Em sessão da CPI, organizadas pedem pelo fim da PM nos estádios - Gazeta Esportiva
Em sessão da CPI, organizadas pedem pelo fim da PM nos estádios

Em sessão da CPI, organizadas pedem pelo fim da PM nos estádios

Gazeta Esportiva

Por Theo Chacon, especial para a Gazeta Esportiva

21/10/2015 às 15:53

São Paulo, SP

Em sessão matinal, líderes de organizadas debateram em CPI com Plenário vazio (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Em sessão matinal, líderes de organizadas debateram em CPI com Plenário vazio (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


O Plenário Primeiro de Maio, uma das principais salas da Câmara Municipal de São Paulo, recebeu visitas incomuns na manhã desta quarta. Na primeira vez em que a CPI das torcidas organizadas, que teve início em junho, recebeu membros das maiores torcidas dos clubes que formam o ‘trio de ferro’ paulista (Corinthians, Palmeiras e São Paulo), a oratória formal e cheia de contornos dos vereadores deu lugar a um discurso direto e uma pedida unânime: o fim da Polícia Militar dentro dos estádios de futebol.

Implementada pelo vereador Laércio Benko (PHS), que desde 2013 buscava espaço para discutir o assunto, a CPI das torcidas organizadas tem por objetivo não combatê-las, mas sim inaugurar um espaço de “desabafo”, que parece ter sido bem aproveitado em um primeiro momento. O vereador, que se declarou palmeirense e fanático por futebol em meio à sessão, mostrou-se determinado em contestar o fato de as organizadas servirem de ‘boi de piranha’ para outras canalhices cometidas nos bastidores do futebol.

“Gente para combater as torcidas organizadas já tem bastante. Nossa intenção é acabar com a demagogia, coisa que existe em vários lugares. Ninguém aqui é culpado pelas coisas do futebol. Vocês representam milhões de torcedores e merecem ser ouvidos. Chega de serem tratados como bandidos, podem nos ajudar muito a buscar soluções”, declarou Laércio Benko, aproveitando para incita-los à reflexão. “Quem é bandido aqui: as torcidas organizadas ou os cartolas do futebol?”, completou, dirigindo-se aos membros presentes na sessão.

Guardadas as polêmicas pelas quais ambas já se confrontaram, as personalidades das torcidas Gaviões da Fiel, Mancha Verde e Independente não se mostraram reticentes em protestar contra a conduta violenta da Polícia Militar. O presidente de honra da maior organizada do Palmeiras – a Mancha Verde -, Jânio de Carvalho, questionou, além da violência policial, uma espécie de omissão por parte das autoridades em evitar os confrontos nas vias públicas e organizar o planejamento prévio das partidas.

“Não estou inocentando as torcidas, porque também temos nossos problemas, mas a maior parte da violência nos estádios é causada pela polícia. A Polícia Militar mais atrapalha do que ajuda em um estádio de futebol. Ela vê a torcida organizada como um inimigo, e qualquer coisa que acontece, culpam a torcida organizada”, falou. “Se não fosse a violência, teríamos um número maior de pessoas se associando as nossas instituições, o que seria benéfico para o clube, porque transformaríamos eles em potenciais torcedores e consumidores”, prosseguiu.

“Não há boa vontade em acabar com a violência. Porque aí o promotor não se candidata a deputado, a mídia não vende jornal sem o sensacionalismo do sangue. Quem se beneficia com o fim da violência são as torcidas, então não interessa ela acabar. Uma morte promove todos eles, uma confusão evitada não promove ninguém, não dá tempo de televisão para ninguém”, protestou.

Admitindo uma boa relação com as torcidas rivais, Rodrigo Fonseca, presidente da Gaviões da Fiel, disse não conhecer uma causa específica para a violência entre as torcidas. Tentando mudar um pouco o foco, e até argumentando que a imprensa mal chega a mostrar as iniciativas sociais promovidas pelas torcidas, como campanhas do agasalho e de doação de sangue, o principal mandatário da Fiel negou qualquer esquema para organizar brigas pela internet, como vem sendo investigado pelo Ministério Público.

“Essa questão de marcar briga jamais partiria da liderança da torcida”, garantiu Rodrigo, aproveitando para cobrar a PM de providências legais. “Do mesmo jeito que o jornal identifica o autor de um delito, a polícia também pode fazer. Porque a polícia não vai lá e prende o indivíduo? Mas não, é mais fácil jogar nas costas da torcida. Eu nunca identifiquei um sócio meu marcando briga pela internet, e se isso acontecesse, a cobrança seria interna”, questionou.

Rodrigo Fonseca, presidente da Gaviões, criticou posição da imprensa na cobertura da questão da violência (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Presidente da Gaviões criticou a posição da imprensa na cobertura da questão da violência (Foto:Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


Um dos sócios fundadores da Independente, torcida organizada do Tricolor paulista, propôs, inclusive, que as reuniões da CPI aconteçam de maneira permanente, para que seja possível a formação de uma ‘força-tarefa’ na tentativa de discutir a fundo as questões, já que o tempo limite de uma hora para a sessão impediu uma conversa mais prolongada. Diante do curto tempo, o presidente da CPI, que também responde pela Comissão de Direitos Humanos, até convidou os membros da torcida para um papo mais alongado.

“Porque não juntar as torcidas organizadas, o Ministério Público, as policiais militar e civil, e a imprensa, para montar uma força-tarefa em que todos estivessem num rumo só. Concordo que, dentro do estádio, um trabalho bem feito entre clube, Federação, torcidas e segurança privada poderia dar certo. A formação do Choque é de confronto, não tem meio termo”, disse. “Queremos mudar o foco, fazer aquela festa dos anos 80. A imprensa também tem que mostrar o outro lado da moeda, a omissão dos órgãos nos campeonatos”, falou Danilo Zamboni, dizendo acreditar, a médio prazo, até em torcida mista na capital paulista.

Na tentativa de humanizar os torcedores organizados para discutir a melhor forma de conciliar o espetáculo e as demandas da torcida, seja por ingressos, melhores condições de infraestrutura ou tratamento, a CPI do futebol terá sua próxima sessão no dia 4 de novembro, novamente na Câmara Municipal. De acordo com o presidente, é possível que presidentes de clubes e federações compareçam aos próximos encontros para discutirem as questões pertinentes à relação entre as organizadas e as instituições do futebol.

Após passar os primeiros meses ouvindo promotores, vereadores, delegados e policiais, sob o comando de Conte Lopes, que substituiu Laércio na presidência no início da CPI, as reuniões na Câmara devem alterar o foco para as torcidas e os clubes, abrindo mão do parecer oficial das autoridades, que já tiveram sua vez em um primeiro momento. Dentro da "cadeia de acontecimentos" que suscitam a violência, o presidente da CPI pretende investigar todas as ligações que mantém a questão da violência como algo intocável e que concerne ao poder público.

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