“O Eduardo Paes não sabe nada do que fala”, critica Torben Grael - Gazeta Esportiva
“O Eduardo Paes não sabe nada do que fala”, critica Torben Grael

“O Eduardo Paes não sabe nada do que fala”, critica Torben Grael

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon, enviado especial

13/04/2015 às 09:00

São Paulo, SP


A poluição da Baía de Guanabara, sede das competições de vela das Olimpíadas 2016, é um dos principais problemas do Rio de Janeiro na preparação para receber o evento. Para Torben Grael, diretor técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela), as declarações do prefeito Eduardo Paes (PMDB) sobre o assunto devem ser desconsideradas.


Paes costuma lembrar que a responsabilidade de limpar a baía é do governo estadual, chefiado por Luiz Fernando Pezão (PMDB). De acordo com o prefeito, no entanto, a poluição não prejudicará a vela nos Jogos, uma vez que o torneio está marcado para uma época de pouca chuva na cidade (agosto), a área de competição fica perto da saída para o mar e barcos podem ser empregados para retirar os resíduos sólidos.


“O Eduardo Paes não sabe nada do que fala”, disse Torben, antes mesmo de ouvir o final da pergunta sobre a posição do prefeito. “Ele não tem conhecimento de causa algum para falar sobre a questão do lixo. Então, não serve como referência”, completou o velejador, ganhador de cinco medalhas olímpicas.


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Torben conversou com a Gazeta Esportiva no último sábado, durante a disputa do Mundial da classe Soto 40, realizado em Florianópolis. No dia seguinte, a reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da prefeitura do Rio de Janeiro, sem sucesso.


Embora acredite que a poluição da Guanabara não prejudicará as competições de vela em 2016, Paes lamenta que a cidade esteja desperdiçando a oportunidade de utilizar os Jogos Olímpicos para limpar definitivamente a região, um de seus cartões postais.

Torben Grael hasteia bandeira do Brasil no Mundial de Soto 40: velejador está preocupado com Baía de Guanabara
Torben Grael hasteia bandeira do Brasil no Mundial de Soto 40: velejador está preocupado com Baía de Guanabara - Credito: Divulgação
O governo do estado do Rio de Janeiro prometeu tratar 80% do esgoto na Baía de Guanabara até o início dos Jogos. De acordo com Torben Grael, que participou de seis edições das Olimpíadas, as condições da área no momento são desanimadoras.


“Não melhorou em nada. Pelo contrário, a situação tem piorado. A população no entorno da Baía de Guanabara vem crescendo e os investimentos são inexpressivos nesse sentido. Então, a situação só tem piorado”, sublinhou o diretor técnico da CBVela.


O Rio de Janeiro tem menos de 500 dias para finalizar a preparação para receber os Jogos Olímpicos, com início previsto para o dia 5 de agosto. O tempo é escasso, mas ainda suficiente para melhorar a situação na Baía de Guanabara, garantiu Torben Grael.


“O Brasil foi indicado para sediar as Olimpíadas em 2009. Passaram seis anos sem que fosse feita uma ação significativa na área. Então, na qualidade da água em si, não vai acontecer nada até os Jogos. Mas em relação ao lixo, muita coisa ainda pode ser feita. Precisa começar ontem. Está tudo muito devagar e a corda no pescoço aperta cada vez mais”, disse.


No último mês de março, o governo do Estado do Rio de Janeiro chegou a anunciar, em caráter de urgência e sem licitação, a contratação do Instituto Rumo Náutico, organização não governamental da família Grael, por um período de 18 meses ao custo de R$ 20 milhões para trabalhar na despoluição da Baía de Guanabara.

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, acredita que a poluição na Baía não será prejudicial aos Jogos
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, acredita que a poluição na Baía não será prejudicial aos Jogos - Credito: Djalma Vassão/Gazeta Press
O projeto foi elaborado sem custos por Axel Grael, irmão mais velho de Lars e Torben e vice-prefeito de Niterói. A organização não governamental da família, no entanto, desistiu da empreitada em função do alto risco institucional envolvido e por discordar do modelo de contratação.


“O projeto que elaboramos é excelente para enfrentar o problema do lixo, mas não é nosso instituto que deve implementá-lo”, disse Torben, presidente da entidade. “O fato de nada ter sido realizado até agora não justifica uma contratação sem licitação e de modo emergencial. Só ficou emergencial justamente porque nada foi feito”, completou.


Uma das modalidades que mais renderam medalhas ao Brasil, com 17, a vela é fundamental nos planos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de integrar o top 10 do quadro em 2016 no quesito número de pódios. Robert Scheidt (Laser), Martine Grael e Kahena Kunze (49er FX) e Jorginho Zarif (Finn) estão entre as esperanças do País.


*O repórter viajou a convite da Mitsubishi Motors

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