Orgulhoso por filha, Torben crê em Scheidt contra pressão em 2016 - Gazeta Esportiva
Orgulhoso por filha, Torben crê em Scheidt contra pressão em 2016

Orgulhoso por filha, Torben crê em Scheidt contra pressão em 2016

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon, enviado especial

13/04/2015 às 09:00

São Paulo, SP


Das 17 medalhas do Brasil na vela olímpica, cinco foram conquistadas por Torben Grael. Atual diretor técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela), ele tem orgulho da filha Martine, uma das esperanças do País nos Jogos do Rio de Janeiro 2016, e crê no experiente Robert Scheidt contra a pressão no campeonato.


Em parceria com Kahena Kunze, Martine Grael, então com apenas 23 anos, conquistou o título mundial na 49er FX em 2014. As brasileiras foram premiadas como melhores do mundo na temporada pela Federação Internacional de Vela e atualmente lideram o ranking na classe.


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No Rio de Janeiro 2016, Martine e Kahena enfrentarão intensa cobrança por resultado. A vela, um dos três esportes que mais renderam medalhas ao Brasil na história dos Jogos, é fundamental no plano do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de integrar o top 10 da lista geral (por número de pódios).


Juntos, Robert Scheidt (dois ouros, duas pratas e um bronze) e Torben Grael (dois ouros, uma prata e dois bronzes) ganharam dez das 17 medalhas do Brasil na vela. Para enfrentar a pressão em 2016, o atual diretor técnico confia na vivência do compatriota, de volta à classe Laser. “A experiência dele pode transmitir confiança ao restante da equipe”, afirmou o veterano à Gazeta Esportiva durante o Mundial da classe Soto 40, disputado em Florianópolis.


Gazeta Esportiva – O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) deseja integrar o top 10 do quadro de medalhas nos Jogos do Rio de Janeiro 2016 pelo quesito número de pódios. Você acha que é um objetivo viável?
Torben - É viável, sim. Mas esse é um objetivo do COB. O nosso objetivo é, se possível, manter a tradição da vela de ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos. Se alcançarmos essa meta, já me dou por satisfeito.


Gazeta Esportiva – Nesse contexto, certamente a vela será um dos esportes mais cobrados por medalha em 2016 ao lado de modalidades como judô e vôlei. Você teme que essa situação atrapalhe o desempenho da equipe de alguma maneira? 
Torben – Os Jogos já são extremamente tensos, com muita cobrança o tempo todo. Então, o fato de as pessoas acharem que é normal ganhar medalha não muda muito, mas é claro que se a imprensa ficar martelando demais no período que antecede as Olimpíadas, não vai ser bom, só aumentaria a pressão. A gente precisa resguardar os atletas um pouco. O Robert tem uma grande experiência no sentido de chegar como favorito aos Jogos. Já entrou nessa condição inúmeras vezes e conseguiu ser bem-sucedido. Então, a experiência dele pode transmitir confiança ao restante da equipe.

Torben Grael é diretor técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela)
Torben Grael é diretor técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) - Credito: Divulgação


Gazeta Esportiva – Além do Robert, sempre esperança de medalha, o Brasil tem outras chances de pódio, como sua filha Martine e a Kahena Kunze, o Jorginho Zarif... 
Torben - Nosso objetivo é chegar aos Jogos com o maior número de equipes em condição de disputar medalha. Quando você tem só uma equipe na briga, pode dar tudo certo e ganhar o ouro, mas também pode dar tudo errado e sair de mãos abanando. Com várias equipes na disputa, se não funcionar com uma ou duas, de repente dá certo com outras duas ou três. A probabilidade é maior, esse é o nosso raciocínio. Procuramos apoiar da melhor maneira possível, principalmente aqueles que estão apresentando uma evolução maior. Nesse ciclo, no intuito de fazer uma renovação, apoiamos mais de uma equipe por classe, embora o grupo já tenha vários componentes jovens.


Gazeta Esportiva – Ao lado da Kahena Kunze, a sua filha Martine Grael tem feito sucesso na classe 49er FX. Como pai, como está sendo acompanhar essa evolução dela rumo aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro?
Torben – Tem sido motivo de muito orgulho e satisfação. Elas fizeram um ciclo impecável até o momento. Começaram com bastante dedicação em uma nova classe, bem física e intensa, mas se adaptaram bem. Estão velejando com maturidade, o que culminou com os resultados excelentes do ano passado. Nesse ciclo, temos três classes com título mundial. Além da Martine e da Kahena, contamos com o Robert (Laser) e o Jorginho (Finn). Isso é um excelente indicador, do meu ponto de vista.


Gazeta Esportiva – Juntos, você e seu irmão Lars ganharam sete medalhas olímpicas. Acha que a Martine tem chances de aumentar a coleção da família em 2016?
Torben - É, todo o mundo em teoria vai para brigar por medalha, mas a Martine e a Kahena estão em uma posição excelente e têm velejado com bastante consistência. Quando as coisas não dão muito certo, elas não tiram um resultado ruim. Ficam em quarto, quinto, o que é bom.


Gazeta Esportiva – Com seis Olimpíadas, você, o Hugo Hoyama (tênis de mesa) e o Rodrigo Pessoa (hipismo) são recordistas entre os brasileiros em participações como atleta. Em 2016, o Pessoa provavelmente vai ficar isolado nessa lista... 
Torben - Os esportes olímpicos são diferentes, então é difícil comparar. É impossível um atleta da natação ou dos 100 metros rasos participar de seis Jogos Olímpicos. Já alguém de vela ou hipismo, por exemplo, consegue competir durante mais tempo. Por outro lado, em modalidades como a natação, o cara pode ganhar dez medalhas de ouro na mesma edição.

Kahena Kunze e Martine Grael, filha de Torben, ganharam prêmio de melhores do mundo na temporada 2014
Kahena Kunze e Martine Grael, filha de Torben, ganharam prêmio de melhores do mundo na temporada 2014 - Credito: Divulgação
Gazeta Esportiva – Você está com 54 anos. Nem cogita a possibilidade de disputar mais uma edição dos Jogos Olímpicos? 
Torben - Não, acho que ficou difícil. Primeiramente, porque agora tenho envolvimento em várias outras frentes. Depois, porque a Star, classe que eu me dediquei mais, saiu do programa olímpico. Para participar de outra classe, precisaria fazer todo um trabalho de adaptação e treinamento. A única classe que se presta para o meu biotipo é a Finn, uma das mais físicas do programa olímpico. Para uma pessoa da minha idade, não vale a pena.


Gazeta Esportiva - Falando nisso, qual é a sua opinião sobre a saída da classe Star do programa olímpico em 2016?
Torben – Essas coisas são decididas de maneira muito política, a saída da Star foi uma medida política, e não técnica, infelizmente. Mas agora já passou e precisamos conviver com isso.


Gazeta Esportiva – Com a saída da Star, o experiente Bruno Prada, 43 anos, tricampeão mundial e ganhador de duas medalhas olímpicas, acabou fora dos Jogos, já que na classe Finn o Brasil será representando pelo Jorginho Zarif...
Torben - O Jorginho (22 anos) é um dos casos em que o velejador de mais destaque na classe é bem jovem. Essa renovação é boa para a gente. Temos alguns atletas de muita experiência, como é o caso do Robert (41), da Fernanda Oliveira (34) e do Bimba (34), mesclados a alguns super jovens, como Martine (24), Kahena (24), Jorginho e Patrícia Freitas (25). A renovação e a coexistência dos jovens com os experientes podem ajudar bastante.


Gazeta Esportiva – Depois de ganhar o Mundial em 2013, o Jorginho perdeu terreno em 2014. Essa queda de rendimento estaria associada à interrupção do trabalho com o técnico espanhol Rafael Trujillo, envolvido na regata de volta ao mundo. Ao final da competição, ele voltará a trabalhar no Brasil? 
Torben – Após a regata de volta ao mundo, o Rafael vai voltar a ter contato com o Jorginho, mas não como técnico específico. Ele faz na verdade um trabalho de desenvolvimento de equipamento.


Gazeta Esportiva – A CBVela anunciou os primeiros classificados aos Jogos em dezembro de 2014: Martine Grael e Kahenza Kunze (49er FX), Jorginho Zarif (Finn), Ricardo "Bimba" Winicki e Patrícia Freitas (RS:X). Alguns não gostaram do anúncio com tamanha antecedência... 
Torben – No caso da Finn e da RS:X feminina, tratam-se de atletas que, além de uma supremacia significativa, são jovens. Então, não justifica levar a eliminatória muito adiante para dar uma oportunidade a um jovem que está chegando, porque na verdade eles são esses jovens. No caso da Martine e da Kahena, a outra dupla desistiu da eliminatória. Na RS:X masculina e feminina, não houve vitória de um segundo atleta. Existe uma supremacia bastante grande nessas classes. Nossa ideia foi utilizar os recursos para incentivar jovens promessas também já visando 2020.

Robert Scheidt tem cinco medalhas olímpicas
Robert Scheidt tem cinco medalhas olímpicas - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Gazeta Esportiva – Nas Olimpíadas 2016, como país sede, o Brasil está classificado em todas as classes. A CBVela, orientada por seu Conselho Técnico, do qual você faz parte, resolveu mudar o sistema de classificação aos Jogos por considerar o modelo usado em 2012 excessivamente benéfico aos favoritos. Fale um pouco sobre isso, por favor... 
Torben - Estamos utilizando um sistema subjetivo, empregado por diversos países, principalmente aqueles com os melhores resultados recentes. Temos um problema na vela olímpica brasileira, que é o pequeno número de praticantes em muitas classes. Uma eliminatória com dois barcos não é uma eliminatória normal. Nesse sistema, o risco de o melhor não ganhar é muito grande. Quando a regata tem 20 barcos, é diferente. Por isso, aplicamos um sistema baseado em muita coisa que os outros têm feito com sucesso e avaliamos diversas competições durante dois anos. 


*O repórter viajou a convite da Mitsubishi Motors

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