Rogério Micale não aderiu ao coro de “Marta”, criado pelos torcedores para mostrar indignação com Neymar e a Seleção Brasileira de futebol masculino nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O técnico não considera a jogadora eleita cinco vezes a melhor do mundo entre as mulheres melhor do que o atacante do Barcelona, da Espanha – mas, sim, mais experiente.
“O Neymar e Marta são dois talentos do futebol brasileiro. Em relação ao Neymar, ele é um jovem de 24 anos, que não atingiu ainda a maturidade total. Vai atingir. Um jogador chega ao seu ápice como atleta, de forma geral, aos 28 anos. E ele já tem que lidar com a pressão de ser um líder, um expoente, desde os 17, 18 anos”, defendeu Micale, nesta terça-feira, lembrando que o ex-atacante Ronaldo, então com 17 anos, acompanhou a Copa do Mundo de 1994 do banco de reservas.
A pressão sobre Neymar aumentou em função do acúmulo de fracassos da Seleção Brasileira. Com ele lesionado, o país anfitrião da Copa do Mundo de 2014 foi humilhado nas semifinais pela Alemanha, com um histórico 7 a 1. Na Copa América seguinte, o astro se envolveu em confusão contra a Colômbia e ficou fora também do restante daquela pífia campanha. E virou desfalque na edição centenária do torneio continental, realizada neste ano, por não ter sido liberado pelo Barcelona – priorizou a disputa das Olimpíadas –, gozando de férias enquanto o Brasil caía vergonhosamente na fase de grupos. Nos Jogos do Rio, o time só tem empates por 0 a 0, com os inexpressivos África do Sul e Iraque.
Marta, ao contrário, liderou o Brasil nas vitórias tranquilas sobre China, por 3 a 0, e Suécia, por 5 a 1, no Engenhão, onde começou a escutar do público que “é melhor do que Neymar”. “A Marta está com quantos anos, 31?”, contrapôs Rogério Micale. “Ela é uma jogadora sensacional e tem todo o nosso reconhecimento, mas o Neymar também tem o meu reconhecimento como futuro melhor do mundo. Ele vai ser. Só precisamos respeitá-lo porque é jovem. Sei que não age como queremos em alguns momentos. Mas, na idade que ele tem, não faríamos as mesmas coisas, tendo o que ele tem?”, acrescentou.
O argumento do técnico é o mesmo que Neymar utilizou quando foi questionado sobre o seu comprometimento às vésperas de a Seleção Brasileira estrear nas Olimpíadas. Na ocasião, o atacante se irritou sem elevar o tom de voz, mandou que o repórter com quem conversava o encarasse nos olhos e definiu a pergunta como “maldosa”. Deste então, não concede mais entrevistas.
Micale, contudo, colaborou para que o “jovem” Neymar tenha ficado ainda mais em evidência. O técnico o elegeu seu capitão nos Jogos Olímpicos – até mesmo antes do corte por contusão do experiente goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, que aparecia como favorito para ostentar a braçadeira.
“Enquanto ficarmos preocupados com faixas de capitão, comportamentos pessoas e situações de relacionamento, não abrindo a discussão para o que realmente está acontecendo no setor tático, vamos continuar na mesmice. Querer achar culpados é um grande mal”, acusou Micale, que ainda não trouxe uma grande benesse tática ao Brasil, citando o meia Bernard na Copa do Mundo e o lateral direito Rafael nas Olimpíadas de Londres como dois injustiçados por essa caça a vilões.
“A nossa discussão deveria ser mais aprofundada, sobre comportamentos dentro de campo, e não superficial, sobre pontos que não agregam nada a situações de jogo. Há perguntas sensacionais, mas existem algumas que só respondemos por educação. Temos que parar de achar vilões”, pediu o protetor de Neymar.
