Zeferina: dos canaviais ao asfalto da São Silvestre - Gazeta Esportiva
A corrida de Zeferina: dos canaviais de Sertãozinho ao asfalto da Av. Paulista na São Silvestre

A corrida de Zeferina: dos canaviais de Sertãozinho ao asfalto da Av. Paulista na São Silvestre

Gazeta Esportiva

Por Maurício Herschander

01/01/2023 às 06:00

São Paulo, SP

Maria Zeferina Baldaia é mineira, nascida na pequena Nova Módica. Porém, se mudou com sua família para Sertãozinho, no interior paulista. Antes de brilhar como corredora, foi babá, empregada doméstica e boia-fria nos canaviais da cidade paulista, onde costumava correr descalça.

Em uma história de dificuldades e superação, Zeferina se tornou corredora profissional e venceu a São Silvestre em 2001. Aos 50 anos, ela disputou a mesma prova novamente neste sábado, para fechar com chave de ouro sua carreira. Em entrevista à Gazeta Esportiva, a atleta lembrou, emocionada, sobre sua trajetória.

"Foi e está sendo muito emocionante. Estar aqui na São Silvestre novamente depois de 21 anos que eu venci, em 2001, lembrar tudo, cada quilómetro que eu corria vinha uma lembrança no coração e na cabeça, passa um filme. Agradeço por tudo que aconteceu na minha vida. Foi aqui que eu realizei o meu grande sonho, um sonho que eu busquei durante 15 anos. Correndo descalça pelos canaviais de Sertãozinho, trabalhando como boia-fria, babá, empregada doméstica, sempre pensando em um dia estar aqui", contou.

Zeferina lembrou também de sua família e todos que a apoiaram ao longo de mais de 20 anos de carreira. A brasileira destaca o sonho realizado em disputar novamente a São Silvestre para encerrar sua carreira e partir para um novo ciclo em 2023.




"Agradeço à minha família, que é minha base, às pessoas que sempre me ajudaram e incentivaram. Eu tive altos e baixos, mas lutei e joguei para dentro. Com a fé e com o sonho, eu consegui chegar aqui em 2001 e realizá-lo. Hoje eu estou aqui para encerrar minha carreira como profissional. É um ciclo que se fecha para outro começar", continuou.

Sua história emocionante será agora contada também em um filme. A atleta trouxe para a corrida uma equipe para recolher todo o material para a produção, que terá o nome de "Zeferina" e tem data de lançamento prevista para janeiro de 2024. Em 2023, para a gravação da obra, Zeferina fará algumas viagens pelo mundo. Também participará do filme a ex-atleta Rosa Mota, grande maratonista portuguesa campeã olímpica e mundial.

"A Gratitude Films está aqui hoje comigo colhendo todo o material porque eles vão fazer um filme da minha história de vida. 2022 foi um ano maravilhoso, desde o começo até o fim. 2023 será um novo ciclo, trabalhando em cima do filme, viajando. Vou para Portugal filmar com a Rosa Mota, minha inspiração que eu sempre admirei. Vamos também para o Quênia fazer matéria com a Margaret Okai, que correu comigo em 2001. Gratidão por tudo, missão cumprida, valeu a pena", ressaltou Maria, que, mesmo aposentada, não pensa em descansar.




"Descansar, não. O sangue de atleta está na veia. Eu continuo participando das provas como madrinha. Incentivando, motivando crianças, jovens e adultos à pratica esportiva".

A longevidade de Zeferina para correr duas São Silvestres com mais de 20 anos de intervalo custou seu preço. Aos 50 anos, sua forma física já não é mais a mesma, mas, para ela, não faltou vontade. A brasileira se emocionava a cada um dos 15 quilómetros de prova percorridos neste sábado. Em suas palavras, foi uma corrida para agradecer por toda a sua superação ao longo da vida.

"Eu ganhei experiência, é emocionante. Não tem idade para praticar esporte. Me preparei, mas a emoção tomou conta aqui hoje. Você relembrar por onde eu passei, cada quilómetro, a população, o público gritando o meu nome, é muita emoção. Eu corri, chorei, andei, cumprimentei o público. Essa corrida foi para agradecer. Estou muito feliz. Encerrei minha carreira com um sonho realizado, essa é a palavra. Quero deixar uma mensagem para todo mundo: Nunca desista dos seus sonhos, seja ele na vida esportiva ou na vida particular, continue lutando e buscando. Quando se tem fé, o sonho se torna realidade. Eu estou aqui e sou prova viva disso", encerrou Zeferina, emocionada, a sua carreira

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