No Danubio, ex-palmeirense avisa São Paulo: "Aqui, bater é normal" - Gazeta Esportiva
No Danubio, ex-palmeirense avisa São Paulo: "Aqui, bater é normal"

No Danubio, ex-palmeirense avisa São Paulo: "Aqui, bater é normal"

Gazeta Esportiva

Por Tossiro Neto

15/04/2015 às 09:36

São Paulo, SP



Chamado de Julio César em quase uma década de divisões de base e time B do Palmeiras, Julio Santana, como o conhecem agora (ou desde o início do ano, quando se transferiu para o futebol uruguaio), é o único brasileiro entre os jogadores inscritos pelo Danubio na Copa Libertadores. O volante não enfrentará o São Paulo às 22 horas (de Brasília) desta quarta-feira, em Montevidéu, mas avisa os compatriotas: por lá, vão encontrar um time, qualquer que seja a escalação, disposto a equilibrar o jogo – e não será na técnica.


"Todos sabem que há uma diferença muito grande de qualidade, de tudo, entre os clubes da chave. Então, "vamos tentar, vamos bater". Essa é a mentalidade deles. "Se não dá na qualidade, vai no pau". Mas, infelizmente, não deu nem no pau nos últimos jogos", conta o paulistano de 22 anos, lamentando as quatro derrotas da equipe em quatro partidas do "grupo da morte", composto ainda por Corinthians e o campeão da edição passada, o argentino San Lorenzo.


Bater não significa exatamente esmurrar o adversário, mas, no mínimo, disputar bolas com virilidade acima do comum para quem, na base, inspirou-se no ex-são-paulino Hernanes para trabalhar a bola com os dois pés. "Aqui, bater é normal", diz, com naturalidade, também para justificar o fato de ainda não ter feito sua estreia com a camisa 28. "No Uruguai, o futebol é pesado. É muito forte. Muita marcação, muita correria, batem muito. Para jogar aqui, tem que arrancar a cabeça de um. Não sou muito assim, está sendo difícil para mim. Eles falam que eu tenho qualidade, mas que me queriam com essa mentalidade uruguaia. Mas é difícil".


"Tive treinadores no Palmeiras que, quando a gente dava carrinho, gritavam e pediam para jogar em pé. Aqui, eles ensinam a dar carrinho, a ir para o choque. É totalmente diferente. Temos jogadores de qualidade, mas eles têm muito essa coisa de marcar, de correr. Acho que, assim, esquecem um pouco de jogar. Porque eles têm qualidade. Não tem nenhum bobo, são todos jogadores bons", explica Santana, preocupado em realçar o ângulo positivo de sua crítica.

Julio Santana era Julio César na base e no time B do Palmeiras, mas passou a ser chamado por seu outro sobrenome
Julio Santana era Julio César na base e no time B do Palmeiras, mas passou a ser chamado por seu outro sobrenome - Credito: Divulgação
Até o momento, a equipe treinada por Leonardo Ramos é a sexta com mais cartões amarelos recebidos no torneio sul-americano: 13, quatro a menos do que o peruano Sporting Cristal, líder no quesito. Vermelhos foram dois, o primeiro deles justamente em duelo contra o São Paulo, no Morumbi, ocasião em que os dois times cometeram ao todo 44 faltas, e Hamilton Pereira foi expulso depois de discutir com a arbitragem, no segundo tempo do revés por 4 a 0.


NEM SÓ DE "PAU" VIVE O TIME URUGUAIO


Vice-líder do Clausura, com a mesma pontuação do Peñarol, o qual venceu no fim de semana, o campeão uruguaio de 2014 não está eliminado da Libertadores, é bom frisar. Mas, para avançar às oitavas de final, tem que, além de alcançar os mesmos seis pontos de São Paulo (atual segundo colocado) e San Lorenzo, torcer para que ambos sejam derrotados também pelo líder Corinthians e terminem com menor saldo de gols. A meta menos distante, contudo, é outra: despedir-se antes do mata-mata com ao menos uma vitória em sua sétima participação na Libertadores – o que poderia ser decisivo para os dois principais postulantes à vaga.


"Estamos muito motivados, porque não queremos sair da Copa sem pontuar. Seria a pior atuação do Danubio na história. Não queremos ficar marcados por isso. Queremos pelo menos pontuar, ganhar um jogo. Temos que fazer algum ponto de qualquer jeito", observa o ex-palmeirense, que se recupera de entorse no tornozelo esquerdo e irá ao Estádio Luis Franzini mesmo sem ter sido relacionado. Sua esperança é de finalmente ser convocado na última rodada, para o confronto com o San Lorenzo, em Buenos Aires. "Vim para cá tendo como maior objetivo a Libertadores. Só de ter sido inscrito já me deixou muito contente. Jogar, então, seria realizar um sonho".


TREINADOR BOLEIRO E MÚSICA BRASILEIRA NO VESTIÁRIO


Embora não tenha tido oportunidade com Leonardo Ramos, o brasileiro gosta do chefe. "Nossa relação é boa, converso com ele. Ele já foi jogador, então tem relação boa com todos, é bem brincalhão. Gosta de ficar na resenha, zoa com todos depois do treino", diz. Revelado pelo Progreso, com o qual foi campeão uruguaio de 1989, o ex-meio-campista está acostumado a surpreender estando do lado do clube de menor expressão. Para isso, tenta ter todos seus atletas próximos.


Além das "resenhas" diárias com seus comandados, o técnico de 45 anos gosta de desafiá-los. "Ele nos chama para bater falta, para fazer disputa de quem acerta mais o travessão. Gosta muito de competir", revela Santana. Pelas apostas ganhas, Ramos guarda em sua casa uma coleção de garrafas de uísque e fernet, principalmente. "Ele é gente boa, só não me deu oportunidade na Libertadores", ri.

Volante brasileiro disputou amistosos na pré-temporada, porém ainda não estreou em jogos oficiais do Danubio
Volante brasileiro disputou amistosos na pré-temporada, porém ainda não estreou em jogos oficiais do Danubio - Credito: Divulgação
Sem oportunidade em campo, o volante troca conhecimentos fora dele com os companheiros. Enquanto evolui no aprendizado do idioma espanhol – antes apenas mediano, mesmo tendo passado mais de um ano na Espanha, período de uma tentativa frustrada de jogar pelo Recreativo Huelva, assim que o Palmeiras pôs fim ao time B, em 2013 –, ensina um pouco de português, com ajuda do compatriota Jadson Vieira (zagueiro veterano que nem foi inscrito na Libertadores por conta de lesão), principalmente através de músicas brasileiras.


"Eu me dou bem com todos. Não teve rejeição por eu ser brasileiro. Alguns deles já jogaram no Brasil, falam português e gostam muito de música brasileira. Principalmente funk e pagode. No vestiário, a gente tem uma caixa de som enorme que sempre está tocando algo. Gosto de sertanejo, só que eles nunca escutam. Ouvem Turma do Pagode e alguns funks mais pesados", diverte-se, ao lembrar o quanto os colegas curtem algumas (impublicáveis) batidas.

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