Irmãos Melo mantêm harmonia por título de Slam e medalha no Rio 2016 - Gazeta Esportiva
Irmãos Melo mantêm harmonia por título de Slam e medalha no Rio 2016

Irmãos Melo mantêm harmonia por título de Slam e medalha no Rio 2016

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon

12/02/2015 às 10:00

São Paulo, SP


Os norte-americanos Mike e Bob Bryan não são os únicos irmãos bem-sucedidos no Circuito de duplas da ATP. Treinado por Daniel Melo, seis anos mais velho, Marcelo Melo é uma das esperanças locais no Aberto do Brasil, disputado nesta semana no Ginásio do Ibirapuera. Em meio à convivência intensa durante a temporada, eles procuram manter a harmonia por um inédito título de Grand Slam e sonham com o pódio olímpico nos Jogos do Rio de Janeiro 2016.


“De maneira geral, a gente se dá muito bem. Tem uns arranca-rabos às vezes, o que é normal”, afirmou Daniel Melo em entrevista à Gazeta Esportiva na véspera da participação de seu irmão caçula nas quartas de final do Aberto do Brasil. Nesta quinta-feira, Marcelo Melo e o austríaco Julian Knowle derrotaram os argentinos Leonardo Mayer e Carlos Berlocq (possível dupla para o confronto entre Brasil e Argentina na Copa Davis) por 2 sets a 0, com parciais de 7/5 e 7/6 (7-3), avançando à semi. 


Como jogador, Daniel Melo alcançou a 151ª colocação do ranking mundial de simples e foi o 79º em duplas. Coincidentemente, em parceria com o italiano Enzo Artoni, venceu a primeira edição do Aberto do Brasil, disputada em 2001 nas quadras duras da Costa do Sauípe. Afetado por uma lesão no joelho, ele encerrou a carreira de forma precoce e, como treinador de Marcelo desde 2007, teve papel fundamental na transição definitiva – e bem-sucedida – do irmão para as duplas.


Ainda na ativa, Daniel participou da conquista do primeiro título da carreira do caçula, a chave de duplas do Challenger de Belo Horizonte 2002. Na função de treinador, viu o irmão alcançar o terceiro lugar do ranking mundial e disputar as decisões de Wimbledon 2013 e do ATP Finals 2014, ambas ao lado do croata Ivan Dodig. Auxiliar do capitão João Zwetsch na Copa Davis, ele ainda disse acreditar nas possibilidades de medalha de Marcelo e Bruno Soares nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.

Campeão da edição de 2001 do Aberto do Brasil, Daniel Melo prepara irmão Marcelo para as quartas de final
Campeão da edição de 2001 do Aberto do Brasil, Daniel Melo prepara irmão Marcelo para as quartas de final - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Gazeta Esportiva – Em parceria com o italiano Enzo Artoni, você conquistou a chave de duplas da primeira edição do Aberto do Brasil, então disputado na Costa do Sauípe, no ano de 2001. Quais as lembranças desse torneio?
Daniel Melo – Guardo boas recordações do Aberto do Brasil 2001, porque é o único título da ATP que ganhei como jogador e foi conquistado aqui no País. Embora tenha voltado a carreira mais às simples, nunca consegui vencer campeonatos expressivos. Então acredito que esse foi o maior momento da minha trajetória, sim.


Gazeta Esportiva – Você encerrou a carreira como tenista ainda jovem. Atualmente, está com 37 anos, três a menos que o próprio Julian Knowle, parceiro do Marcelo aqui em São Paulo. Isso de certa forma é um pouco frustrante ou você é bem resolvido nesse sentido?
Daniel Melo – Eu sou bem tranquilo quanto a isso, porque viajei e competi por bastante tempo. Desde que aprendi a jogar aos oito anos, me dediquei muito ao tênis. Agora, estou vivenciando um outro lado, como treinador.


Gazeta Esportiva – Você foi um dos principais incentivadores na transição definitiva do Marcelo da simples para as duplas...
Daniel Melo - Modéstia à parte, fui, sim, porque via um futuro brilhante para o Marcelo nas duplas pelo modo que ele jogava: a técnica do voleio, a rapidez, o tamanho, o saque. Achava que teria bem mais sucesso em duplas do que em simples. Foi subindo gradativamente, jogando bem com diferentes parceiros, e hoje está em grande fase.


Gazeta Esportiva – Mas você imaginava que ele seria capaz de alcançar o top 10, decidir um Grand Slam e até um ATP Finals?
Daniel Melo - Não, eu não imaginava, mas sabia que tinha potencial para isso. Fomos acreditando aos poucos, na medida em que os resultados começaram a aparecer. Ele conseguiu vários títulos de ATP 250, ganhou terreno com algumas quartas e semis de Grand Slam. Gradualmente, a partir de 2010, passou a alcançar resultados expressivos também nos torneios grandes, principalmente com o Dodig. Estamos acreditando cada vez mais, a dupla tem muito potencial, e uma hora o caneco vai chegar.

Ernane Melo, irmão mais velho de Daniel (foto) e Marcelo, também chegou a jogar tênis profissionalmente
Ernane Melo, irmão mais velho de Daniel (foto) e Marcelo, também chegou a jogar tênis profissionalmente - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Gazeta Esportiva – Aos 31 anos, o Marcelo já tem um vice-campeonato e mais quatro semifinais de Grand Slam. Você sente que o título está perto?
Daniel Melo – É engraçado, porque a dupla virou muito detalhe, até mais do que a simples. Analisando o que aconteceu há pouco na Austrália, tivemos uma grande chance de disputar a final, e não conseguimos por dois pontos. Isso faz parte do tênis. Eu acredito que o título está perto, sim. Eles vêm evoluindo bastante, conseguindo resultados cada vez melhores e mantendo o ranking. Então, é possível.


Gazeta Esportiva – Como todo jogador, seu sonho era conseguir destaque nos torneios grandes. Você também se sente realizado pelos resultados do Marcelo no Circuito?
Daniel Melo - Ah, com certeza. Em simples, eu joguei apenas um ATP. Disputava os qualis dos Grand Slams, mas nunca conseguia entrar. Estar com ele e alcançar esse tipo de resultado nos maiores torneios do mundo é muito gratificante. E também é gostoso trabalhar com o seu irmão e ter sucesso.


Gazeta Esportiva – Como é seu relacionamento com o Marcelo? É sempre harmônico ou às vezes tem discussões típicas de irmãos?
Daniel Melo – De maneira geral, a gente se dá muito bem. De vez em quando, tem uns arranca-rabos, o que é normal entre irmãos. Às vezes, acabo exigindo demais dele e, pela convivência, nos estressamos um pouco, mas não é nada que não possamos relevar, porque já trabalhamos juntos há bastante tempo e confiamos demais um no outro. Sempre acabamos superando.


Gazeta Esportiva – O Marcelo evoluiu significativamente nos últimos anos. Como treinador, você sente que também melhorou e cresceu com a experiência?
Daniel Melo – Foi um grande aprendizado, já que a parte técnica é muito diferente do lado de atleta, principalmente nas duplas. Você demora um pouco a pegar. Acredito que também evoluí, porque já estou viajando com o Marcelo há sete anos e há quatro também atuo como auxiliar na Copa Davis, sempre com bons resultados. Um dos pontos importantes da nossa parceria é que estamos sempre juntos. O técnico precisa estar com o seu jogador para seguir aprimorando permanentemente, nunca pode deixá-lo sozinho.














MARCELO VÊ PARENTESCO COMO VANTAGEM
Sergio Barzaghi/Gazeta Press

No começo, logicamente tinha um pouco mais de atrito, mas hoje sabemos separar bem o lado profissional do familiar. No aspecto tenístico, praticamente não há discussão alguma. No aspecto familiar, às vezes tem um pouquinho. O Daniel vem sendo muito importante na minha carreira. Desde que começamos a trabalhar juntos, ele está sempre procurando os pontos que posso melhorar. É fundamental o técnico saber a maneira de treinar o atleta. Como somos irmãos e nos conhecemos bem, há uma vantagem nesse sentido. Às vezes, não adianta querer empurrar alguma coisa em um dia que o jogador não está bem. Mesmo durante as férias com a família, o assunto tênis acaba surgindo. Não tem jeito. - Marcelo Melo é o atual quarto colocado do ranking mundial de duplistas da ATP




Gazeta Esportiva – Antes de encerrar sua carreira como jogador, você chegou a disputar alguns torneios de dupla com o Marcelo. Vocês ganharam o Challenger de Belo Horizonte 2002, o primeiro título da carreira do seu irmão...
Daniel Melo – Conquistei três títulos de dupla em Belo Horizonte, um deles com o Marcelo. Nessa época, já exigia muito dele, porque nossos perfis eram um pouco diferentes, a maneira de jogar era diferente. Como tinha mais experiência, queria que ele se adequasse à minha forma de atuar. Às vezes, pegava demais no pé. Não deu para seguir com a parceria, porque eu já estava no final da carreira e ele começava a conseguir outros resultados, mas pelo menos ganhamos um título juntos. Foi especial, principalmente por vencer em casa.


Gazeta Esportiva – Vocês também chegaram a disputar duas partidas de simples, vencidas por você...
Daniel Melo - O talento tenístico do Marcelo sempre foi voltado mais para a dupla. Em simples, nunca teve um rendimento bacana. Quando ele começou a jogar simples, eu já tinha algum tempo de estrada. O Marcelo ainda estava tentando se descobrir, procurando uma forma de jogar simples com aquele tamanhão. Então, eu acabava ganhando tranquilamente.


Gazeta Esportiva – Em 2008, em parceria com o André Sá, o Marcelo ganhou o Aberto do Brasil. Depois de tudo que vocês viveram, foi especial vê-lo conquistar o mesmo título que você?
Daniel Melo –
Foi, cara. Muito bacana. Quando comecei a treinar o Marcelo, ele sempre brincava: ‘Você já ganhou esse torneio, estou jogando há um tempo e ainda não ganhei’. Em 2011, ele venceu de novo, e começou a brincar que eu não conseguiria mais alcançá-lo.


Gazeta Esportiva – Nessa semana, o Marcelo disputa o Aberto do Brasil com o austríaco Julian Knowle, 40 anos, ganhador do Aberto dos Estados Unidos 2007. Ambos já foram até campeões juntos em Auckland 2014. O que espera do campeonato aqui em São Paulo?
Daniel Melo - É um torneio bastante duro. O Marcelo gosta de jogar com o Knowle e acredito que possam ter um bom resultado. Os dois são até parecidos na forma de atuar: gostam de volear, de ir para a frente. Além do título na Nova Zelândia, fizeram quartas de final de Wimbledon no ano passado. A química deles é muito bacana.

Com os resultados do irmão nos principais torneios, o ex-tenista Daniel Melo se sente realizado
Com os resultados do irmão nos principais torneios, o ex-tenista Daniel Melo se sente realizado - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Gazeta Esportiva – O parceiro fixo do Marcelo é o croata Ivan Dodig. Como funciona a dinâmica de treinamento com ele, um tenista que se divide entre simples e duplas?
Daniel Melo - Como tenista de simples, ele tem toda a estrutura própria de fisioterapeuta e técnico. Quando vamos jogar duplas, eu assumo e cuido de tudo, dos treinamentos, das táticas e estratégias de jogo. O Dodig é um cara sensacional e estamos nos aproximando cada vez mais durante o ano. Não tenho do que reclamar, é nota 10.


Gazeta Esportiva – Mas o fato de ele se dividir entre simples e duplas acaba atrapalhando um pouco?
Daniel Melo – De um lado ajuda, porque muitas coisas que ele faz em simples acrescentam na dupla: o ritmo, a forma de se aproximar da rede, os golpes. Por outro lado, atrapalha, já que temos menos oportunidades de treinar. Às vezes, se o Dodig disputou uma partida muito longa de simples no dia anterior, precisa dar uma descansada. Não pode focar 100% na dupla. Prejudica um pouco nesse sentido, na parte física e de treinamento. Somos beneficiados quando ele não joga tão bem em simples e pode pensar na dupla no restante torneio. Os Grand Slam são sempre em melhor de cinco sets, às vezes com calor de 35ºC. É difícil, o desgaste é enorme, por isso existem tão poucos jogadores entre os 30 que jogam simples e duplas.


Gazeta Esportiva – Desde 2012, o Marcelo e o Dodig acumulam um título em sete finais. Esse é o ano para vencer mais decisões do que perder?
Daniel Melo - É sempre difícil, porque são os maiores torneios do mundo. Curiosamente, eles não têm um bom retrospecto nos campeonatos menores, os ATP 250 e 500. A dupla vem subindo e espero que consiga ganhar mais alguns canecos em 2015. Por enquanto, só o de Xangai.


Gazeta Esportiva – Um dos vice-campeonatos do Marcelo e do Dodig veio no ATP Finals 2014, contra os irmãos Bryan. Foi o grande momento da parceria com o seu irmão até agora?
Daniel Melo - Eu acredito que sim. A final de Londres foi incrível por toda a superação que envolveu, porque o Dodig ficou três meses sem jogar e eles foram a última dupla a conseguir a vaga. Teve toda a trajetória até a final do torneio e ainda começaram ganhando dos líderes do ranking mundial. Um resultado grandioso e um momento muito especial, marcante mesmo.

Sem Ivan Dodig, seu parceiro habitual, Marcelo Melo disputa o Aberto do Brasil com Julian Knowle
Sem Ivan Dodig, seu parceiro habitual, Marcelo Melo disputa o Aberto do Brasil com Julian Knowle - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Gazeta Esportiva – Além de treinar o Marcelo, você também atua como auxiliar do capitão João Zwetsch na Copa Davis. Qual é exatamente o seu trabalho na equipe brasileira? 
Daniel Melo – Basicamente, eu cuido da nossa dupla, mas também dou uns pitacos na simples quando o João precisa.


Gazeta Esportiva – No começo de março, pela primeira rodada do Grupo Mundial, o Brasil enfrenta a Argentina em Buenos Aires. O que espera dessa série?
Daniel Melo – Espero um confronto bem complicado. Em quadra de saibro, com clima quente e bola muito grande, o que deixa o jogo um pouco mais lento. Na dupla, acaba favorecendo o estilo de jogar dos tenistas de simples, porque eles são mais sólidos de fundo e não sobem tanto na rede. A Argentina conta com excelentes jogadores e uma torcida que motiva bastante.


Gazeta Esportiva – A Argentina tem diferentes alternativas para compor a dupla. Você aposta em alguma formação?
Daniel Melo - Acredito que devem colocar o Berlocq e o Mayer, porque eles vêm atuando juntos e vão disputar esses dois torneios no Brasil como preparação. Os outros argentinos não têm jogado dupla. Isso é só uma possibilidade, já que na Copa Davis pode mudar tudo, dependendo dos resultados de sexta-feira, do desgaste dos jogadores, de possíveis lesões. Mas a princípio penso nesse time.


Gazeta Esportiva – Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro já estão no horizonte. Diante do sucesso do Marcelo e do Bruno com seus respectivos parceiros nas últimas temporadas, acha que a medalha é uma possibilidade real?
Daniel Melo – É claro, ambos vêm conseguindo ótimos resultados e têm a solidez suficiente para permanecer entre os 10 melhores. Isso mostra o alto nível e potencial dos dois. Não estão juntos agora, mas atuaram dois anos como parceiros fixos. Acredito que é possível, se trabalharmos duro.

Treinado pelo irmão Daniel, Marcelo Melo busca o tricampeonato do Aberto do Brasil
Treinado pelo irmão Daniel, Marcelo Melo busca o tricampeonato do Aberto do Brasil - Credito: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Gazeta Esportiva – O fato de você e o Bruno já se conhecerem bem encurta os caminhos...
Daniel Melo – Sem dúvida, porque o Bruno ficou dois anos jogando com o Marcelo e já disputou várias séries pelo Brasil na Copa Davis. Além disso, sempre vejo os jogos dele nas semanas em que estamos juntos no circuito. Tenho um conhecimento profundo dos dois.


Gazeta Esportiva – O Marcelo e o Bruno devem disputar alguns torneios juntos em 2016 como preparação para as Olimpíadas, certo? 
Daniel Melo - Nada foi decidido sobre isso ainda, mas está nos planos. Precisamos conversar para ver quando exatamente vai ser viável, já que cada um tem o seu parceiro fixo, e isso dificulta. O calendário é extenso e contínuo. Às vezes, você joga uma sequência com seu parceiro e fica difícil de quebrar. Precisa planejar bem.


Gazeta Esportiva – Os Jogos Olímpicos serão disputados em quadra dura...
Daniel Melo – O Marcelo e o Bruno já ganharam vários títulos ATP na quadra dura. Até acho que é o piso ideal para eles, prefiro que joguem nesse piso do que no saibro. Acredito que as chances sejam maiores.

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