Basílio se entristece com racismo e vê Cristóvão no clube certo para vingar - Gazeta Esportiva
Basílio se entristece com racismo e vê Cristóvão no clube certo para vingar

Basílio se entristece com racismo e vê Cristóvão no clube certo para vingar

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior e Tomás Rosolino

12/07/2016 às 08:49 • Atualizado: 12/07/2016 às 10:08

São Paulo, SP

Basílio, assim como Cristóvão Borges, sofreu com o racismo enquanto treinador (fotos: acervo/Gazeta Press e Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians)
Basílio, assim como Cristóvão, sofreu com o racismo enquanto treinador (fotos: Gazeta Press e Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians)


Basílio conhece bem o técnico que substituiu Tite no comando do Corinthians. O autor daquele que é considerado o gol mais importante da história alvinegra, marcado na final do Campeonato Paulista de 1977, iniciava ele mesmo a sua trajetória como treinador quando Cristóvão Borges passou pelo clube como atleta, entre 1986 e 1987.

“Trabalhei com ele, sim. Eu era auxiliar do Corinthians!”, exclamou Basílio, assim que atendeu o telefonema da Gazeta Esportiva. O ex-jogador atuou como treinador interino em algumas ocasiões até 1989, quando foi efetivado no cargo que assumiria novamente em 1992.

Segundo Basílio, que ainda dirigiu Botafogo-SP, Portuguesa Santista, Nacional e Juventus antes de desistir de seguir a atividade de Cristóvão Borges, o racismo esteve presente em toda a sua carreira como técnico. “Preferi manter o meu trabalho na época, mas você realmente enfrenta algumas situações”, afirmou, evitando entrar em detalhes. “Acho melhor não lembrar porque são coisas que só me trazem tristezas. Eu vivo de alegrias.”

Negro como Basílio, Cristóvão Borges já declarou que os críticos costumam ser menos tolerantes com o seu trabalho e mais agressivos nas contestações por causa da cor de pele. Nos tempos de Flamengo, por exemplo, ofendeu-se por escutar que o clube carioca preteriu Oswaldo de Oliveira para o lugar de Vanderlei Luxemburgo “para escolher o do Pelourinho”.

“Concordo plenamente com o Cristóvão. Você não acha um técnico negro no Brasil que consiga evoluir”, lamentou Basílio. “Que isso fique somente com aquelas pessoas que sempre traduzem esses pensamentos retrógrados. Estamos vivendo outros tempos. O maior exemplo são os Estados Unidos, que têm um presidente negro, o Barack Obama”, citou.




Para Basílio, o Corinthians também pode dar exemplo. O ídolo se apegou às raízes do time preto e branco para vislumbrar o sucesso de Cristóvão Borges, que chegou com o estigma de jamais ter sido campeão como treinador – antes de passar pelo Flamengo, foi promovido à vaga de Ricardo Gomes no Vasco e comandou Bahia e Fluminense; depois, dirigiu o Atlético-PR.

“Corinthians é povão, raça, transmissão de ideias, de culturas, entendeu? Para nós, que conhecemos o que é ser corintiano, nunca existiu racismo. Corinthians é luta, dedicação!”, bradou Basílio.

Apesar do discurso inflamado do herói de 1977, até mesmo um comandado de Cristóvão já foi alvo de racismo no Corinthians. O centroavante André recebeu uma série de insultos preconceituosos em redes sociais depois que desperdiçou um pênalti contra o uruguaio Nacional, na eliminação da equipe na Copa Libertadores da América.

Sem pensar nos casos que o entristecem, Basílio mantém a sua fé em Cristóvão e no Corinthians. O auxiliar do time na década de 1980 fez questão de conversar com o treinador antes das vitórias sobre Flamengo e Chapecoense, pelo Campeonato Brasileiro. Na última dessas oportunidades, pediu que o amigo autografasse uma camisa retrô, fabricada em homenagem ao time de 1977, para presentear o seu neto.




“A mãe dele trabalha na Gaviões da Fiel, e ele lembrou que eu tinha dito que fui auxiliar quando o Cristóvão jogou no Corinthians. Aí, eu estava com essa camisa retrô, em tamanho pequeno, e peguei um autógrafo do Cristóvão para dar para ele. Nossa, o menino ficou muito feliz”, contou Basílio.

A camisa vestida por Cristóvão enquanto jogador e aquela que ele recebeu em sua apresentação como técnico do Corinthians levam nas costas o mesmo número 8 dos tempos de glória de Basílio. Como meio-campista, o “Bom Baiano”, como fora apelidado, disputou 58 jogos como corintiano e fez 13 gols, o mais lembrado deles na primeira semifinal do Campeonato Paulista de 1986, sobre o rival Palmeiras, que avançaria à decisão.

“O Cristóvão era um jogador de personalidade, tranquilo, técnico e muito culto. Tinha certa liderança. Naquela época, a gente já conseguia notar características de um treinador. É um cara que está sempre ligado”, elogiou Basílio. “Lembro que fomos fazer um jogo contra o Vasco, e ele foi chutado porque tinha sido jogador do Fluminense. Mas o Bom Baiano manteve o equilíbrio de sempre e saiu de lá com o resultado positivo”, acrescentou.

De volta ao Corinthians, Cristóvão já acumula quatro vitórias e somente uma derrota, campanha que levou a sua equipe à ponta da tabela de classificação do Brasileiro e foi capaz de abrandar a desconfiança de quem não o julgava pronto para herdar a vaga de Tite.

O sucessor de Tite vestia o mesmo número de Basílio nos tempos de atleta do Corinthians (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
O sucessor de Tite vestia o mesmo número de Basílio nos tempos de atleta do Corinthians (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


“Muita gente duvidou da capacidade do Cristóvão, fez comentários sem nem sequer conhecê-lo. E ele já está dando uma pequena resposta agora, mas ainda dará uma resposta muito maior. Que ele cumpra o que está destinado a fazer pelo Corinthians”, desejou Basílio.

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