Pancadaria encerrou primeiro jogo entre Corinthians e Independiente - Gazeta Esportiva
Pancadaria encerrou primeiro jogo entre Corinthians e Independiente

Pancadaria encerrou primeiro jogo entre Corinthians e Independiente

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior

18/04/2018 às 08:42 • Atualizado: 18/04/2018 às 18:35

São Paulo, SP

Sócrates marcou um gol relâmpago no primeiro jogo da história contra o Independiente (foto: acervo/Gazeta Press)


“O Corinthians foi um time macho.” Dessa maneira, o jornal A Gazeta Esportiva de 21 de novembro de 1981 definiu a campanha do campeão do Troféu Feira de Hidalgo. Enviado à cidade de Pachuca, no México, especialmente para acompanhar a competição amistosa, o jornalista João Bosco tinha em mente os episódios do primeiro confronto da história entre o clube brasileiro e o Independiente, da Argentina, ao escolher o adjetivo.

Três dias antes de aquela publicação chegar às bancas de jornal, o Corinthians estreara no quadrangular mexicano com uma vitória por 2 a 1 sobre o Independiente, mesmo adversário que o time dirigido por Fábio Carille terá pela frente na noite desta quarta-feira, em Avellaneda, pela Copa Libertadores da América. À época, quem estava recém-recuperado de lesão era um dos destaques ofensivos da equipe, tal qual ocorre com Jadson atualmente – Sócrates.

O ídolo da Democracia Corinthiana não demorou a mostrar o seu talento. Abriu o placar aos 22 segundos de partida. “Foi o gol mais rápido que fiz até o momento. Esse gol deixou os argentinos um pouco desesperados. Para o Corinthians, foi muito bom, porque, com 1 a 0 no placar logo no início, não se desesperou e teve tranquilidade para estudar o adversário”, comentou Sócrates, naquele 18 de novembro.

Apesar de ter começado a distribuir pontapés já no primeiro tempo, o Independiente conseguiu devolver o empate ao marcador aos 22 minutos, com Alzamende. Pouco depois, porém, Zenon recolocou o Corinthians em vantagem e “fez o jogo descambar para a violência”, nas palavras de Sócrates.

A Gazeta Esportiva deu destaque para a confusão que encerrou o jogo aos 39 minutos do segundo tempo (foto: reprodução)


Na segunda etapa, com o argentino Killer já expulso, o Independiente esquentou ainda mais a partida disputada a 6º C e passou a abusar das jogadas violentas. A última delas foi uma falta de Alzamende em Wladimir, que, caído no gramado, foi chutado por Giuste. Biro-Biro tomou as dores do companheiro e partiu para cima do rival. “Eles apelaram mesmo”, protestou o folclórico meio-campista corintiano. “Mas não tem nada, não.”

Giuste recebeu o cartão vermelho e, quando deixava o gramado, foi insultado pelos jogadores reservas do Corinthians. Iniciou-se uma nova confusão, que o árbitro Fermín Ramírez não conseguiu conter. “Resolveu terminar ali (aos 39 minutos do segundo tempo) a partida. Aos gritos, a plateia (formada por aproximadamente 4.000 torcedores, a maioria mexicanos) apupava o time argentino, dizendo que eles não sabiam perder. O jogo foi televisionado para a capital, e a conduta dos brasileiros foi bastante elogiada pela crítica”, relatou A Gazeta Esportiva.

Recém-chegado, o técnico Mário Travaglini também ficou satisfeito com o seu Corinthians, que, de acordo com ele, “representou com dignidade o futebol brasileiro”. “O mais triste foi a pancadaria dos argentinos. Eles não admitiam a derrota e começaram a apelar para a violência. Mas o Corinthians se preocupou em jogar futebol e não entrou no esquema deles. Isso os deixou ainda mais preocupados e desesperados. O Corinthians foi gigante, mostrou que o futebol do Brasil ainda continua sendo melhor”, orgulhou-se. Três anos antes, a Argentina havia conquistado a sua primeira Copa do Mundo.

Premiados com US$ 150 pela vitória, os jogadores do Corinthians aproveitaram o dia seguinte para comprar roupas de inverno. Naquela estadia no México, também eram aquecidos pelo calor dos torcedores, que passaram a se aglomerar diante da concentração da equipe após a vitória sobre o Independiente. “Amo esse Corinthians. Estou morando no México, mas nunca me divorciei dele”, declarou um dos corintianos.

Após derrotar o Independiente, o Corinthians venceu também o América do México e faturou o título (foto: reprodução)


Na partida posterior, que valeria o título do Troféu Feira de Hidalgo, o Corinthians se sentiu incentivado mesmo contra uma equipe mexicana, o América. “Quando o jogo começou, comentei com o Biro: ‘O Corinthians é realmente uma coisa inexplicável’. Jamais poderíamos imaginar que tantos torcedores fossem presenciar a decisão”, afirmou Sócrates. Biro-Biro referendou: “Parecia até que estávamos no Brasil. Esse apoio prova que o Corinthians é uma religião. Nenhuma distância separa o clube do seu torcedor”.

Com gols de Wágner e Sócrates em uma nova partida acirrada – Zenon e Biro-Biro foram expulsos –, o Corinthians derrotou o América por 2 a 0 em Pachuca e levou ao Parque São Jorge a taça e os US$ 20 mil oferecidos pela competição amistosa. Após aquele evento, o clube reencontraria o Independiente em outras cinco ocasiões, a última delas na Copa Mercosul de 2001. Ao todo, foram três vitórias e três derrotas contra o adversário, com seis gols marcados e sete sofridos.

Para Fábio Carille, que viu o Corinthians ceder às provocações do Racing na última vez em que esteve em Avellaneda, o time de 2018 não precisará ser “macho” como defendia A Gazeta Esportiva de 1981. “Não acredito que a pressão será maior do que contra o Palmeiras (na recente final do Campeonato Paulista), quando trabalhei para que a gente jogasse futebol, chegasse firme e não entrasse em confusão. As determinações são as mesmas”, minimizou o técnico, com a expectativa de repetir a vitória do Corinthians de Mário Travaglini sobre o Independiente.

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