber com antecedência que será titular?

Daniel Guedes - Quando o Victor Ferraz tomou cartão amarelo contra o Palmeiras, já fiquei na expectativa pela oportunidade. É muito melhor ter semana inteira para me preparar. Eu prefiro saber antes do que em cima da hora, me pegando de surpresa. Não há problema nenhum, mas prefiro ter mais tempo de preparação.

Gazeta Esportiva - A responsabilidade aumenta com os desfalques do Victor Ferraz, Lucas Veríssimo e Luiz Felipe na defesa?

Daniel Guedes - A gente sabe que alguns jogos não sofremos gols. Foram muitos. E quando tomávamos, fazíamos muitos. Defesa sempre bem postada, guardada e agora aumenta a responsabilidade, mas estou tranquilo para entrar, fazer um bom jogo e se Deus quiser sairemos vitoriosos e sem sofrer gols.

Gazeta Esportiva - Muitos santistas torcem o nariz quando o assunto é Jair Ventura, mas é ele o técnico que mais te deu oportunidades na carreira...

Daniel Guedes - Jair está iniciando agora, teve excelente passagem pelo Botafogo e criou-se essa expectativa para ser o cara que salvaria o problema dos outros clubes. E futebol não é assim, é resultado. Começamos Campeonato Paulista muito bem, perdemos para o Palmeiras nos pênalti, oscilamos no Brasileiro... Cuca é experiente, o contrário. Tem os caminhos e dá certo. Fez nossa equipe crescer. Jair tem futuro muito grande, é indiscutível, é questão de tempo para acertar para dar frutos como Cuca, Dorival e outros experientes começaram. Jair me deu oportunidade porque viu que eu merecia, assim como Cuca viu merecimento no Victor Ferraz. Agradeço por trabalhar com Jair e Cuca porque são sinceros e colocarão quem está melhor. Respeito muito isso.

Gazeta Esportiva - Há muita diferença no dia a dia entre Cuca e Jair?

Daniel Guedes - Não muda muita coisa, futebol está muito igual, informações são iguais. Treinadores vão para fora buscar informações e querem colocar aqui dentro. Conversa é a mesma. Cuca gosta de defender um pouco mais, Jair gostava um pouco mais do ataque. Cuca gosta também, mas não toda hora, um vai e outro volta. Não é mais organizado, Jair também é, mas o trabalho às vezes não dá certo. São dois treinadores fantásticos, temos que desfrutar. Um que começa e será vencedor e outro que já é vencedor.



Gazeta Esportiva - Ser pai é motivo de alegria, mas como é conciliar o dia a dia dos treinamentos com as poucas horas de sono? O Bruno Henrique, por exemplo, já falou em entrevista sobre a dificuldade na rotina de trabalho.

Daniel Guedes - Ser pai é uma sensação única. Maravilhosa. E concordo sobre dormir pouco, rotina muda, passa-se a viver totalmente para o filho. Faço questão de cuidar, se preocupar com cada choro, com cada cólica. Meu filho com um mês teve um pouco de cólica, refluxo, me preocupei em deixar dormir com as mães às noites. Fiquei preocupado com isso, confesso que me prejudicou um pouco porque não estava nos melhores dias para treinar. Como tive tempo para saber que vou jogar, tive tempo para me organizar lá em casa e trazer alguém para dormir e cuidar melhor para que eu possa repousar e me alimentar melhor para nada refletir em campo (contra a Chapecoense). Se não conciliar bem, há o prejuízo dentro de campo.

Gazeta Esportiva - Você é um daqueles Meninos da Vila que deram o certo e permaneceram, enquanto muitos saíram. Você ainda se vê como um menino ou acha que deixou de ser promessa?

Daniel Guedes - Essa coisa de Menino da Vila independe da idade. 30 ou 15 anos. Sempre vai ter. Torcedor sabe quem cresce e vive aqui. Mas não sou um menino, sou homem de responsabilidades, pai, com responsabilidade dentro e fora de campo. Sou Menino da Vila, mas não um menino. Tenho 24 anos.

Gazeta Esportiva - Mas então o torcedor pode te cobrar sem aquele carinho maior por quem é da base?

Daniel Guedes - Às vezes a gente percebe que o torcedor sempre cobra, independentemente de ser Menino da Vila. No meu caso, não precisa ter dó. Gosto disso, é uma alegria ver que todos querem ser Menino da Vila, mas não tenho problema nenhum em ser cobrado. Podem pegar pesado porque quero agradar o torcedor que merece.

Gazeta Esportiva - O seu concorrente agora é o capitão do time. Os conselhos e a convivência com o Victor Ferraz continuam os mesmos?

Daniel Guedes - Da mesma forma que era. Caráter dele continua igual, não deixa subir à cabeça. Sabe que vive excelente momento, mas que tem alguém que busca espaço também. Eu acelero, ele me acelera e Santos ganha. Conselhos são os melhores, eu também falo com ele algumas vezes para tomar cuidado com algum atacante, para ele bater falta... A gente cresce junto e seguimos felizes.

Gazeta Esportiva - A gente percebia o seu carinho pelo Ricardo Oliveira. Como é estar no Santos sem ele?

Daniel Guedes - Ricardo faz falta para mim e para todos. Todos sabem que agregava muito no nosso elenco. Como pessoa, dispensa comentários. Me orientava muito no dia a dia, mas ainda nos falamos muito, quase todos os dias nos falando. Um paizão, um amigo, mas futebol é dinâmico. Nem sempre convivemos com quem amamos. Quem sabe um dia não nos encontramos para reviver o que vivemos aqui.

Gazeta Esportiva - Eu e parte dos santistas vimos uma queda de rendimento quando o Victor Ferraz retorna da luxação no ombro e passa a ser reserva. Você sente que poderia ter feito mais para ter permanecido como titular?

Daniel Guedes: De repente eu senti um pouco isso. Pela primeira vez vi isso acontecendo. E aí fiquei um pouco ansioso, confesso, de manter. Não soube lidar com a situação, mas faz parte do futebol. Sigo buscando meu espaço e para uma próxima oportunidade, saberei lidar melhor para me manter. Não me preocupo muito porque ele vinha treinando bem, vinha numa sequência, senti também o físico, não atuava tanto há muito tempo. Mas sem problema, Ferraz merece tudo que vive e eu espero novamente.

Gazeta Esportiva - Mesmo sem ser titular, você é o líder de assistências do Santos em 2018, com quatro, apenas atrás do Eduardo Sasha, com cinco. Vai chegar nele contra a Chapecoense?

Daniel Guedes - Estou em busca do Sasha para o próximo jogo. Quem sabe? Farei de tudo para participar. Não é prioridade, quero ajudar da melhor forma. Se tiver que chutar bola para o alto 90 minutos eu farei, mas se puder ir para o ataque, vou caprichar para me destacar nisso. Números são bem contestados, e aí eu tendo essa quantidade de jogos e números, vão se lembrar de mim de forma positiva. É bom, vou em busca disso. Se acontecer, ótimo. Se não acontecer, que o coletivo prevaleça.

Gazeta Esportiva - Você recebeu diversas propostas para sair nos últimos anos e sempre disse que ficou por conta do desejo no seu coração. O sentimento ainda é o mesmo para 2019?

Daniel Guedes - Enquanto eu sentir, conversar com a família e vermos que o melhor é ficar, vamos ficar. Enquanto o Santos achar também, claro. Amo o clube, a cidade, estou muito bem estabilizado. Conheci esposa aqui, família dela é aqui, ainda mais com o filho. Ela se sente mais segura aqui. Meu coração está aqui no Santos. E quando não estiver, serei sincero com presidente, treinador e torcedor. Serei sincero porque sempre são comigo. Me sinto muito bem e vou continuar enquanto sentir isso.

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