Artilheiro do tri, Luizão converte mãe atleticana e amplia corrente da Fiel - Gazeta Esportiva
Artilheiro do tri, Luizão converte mãe atleticana e amplia corrente da Fiel

Artilheiro do tri, Luizão converte mãe atleticana e amplia corrente da Fiel

Gazeta Esportiva

Por Marco Luiz Netto, especial para a Gazeta Esportiva

29/10/2015 às 08:01

São Paulo, SP

Flamenguista na infância, Luizão virou corintiano e converteu a mãe (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Flamenguista na infância, Luizão virou corintiano e converteu a mãe (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


A admiração pelo ex-ponta Paulo Isidoro em suas duas passagens vitoriosas pelo Atlético-MG entre as décadas de 1970 e 1980 não impediu dona Jesuína Goulart de explodir de alegria com o segundo gol do Corinthians no primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1999, vencida pelo Galo por 3 a 2. O mesmo ocorreu com os dois tentos que deram a vitória aos paulistas no segundo jogo: todos foram anotados por seu filho, Luizão, que, ao brilhar naquela decisão, converteu a mãe em uma fervorosa torcedora do Timão, ainda que, expulso no duelo anterior, ele não tenha participado do 0 a 0 na finalíssima que despachou a taça para a galeria do Parque São Jorge.

“Quando eu não jogava, minha mãe gostava muito do Paulo Isidoro, daquele time fantástico (tricampeão mineiro na década de 1970). Mas depois veio o filho, né? Ela não torce mais pelo Galo, agora é Corinthians. Também, tem o filho, o neto, o pai, tem tudo. Não tem como”, revela o ex-atacante e agora empresário de jogadores, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Se a sua mãe foi “convertida” por sua grande passagem pelo Parque São Jorge, com o pai não foi necessário. Corintiano fanático, Aparecido Goulart, o Cidão, chegou até a fazer a concessão de torcer para o arquirrival Palmeiras durante o período do centroavante por lá (entre 1996 e 1997, com direito a título paulista no primeiro ano), mas sentiu grande alívio e orgulho ao ver o filho defender seu time do coração. Hoje, na residência dos Goulart na cidade de Rubineia, no interior paulista, uma pintura do distintivo do Alvinegro em grandes proporções em uma caixa d’água é unanimidade na família e na comunidade local, tornando-se uma espécie de atração turística.

Como o assunto era esse, Luizão logo conseguiu deixar os compromissos de lado por um momento, mesmo apressado quando recebeu a reportagem em seu escritório na Zona Oeste de São Paulo, para abrir um sorriso ao relembrar a conquista do Brasileirão de 1999. E, apesar das passagens de sucesso pelos rivais Palmeiras e São Paulo, o ex-goleador não escondeu o coração alvinegro e assegurou que está na torcida para ver o Corinthians conquistar a sua terceira liga nacional neste milênio, e a sexta de sua história, em 2015.

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Expulsão forçada com falta em Mancini causou revolta no adversário da final (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)


“Lógico que estou torcendo pelo Corinthians, não tem como negar”, disse. Tal sinceridade do ex-atacante deu o tom da conversa; assim, ele não teve problemas em admitir que, de fato, forçou a expulsão no segundo jogo da final de 1999 após receber o quinto cartão amarelo (naquela época, era esse o número que gerava suspensão automática) e anotar os dois gols dos mandantes no Morumbi. A ideia, incentivada pelo então técnico Oswaldo de Oliveira, era tentar conseguir o efeito suspensivo para jogar a terceira partida decisiva, como fez Edmundo em 1997, pelo Vasco, mas acabou não obtendo sucesso.

Depois de superar o goleiro Velloso, que fazia grande atuação, e anotar o primeiro gol dos donos da casa aos 28 minutos, Luizão recebeu o cartão amarelo que queria evitar por fazer falta dura em Bruno. Desde a saída do gramado ao fim da primeira etapa até atualmente, ele mantém a opinião de que o árbitro Márcio Rezende de Freitas não gosta dele e queria adverti-lo de qualquer maneira para tirá-lo do terceiro jogo. “Mas fui muito burro e tomei o amarelo. Aí, precisei forçar a expulsão”, admitiu.

O centroavante demorou até os acréscimos para tentar ser expulso. “O Oswaldo, todo o mundo no banco, o pessoal me falou: ‘A gente te avisa faltando cinco minutos e você cava a expulsão’. Mas me avisaram quando estava quase acabando o jogo, faltava tipo um minuto. Aí, acabei fazendo aquilo com o Mancini. Primeiro, dei um chute no Adriano, mas ele não caiu, e, aí, fui no Mancini. Mas não foi por mal. É que eu tinha que ser expulso mesmo para tentar jogar a última partida”, relata Luizão, divertindo-se com a história, mas ressentido pela cotovelada no colega.

A agressão vista como necessária pelo ex-centroavante, que garante ter se desculpado com o adversário logo após a partida, foi recebida com indignação pelos atleticanos. Tanto que uma das manchetes da terça-feira, véspera do terceiro jogo, do jornal A Gazeta Esportiva estampou: “Atlético-MG odeia Luizão”. No conteúdo da reportagem, o meia Valdir disparou contra o camisa 9 corintiano: “Sorte dele que o jogo não foi ontem (segunda-feira), porque, se fosse, ele iria apanhar. Foi uma atitude covarde”, disse.

O meio-campista atleticano também falou em “sorte que os ânimos se acalmariam” até a final de quarta-feira, acreditando que o artilheiro do segundo jogo pudesse, de fato, conseguir o efeito suspensivo, entrar em campo e reencontrar os indignados adversários, mas não foi o que aconteceu, para desapontamento de Luizão.

“Eu estava com uma expectativa muito grande de conseguir jogar. Pena que a gente não tinha um Eurico Miranda no Corinthians (risos). Aquilo gerou muita frustração. Assistir ao último jogo da arquibancada, depois de participar de tudo, foi bem complicado. Se eu jogasse, não digo que não seria 0 a 0, mas acho que não teríamos passado tanto sufoco, porque sofremos muito”, comenta, citando o presidente vascaíno, desafeto com o qual trocou farpas ao sair do Alvinegro de São Januário e seguir para o do Parque São Jorge, de 1998 para 1999.



De “gordo” a artilheiro corintiano e destaque da final
Apesar de ter marcado 21 gols naquela campanha e tornar-se o maior artilheiro corintiano em uma edição de Campeonato Brasileiro, marca que perdura até hoje, Luizão revela que enfrentou desconfiança em seu início no Parque São Jorge.

Contratado para comandar o ataque do time que tinha Fernando Baiano como centroavante até então, ele já ostentava no currículo títulos como o Paulistão de 1996 pelo Palmeiras e o da Libertadores de 1998 pelo Vasco, mas foi visto com cautela ao chegar à nova equipe quatro quilos acima do peso. Curiosamente, um quilograma extra para cada gol que marcou em sua estreia com a camisa alvinegra, em vitória de virada por 4 a 2 diante do Gama, na abertura do Brasileirão pelo qual viria a se consagrar.

“Minha estreia foi muito especial porque eu não jogava uma partida oficial havia uns três meses. Lembro que o preparador físico ( Fábio Mahseredjian, em sua primeira passagem pelo clube) me falou: ‘Se não fizer gol; você está gordo, mas, se fizer, você está magro, não tem problema’. Aquilo me encheu mais de confiança, e acho que conquistei o torcedor com uma estreia daquelas. Parecia que eu jogava no Corinthians havia muitos anos”, conta o ex-camisa 9, que teve seus direitos comprados pelo Alvinegro em negociação com o Deportivo La Coruña-ESP por US$ 7 milhões (cerca de R$ 13 mi na cotação da época).

Campeão brasileiro em 1998 e paulista no primeiro semestre do ano seguinte, o poderoso elenco corintiano também foi reforçado por nomes como Dida, João Carlos e Marcos Senna, e, assim, reconhecia-se como favorito ao bicampeonato nacional. Além da confiança, o time que marcou época entre 1998 e 2001 era caracterizado pela personalidade forte de alguns dos seus principais atletas. Para Luizão, à parte dos eventuais atritos como o que havia entre Edílson Capetinha e o colombiano Freddy Rincón, a chave para o sucesso da equipe era tanto o entendimento dentro de campo quanto a alegria que geralmente prevalecia no vestiário.

Centroavante marcou dois gols no segundo jogo e foi o grande destaque corintiano na final (foto: acervo/Gazeta Press)
Centroavante marcou dois gols no segundo jogo e foi o grande destaque corintiano na final (foto: acervo/Gazeta Press)


“O clima no elenco era muito bom, era uma alegria muito grande. Alguns jogadores tinham essa personalidade forte, às vezes não falavam muito um com o outro, mas dentro de campo era o que importava. E isso a gente fazia muito bem. No gramado, todo o mundo se doava um pelo outro, por isso a gente conquistou tudo o que conquistou”, aponta o camisa 9 e artilheiro do tri alvinegro, que também relembrou como os “desafetos” Edílson e Rincón apaziguaram suas diferenças em meio à final do Brasileirão de 1999.

“O Oswaldo conversou com eles, principalmente com o Edílson, e na hora da nossa reza o Edílson pediu a palavra: ‘Não falo muito com o Freddy, mas queria dar um abraço nele para que a gente pudesse mostrar essa força e nosso grupo ser mais unido ainda’. Foi uma coisa muito legal que partiu deles, dos dois. Eram dois líderes daquele grupo.”

Ao superar tais perturbações, a união citada por Luizão, em sua visão, levou aquele time a um emocionante e glorioso desfecho com o título nacional de 1999. Em situação muito mais confortável para consolidar a sua vantagem sobre o Atlético-MG, o time de 2015 se destaca justamente pelo aspecto coletivo e pela disciplina tática implantada por Tite, ponto elogiado pelo ex-centroavante e agora somente torcedor do Corinthians, que vê na solidariedade dentro de campo o fator “que está levando esse time a ser campeão”.

Mas, nesta temporada, com a saída de Guerrero, que deixou o Corinthians em maio após não chegar a um acordo por sua renovação contratual pela sua alta pedida financeira, o Alvinegro ficou sem a figura do artilheiro, ocupada por Luizão no Brasileiro de 1999 com eficiência ainda não igualada na história do clube. O jovem Luciano, de 22 anos, chegou a ter boa fase na função, marcando cinco gols nos seis jogos que disputou na competição nacional, mas rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito durante duelo contra o Santos pela Copa do Brasil e só voltará em 2016.

Assim, quis o destino que a função de goleador corintiano ficasse novamente nos pés de um atleta que se destacou pelo arquirrival Palmeiras antes de seguir para o Parque São Jorge. Vagner Love, ao contrário de Luizão, começou mal com a camisa alvinegra em 2015. O camisa 99, entretanto, tem aproveitado a oportunidade que recebeu para marcar seu nome na história do clube: já balançou as redes 11 vezes neste Brasileirão, oito delas após a contusão de Luciano.

Desfalque, Luizão entrou em campo sem uniforme para comemorar (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)
Desfalque, Luizão entrou em campo sem uniforme para comemorar (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)


“Ele está crescendo no Corinthians no momento certo, quando a equipe precisa dele. Um conselho que eu daria é para continuar se doando. Porque, mesmo quando ele não estava fazendo gol, já se doava bastante. Teve um início bem mais complicado do que o meu, mas está indo bem. Você conhece os grandes jogadores pelos momentos decisivos, e ele está crescendo no momento. Espero que continue assim”, concluiu Luizão, na torcida com a mãe, dona Jesuína, para que, 16 anos depois de sua temporada histórica, um sucessor digno da sua bênção leve o Alvinegro a mais um título nacional.

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