Doador e transplantado, “irmãos de sangue” vão disputar juntos a Corrida de São Silvestre - Gazeta Esportiva
Doador e transplantado, “irmãos de sangue” vão disputar juntos a Corrida de São Silvestre

Doador e transplantado, “irmãos de sangue” vão disputar juntos a Corrida de São Silvestre

Gazeta Esportiva

Por José Pais

08/07/2021 às 18:28 • Atualizado: 08/07/2021 às 19:17

São Paulo, SP

O professor de cursinho Carlos Alberto Rezende é um dos muitos participantes já inscritos na 96ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre, que acontece no próximo dia 31 de dezembro. Será a primeira vez que ele correrá a Prova junto com o amigo e seu novo “irmão de sangue”, Eduardo Andrade.



O compromisso é sério e já foi iniciado pela dupla. “Nós já fizemos um Treinão Virtual e estamos combinando de fazer mais dois”, prevê Carlos. Treinão Virtual é a grande novidade da São Silvestre de 2021. A ideia é motivar os corredores em tempos de pandemia, mas sempre seguindo os protocolos de saúde. As distâncias são de 5km, 10km ou 15km e o percurso pode ser feito na esteira ou no local de preferência do atleta.

A participação presencial na São Silvestre, pelas ruas da Capital paulista, será um outro capítulo e terá um significado especial para ambos. “Vai ser a minha estreia em corridas de rua. Eu quero chegar junto com o Carlão, quero fazer bonito. Estou meio assustado, ainda assim acho que vou aguentar o desafio”, acredita Eduardo. “Agora eu tenho o sangue de um jovem de 28 anos circulando pelo meu corpo. Pode ter certeza que vamos cruzar a linha de chegada juntos”, brinca Carlos, que completou 57 anos no mês de junho.

Uma história de vida

Para entender o porquê dessa frase dita pelo Carlos é preciso voltar a 2015. À época, ele foi diagnosticado com aplasia medular severa. A doença leva à falência a medula óssea, tecido responsável pela produção das células do sangue, e pode causar a morte.

“É um choque quando você recebe o diagnóstico. Para que eu permanecesse vivo, os médicos me submeteram a uma série de medicamentos. Em alguns meses eu cheguei a fazer três transfusões de sangue, além de ter tomado 40 comprimidos por dia”, lembra Carlos, que mora em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

O tratamento com remédios não surtiu o efeito esperado e a situação evoluiu negativamente. A necessidade de um transplante era mais do que clara. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, há cerca de 25% de chances de se achar na própria família um doador compatível de medula óssea. Essa compatibilidade, infelizmente, não foi encontrada no caso do Carlos e os médicos dele partiram para o plano B.




“Eu fui inserido no Redome (Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea), em busca de uma possível compatibilidade fora do meu eixo familiar. Hoje, para que isso aconteça, a probabilidade é de 1 em 100 mil”, constata o professor.

Essa chance remota se tornou realidade graças a um gesto simples do Eduardo, à época morador de Curitiba (PR), cidade a 780 quilômetros de Campo Grande.

“Eu doava sangue regularmente no Hospital das Clínicas de Curitiba e, em uma dessas vezes, eu me cadastrei como doador voluntário de medula óssea. Um dia me ligaram e falaram que existia uma possível compatibilidade e que eu precisaria ir até Jaú, no interior de São Paulo. Eu fui até lá, o Redome me deu todo o suporte, fiz os exames e depois me ligaram de novo dizendo que a compatibilidade era de 100%”, conta Dudu, que hoje vive em Rio Azul, no interior do Paraná.

A compatibilidade citada pelo Eduardo era exatamente com o Carlos e o transplante foi um sucesso. O procedimento aconteceu em novembro de 2016 também em Jaú, no hospital Amaral Carvalho.

Saúde com esporte

Livre da doença, o professor resume, emocionado, como tem sido o seu cotidiano nos últimos anos: “Eu luto todos os dias para que as pessoas encontrem o seu Dudu, que um Eduardo apareça na vida das pessoas e possibilite essa sobrevida de qualidade que eu estou podendo ter”.

A cura improvável motivou o Carlos a buscar um outro estilo de vida, mais saudável e voltado para o esporte. Por isso, ainda no hospital, ele resolveu tomar uma atitude.

“Durante o meu transplante, um processo que durou, no total, 120 dias, eu vi um programa de televisão que trazia as Olimpíadas dos Transplantados, em Málaga, na Espanha. E, no leito do hospital, eu disse: ‘eu quero isso’. Quando eu voltei do meu transplante, no final de fevereiro de 2017, eu comecei a praticar esportes, sempre orientado por médicos. Em dezembro de 2017 eu fui para o meu grande desafio: a Corrida Internacional de São Silvestre. Foi um momento inesquecível de superação da minha vida”, celebra o agora atleta amador, que repetiu a dose em 2018.

Há dois anos, ele perdeu o prazo de inscrição da São Silvestre, mas 2019 passou longe de ser um período perdido. O ano marcou o primeiro encontro cara a cara entre o Carlos e o Eduardo, logo na abertura dos Jogos Brasileiros para Transplantados, em Curitiba.

“Hoje eu não consigo mais imaginar a minha vida sem ele, eu amo o Dudu, o nosso tratamento é de irmão. Somos os verdadeiros irmãos de sangue”, define o professor.

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