Perícia oficial da Polícia Civil não consegue identificar o que Rafael Ramos disse a Edenilson - Gazeta Esportiva
Perícia oficial da Polícia Civil não consegue identificar o que Rafael Ramos disse a Edenilson

Perícia oficial da Polícia Civil não consegue identificar o que Rafael Ramos disse a Edenilson

Gazeta Esportiva

Por Marina Bufon

08/06/2022 às 15:40 • Atualizado: 08/06/2022 às 15:43

São Paulo, SP

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que investiga uma suposta injúria racial cometida pelo jogador Rafael Ramos, do Corinthians, contra Edenilson, do Internacional, divulgou que não foi possível identificar o que foi dito pelo jogador alvinegro ao colorado na noite do dia 14 de maio, em jogo realizado no Beira-Rio.

O laudo da leitura labial solicitado pelo órgão tem 40 páginas e foi enviado nesta quarta-feira pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, responsável pelo caso.

"Por essas razões, é impróprio que a perícia criminal oficial do Estado afirme, com responsabilidade do ponto de vista processual e científico, o que foi proferido pelo jogador na cena questionada", diz nota enviada pelo IGP (veja na íntegra abaixo).

Segundo Daniel Bialski, advogado do jogador Rafael Ramos, espera-se um arquivamento do caso. "O resultado foi que os peritos não podem afirmar que o Rafael tenha feito qualquer tipo de comentário de cunho racista, o que só reforça o que a defesa a todo momento vem afirmando, que ele não fez esse tipo de afirmação. O outro jogador acabou entendendo algo que, na verdade, nunca aconteceu. O que a defesa espera com tudo isso é o arquivamento do inquérito policial como consequência lógica da inexistência de elementos para dar continuidade a esse expediente", explicou.

Antes, o Corinthians havia contratado duas perícias para compor a defesa de seu jogador. A primeira, datada de 20 de maio, teve laudo elaborado pelo Centro de Perícias de Curitiba.

O documento afirmou que o português Rafael Ramos não havia cometido o crime de injúria racial e foi assinado por Anderson Marcondes Santana Júnior, Daniela Cristina Silva Lima Ramos Guidugli e Giovana Giroto, pessoas que possuem deficiência auditiva bilateral de grau severo a profundo desde a infância.

A segunda perícia, realizada por uma equipe especializada forense e divulgada nesta sexta, também foi pelo mesmo caminho, reafirmando o laudo anterior. As palavras ditas teriam sido "F..., mano, c..." e não "F..., macaco", que foi o alegado por Edenilson. Ambos os jogadores já prestaram depoimento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.




Confira a íntegra da nota divulgada pelo IGP:

O Instituto-Geral de Perícias remeteu hoje à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre o Laudo Pericial sobre o pedido de perícia de leitura labial acerca dos fatos ocorridos em jogo no Estádio Beira Rio em 14 de maio.

Quatro vídeos foram enviados para análise. Um deles foi selecionado, por apresentar maior extensão da cena questionada e melhor qualidade de sinal. As imagens foram tratadas com softwares de melhoramento e apresentaram qualidade suficiente para análise. Da cena questionada, foram extraídos 41 frames.

Não sendo possível identificar os movimentos realizados na porção interna da cavidade oral do jogador de camiseta branca, é tecnicamente inviável localizar todos os vestígios que definem a sequência de consoantes e vogais emitidas. A maior parte dos gestos que compõem a fala ocorrem justamente no ambiente intraoral ou em outras porções internas, como a faringe e a laringe. Nem em vídeos com excelente qualidade de imagem é possível obter as informações do que se passa na parte não visível do aparelho fonador.

Sobre o pedido de exame pericial de leitura labial, ressalta-se que não foi encontrada metodologia científica, aplicada à análise forense de vídeos, que sustente esse tipo de trabalho. Existem apenas publicações sobre percepção visual da fala e aprendizagem de leitura labial. Além disso, o registro enviado não possui o som das falas que interessavam à investigação, tornando impossível a perícia de áudio.

Por essas razões, é impróprio que a perícia criminal oficial do Estado afirme, com responsabilidade do ponto de vista processual e científico, o que foi proferido pelo jogador na cena questionada. O Laudo afirma que “sem que haja o respectivo sinal sonoro para realização de adequada análise percepto-auditiva e acústica, é conceitualmente inviável a definição confiável e inequívoca da pauta sonora proferida por um indivíduo a partir, exclusivamente, das informações relativas aos gestos articulatórios componentes que sejam exteriormente visíveis (como os de lábios e mandíbula)”. O documento afirma ainda que “resultados advindos da tentativa de mapeamento do que teria sido enunciado por um locutor questionado em uma imagem sem o áudio de fala associado (e consequente sinal acústico) seriam meramente exploratórios, representando muito mais conjecturas em torno de possibilidades anatomofuncionais do que evidências materiais per se”.

O Laudo Pericial possui 40 páginas e é assinado por dois peritos criminais da Seção de Áudio e Imagens do Departamento de Criminalística do IGP.

Entenda o caso


O Internacional recebeu o Corinthians no dia 14 de maio, no Beira-Rio, em partida válida pela sexta rodada do Brasileirão. Na ocasião, durante uma disputa de bola, Edenilson alegou ter ouvido a palavra "macaco" proferida pelo atleta português Rafael Ramos.

O meia colorado abriu um boletim de ocorrência relatando o fato, e Rafael acabou preso em flagrante pela Polícia dentro do estádio pelo crime de injúria racial. O clube paulista pagou a fiança de R$ 10 mil e ele foi solto para responder em liberdade.

Rafael Ramos falou que tudo não passou de um mal-entendido e foi até o vestiário do Internacional para falar com Edenilson. O meia, por outro lado, reafirmou, mais tarde, que ouviu a palavra "macaco". Diante disso, o Corinthians contratou duas perícias.

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