Bia Haddad relata caminho de superação após suspensão por doping - Gazeta Esportiva
Bia Haddad relata caminho de superação após suspensão por doping

Bia Haddad relata caminho de superação após suspensão por doping

Gazeta Esportiva

Por * Celso Ardengh, especial para a Gazeta Esportiva

27/03/2020 às 16:26 • Atualizado: 28/03/2020 às 17:43

São Paulo, SP

Beatriz Haddad Maia, ou simplesmente Bia Haddad, nasceu para encantar os amantes de tênis. Apesar de ter praticado diversas modalidades durante sua infância, o da bola amarela sempre foi o que mais se identificava e destacava.

Em uma entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, Bia contou sua trajetória e explicou com detalhes o período em que esteve afastada das quadras, após se envolver em um caso de doping por contaminação cruzada.

Com apenas 23 anos, Bia Haddad tem grande influência no cenário do tênis brasileiro (Foto: Glyn Kirk/AFP)


"Comecei a jogar por conta da minha mãe e tia. Elas sempre deram aula em colégio, então acabava minha aula e eu ia jogar com elas. Além disso, minhas primas, primos e avós jogam até hoje. Sempre tive esse contato dentro de casa”, comentou.

Quase 10 anos depois, a tenista ex-número 1 do Brasil tem plena consciência de que acertou em deixar São Paulo, cidade onde nasceu, para treinar na academia de Larri Passos.

"São Paulo não tinha a base que eu precisava e, por conta disso, aos 14 anos decidi ir para Balneário Cambriú. A partir de então, comecei uma vida mais independente. Caminhava sozinha até o colégio e, em seguida, para a academia Larri Passos, onde estavam os melhores do Brasil. Apesar de estar longe dos meus amigos e família, sabia que teria que lidar com esse momento. Nunca me arrependi de nada porque estava saindo da minha zona de conforto para ir atrás do meu sonho”, lembrou, acrescentando sobre outro momento que considera um divisor de águas na sua carreira.

“Outro episódio muito importante foi quando joguei a primeira vez em um WTA fora do país. Lá, eu realmente vi como era o circuito e entendi um pouco como tudo funcionava. Lá é cada um por si. Lembro das competidoras olharem com uma cara de: quem é essa gigante?”, completou.

Em julho de 2019, Bia recebeu uma suspensão preventiva pelo suposto uso de anabólicos do tipo SARM, um Modulador seletivo de receptor de androgênio. Sete meses depois, a Federação Internacional de Tênis (ITF) anunciou que a brasileira ficaria 10 meses afastada das quadras.

“Com certeza, foi o momento mais difícil da minha vida. Nós, atletas, tomamos sempre os maiores cuidados do mundo. Não uso a mesma toalha de rosto, não tomo da garrafa de ninguém e jamais aceitei remédio de outra pessoa. Tem muitas coisas que envolvem o doping que a gente não sabe e, quando você entra em uma contaminação, que nem foi por sua culpa - cruzada-, é algo que escapa totalmente do meu controle. Chegou um momento que era só esperar a punição. Além das noites mal dormidas, é um momento em que as pessoas te olham diferente”, contou.




Como o prazo definido pela ITF é retroativo, faltam pouco menos de dois meses para Bia estar liberada para voltar a atuar profissionalmente.

“Aos poucos eu fui tentando me ocupar. Dias e semanas foram passando, e, aos poucos, tudo foi ficando mais tranquilo. Consegui entrar em uma rotina diferente, rotina de pessoas que não são atletas. Tentei focar ao máximo em coisas que não fazia na minha rotina de atleta e, quando eu vi, já tinha passado quase todo o meu período de punição. Passou muito rápido, na verdade. Sempre fui muito positiva. Claro que vem a tristeza de você não poder fazer o que gosta, mas acho que qualquer pessoa se sentiria assim. Minha família têm uma cabeça muito boa e me preencheram nesse momento. Quando me acostumei com a rotina, parecia que estava vivendo um filme. Isso porque, quando as pessoas vinham falar comigo, parecia que elas tinham muito dó, mas não tinha o que fazer”, explicou.

Questionada a respeito das lições que depreendeu desse período de afastamento, Bia revelou uma falha no sistema do órgão responsável por punir os atletas que se envolvem com doping, a Agência Mundial Antidoping.

"A experiência que eu tive mudou a minha visão sobre o doping. Muitas vezes a gente julga uma história sem saber o que realmente aconteceu. Em um estudo, que meu bioquímico me passou, é comprovado que: uma grande porcentagem dos casos de doping não é por pessoas que realmente queriam se dopar. Ou seja, são acidentes. As pessoas que de fato querem tirar vantagem do doping estão muito à frente da WADA (Agência Mundial Antidoping). Muitas pessoas próximas de mim, com certeza, mudaram o ponto de vista sobre esse assunto também. Porque senti isso na pele”, destacou, acrescentando a respeito de alguns episódios perturbadores.

“Por mais que eu tentasse me blindar, sou uma pessoa pública. Já aconteceu de pessoas mandarem mensagem nas redes sociais com emojis de agulha, pílula e afins. Por mais que eu saiba que essa pessoa não me conhece e não sabe da história, é muito chato. Para resumir esse momento: é como se você tivesse que escrever em um papel o que você mais gosta de fazer e o seu trabalho. E, no meu caso, me tiraram isso. Fiquei de mãos atadas, sem qualquer controle de uma situação que não era minha culpa", concluiu.

Sempre com muito apreço pela família, Bia fez questão de destacar a importância de todos durante os sete meses que esteve afastada.

"Durante esse processo, meus avós foram muito importantes. Na verdade, toda a minha família me ajudou muito. Vai ficar muita coisa se for falar deles nome por nome (risos). Por fim, o Thiago (Monteiro), meu namorado, também foi um cara que me ajudou muito. Às vezes a gente se encontrava, e ele sempre respeitou quando não queria falar sobre tênis".

Apesar de já ter conquistado muito em sua tão curta e brilhante carreira, a tenista de apenas 23 anos está focada em entrar para a seleta lista de atletas brasileiros que venceram o torneio de Wimbledon.

"Meu maior sonho é jogar o máximo que puder, ter uma carreira saudável. Quero ter uma maratona de jogos sem lesões. Além disso, tenho o sonho de ganhar o Wimbledon, que é o meu Grand Slam favorito. Eu realmente já sonhei com isso (risos). Foi em Wimbledon que ganhei minha primeira rodada de simples em Grand Slam, então seria muito especial. Acho que se você perguntar para todo mundo do circuito, a grande maioria vai falar que é o melhor torneio do mundo. Lá tem alguma coisa diferente", finalizou.

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