Em carta de renúncia, presidente fala em traição e vê Lusa dominada - Gazeta Esportiva
Em carta de renúncia, presidente fala em traição e vê Lusa dominada

Em carta de renúncia, presidente fala em traição e vê Lusa dominada

Gazeta Esportiva

Por Redação

30/03/2016 às 14:08

São Paulo, SP

Presidente da Portuguesa se destituiu do cargo nesta quarta por pressões políticas (Foto:Divulgação)
Presidente da Portuguesa se destituiu do cargo nesta quarta por pressões políticas (Foto:Divulgação)


Após um ano na dianteira da gestão da Portuguesa, Jorge Manuel Marques Gonçalves preferiu renunciar ao cargo de forma oficial nesta quarta-feira, um dia após a reunião dos membros do Conselho Deliberativo do Clube. Em alguns parágrafos, Jorge faz agradecimentos e críticas ao quadro político inalterado da Lusa.

“Entendi, finalmente, que jamais seríamos aceitos. Não nos encaixamos nos parâmetros vigentes, em que o sobrenome correto ou determinadas relações pessoais definem seu destino político no clube. Brigamos o quanto pudemos, mas esgotamos nossas forças. A Portuguesa, finalmente, continua dominada pelas mesmas atitudes”, escreveu.

Entre agradecimentos a funcionários e colegas de causa, Jorge Manuel afirmou que, agora, entende a debandada de muitos diretores no tempo recente, deixando a Portuguesa ao léu. Além do presidente, o vice-presidente Manuel Thomé também tomou a decisão de renunciar. Agora, a convocação de eleições e a escolha do novo mandatário fica a cargo do Conselho.

“O mau rendimento dentro de campo criou o cenário desejado por alguns, e a falta de escrúpulos afetou a vida particular de dirigentes reconhecidamente honestos e trabalhadores, vítimas de vandalismo e ameaças. A Portuguesa parece ter donos que, mesmo após apequenarem o clube continuamente, seguem se dedicando a dividir, impossibilitando qualquer tentativa de modernização”, disparou.

Apesar das críticas ao cenário político do clube, que só vem a contribuir com o mau momento vivido em campo – a Lusa luta contra o rebaixamento à terceira divisão do Estadual e já disputa a Série C do Brasileiro -, o agora ex-presidente também veio a valorizar as conquistas que conseguiu em 12 dos 20 meses de mandato cumpridos.

Além de modernizações no departamento de futebol, como a estrutura do CT, quanto no de marketing, que envolveu a remodelação completa do programa de sócio-torcedor, a gestão de Jorge Manuel ampliou a área jurídica do clube e contratou especialistas para amparar o clube em questões trabalhistas, além de reduzir o quadro de funcionários e otimizar os gastos.

Confira, abaixo, a carta de renúncia do presidente da Lusa na íntegra:

São Paulo, 30 de março de 2016

Carta aberta aos torcedores da Portuguesa

Venho, por meio desta carta, comunicar aos funcionários, associados, conselheiros e, especialmente, torcedores da Associação Portuguesa de Desportos, minha renúncia ao cargo de Presidente do Clube.

Tomei esta decisão antes da reunião do Conselho Deliberativo desta terça-feira, e preferi não comparecer à mesma para evitar constranger os diretores que estariam ali presentes.

Estava claro que a forma de convocação para esta reunião, fora dos prazos estatutários e dirigida a poucos conselheiros, tinha o objetivo de direcionar as decisões e precipitar minha saída.

Quando assumi o desafio de presidir a Portuguesa, há um ano, convidei pessoas de minha confiança e de competência comprovada para administrar o Clube. Por sermos um grupo pequeno, unimos forças com outras correntes políticas de forma a criar um planejamento para os 20 meses seguintes.

Traçamos metas para todos departamentos e conseguimos, em 12 meses, avanços significativos em diversas áreas. Estruturamos o departamento de Futebol e especialmente o Centro de Treinamento, que agora tem hotel para concentração dos atletas. Modernizamos o Marketing e as Comunicações, angariando receitas fundamentais e ampliando os canais de contato com o torcedor e com a imprensa, entre eles o programa de sócio-torcedor, que foi totalmente remodelado.

Profissionalizamos a área jurídica e contratamos assessoria especializada para acompanhar as diversas questões trabalhistas e tributárias, o que nos protegeu de repetir erros do passado. Reduzimos e otimizamos o quadro de funcionários, de acordo com as reais necessidades do Clube. Promovemos mais eventos, além daqueles já tradicionais, de modo a movimentar a área social e gerar receita.

Além dessas e de outras medidas, buscamos manter uma relação transparente com nosso torcedor, para resgatar a identificação e o orgulho ferido depois de tantos anos de notícias ruins.

Em alguns momentos, atingimos esse objetivo parcialmente, mas na maioria do tempo encontramos obstáculos enormes. Lutamos contra problemas antigos e atuais, internos e externos, com todas nossas forças.

Tive ao meu lado diretores íntegros e que enfrentaram, junto comigo, a desconfiança e a má vontade de boa parte daqueles que se julgam os grandes homens da Portuguesa. Por outro lado percebi, ainda que tardiamente, as mesmas atitudes traiçoeiras dentro da nossa própria diretoria.

Entendi, finalmente, que jamais seríamos aceitos. Não nos encaixamos nos parâmetros vigentes, em que o sobrenome correto ou determinadas relações pessoais definem seu destino político no Clube. Brigamos o quanto pudemos, mas esgotamos nossas forças. A Portuguesa, infelizmente, continua dominada pelas mesmas atitudes que a levaram a este estágio.

Enquanto nos aproximamos de um momento crucial, em que avançam as negociações para que nosso patrimônio imobiliário seja requalificado, interesses pessoais escusos ressurgem com força.

O mau rendimento dentro de campo criou o cenário desejado por alguns, e a falta de escrúpulos afetou a vida particular de dirigentes reconhecidamente honestos e trabalhadores, vítimas de vandalismo e ameaças. Entre inimigos conhecidos e ocultos, tornou-se impossível manter nosso projeto.

Gostaria de agradecer o apoio vindo dos associados e torcedores, que entenderam nossa mensagem e neste momento, compreensivelmente, estão revoltados e magoados com os resultados da equipe de futebol.

Agradeço principalmente aos funcionários, que mesmo com dificuldades e salários atrasados, e apesar dos homens da Portuguesa, trabalham com dignidade para manter o Clube funcionando. Vi exemplos de entrega e desprendimento que levarei por toda a vida.

Espero que esta decisão pacifique o Clube e que, com a minha saída, aquelas pessoas que não ajudaram, ou mesmo que tentaram colocar obstáculos, se sintam confortáveis para finalmente ajudar – pelo bem da Portuguesa.

Todos conhecem pessoas sérias e competentes que se afastaram do Canindé. Esta passagem pela presidência serviu para compreender melhor o que expulsou e segue a expulsar essas pessoas. A Portuguesa parece ter donos que, mesmo após apequenarem o Clube continuamente nos últimos anos, seguem se dedicando a dividir, rejeitando e inviabilizando qualquer tentativa de modernização e profissionalização.

Espero um dia ver essa Lusa moderna, e tenho certeza que isso só irá acontecer se nossa torcida e nossa coletividade estiverem sempre atentas e vigilantes em relação aos interesses do Clube.

Jorge Manuel Marques Gonçalves
Presidente

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