A torcida avaiana elegeu Geninho como o grande responsável pelo retorno à elite do futebol brasileiro. A campanha do Leão da Ilha não foi das mais tranquilas, mas suficiente para render o acesso na última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. Após altos e baixos na temporada, o treinador azurra garante em conversa com a GazetaEsportiva.Net que não se sente idolatrado, mas revela certo júbilo com o reconhecimento.
“Claro que fico satisfeito de ter tido, da torcida e da imprensa, o reconhecimento de que meu trabalho foi importante. Mas não fiz nada sozinho. Eu chego e planejo, mas a execução não é minha”, discursa Geninho, colocando-se como uma das engrenagens que renderam o acesso. “Cada um teve sua participação, mas não vou esconder que fiquei satisfeito, e qualquer profissional fica quando você tem o teu trabalho reconhecido como bom”, admite.
O técnico assumiu o Avaí em junho deste ano, estreando com vitória sobre o Atlético-GO na 11ª rodada da Série B. Foram 48 pontos conquistados a partir de então, com 57,1% de aproveitamento no período. Mas o caminho até a vaga na elite nacional teve seus percalços, como a sequência de seis partidas sem vitória na reta final. A inconstância preocupa Geninho, que pede maior regularidade nas próximas campanhas.
“Peguei o Avaí no fundo da tabela. A equipe teve uma ascensão muito grande, mas depois também teve uma queda bastante acentuada. E aí nas três últimas rodadas retomou os bons resultados. Mas isso não é bom. O bom é manter uma regularidade”, reconhece o treinador, que tentará aplicar o aprendizado de dois acessos seguidos à própria Série A em 2015.
Repetindo no Avaí o feito alcançado com o Sport no ano passado, Geninho renovou seu contrato para permanecer na Ressacada por mais doze meses. Planejando a próxima temporada, ele explica que o objetivo principal no ano que vem é manter o Leão na elite. “Isso é fundamental. Não pode subir em um ano e cair no outro, porque é um desastre para o clube”, avalia.
“Mas se fizermos uma boa campanha essa manutenção é tranquila. Não podemos entrar no campeonato pensando apenas em permanência, porque é um erro”, avisa, sem almejar título ou vaga na Copa Libertadores, mas vendo a Sul-Americana como alcançável. “Assim é possível alcançar dois objetivos: ficar na Série A e ao mesmo tempo fazer uma boa campanha.”
Mesmo em clubes tão diferentes, histórica e estruturalmente, como Sport e Avaí, o trabalho de Geninho foi concluído ambas as vezes com o acesso à Série A. Os trabalhos aumentam seu prestígio com times que não estão do eixo Rio-São Paulo, mas a continuidade da boa fase pode render algo ainda maior. Com passagens por vários grandes clubes e mais de 30 anos de carreira, o treinador não descarta um possível retorno aos grandes polos do futebol brasileiro.
“A partir do que eu já fiz e do que venho fazendo, se de repente houver um convite, claro que ficaria satisfeito. Estou trabalhando porque acho que ainda posso dar alguma coisa para os clubes. Então é claro que, se vier o convite de uma equipe maior, como profissional eu ficaria muito satisfeito”, admite Geninho, que sagrou-se campeão nacional pelo Atlético-PR, em 2001, e levou o Goiás ao terceiro lugar do Brasileirão quatro anos depois.
Geninho ainda especifica as diferenças entre a primeira e a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, detalha as ambições avaianas para 2015 e divide os méritos, tanto com os comandados quanto com os superiores, pelo retorno do Leão à elite do futebol nacional.
GazetaEsportiva.Net - O que você aprendeu na Série B nesses dois anos? Quanto deste conhecimento pode ser usado na Série A?
Geninho - São campeonatos um pouco diferentes na maneira na qual são disputados. O tipo de futebol que se joga é um pouco diferente. Na segunda divisão disputa-se um campeonato mais competitivo. Na primeira divisão soma-se a competitividade com o espetáculo, (as equipes) às vezes se preocupam em jogar bem e dar espetáculo para conseguir o resultado, mas muitas vezes isso não acontece.
GE.Net - Na Série B não?
Geninho - Na Série B é diferente, você tem que jogar para somar pontos. Mesmo porque o regulamento permite que quatro equipes subam, então não é preciso necessariamente ser campeão, mas tem que ficar entre os quatro. Então você tem que jogar para somar pontos e todos os jogos são de vital importância, tem que começar o campeonato já somando pontos. E às vezes é preciso abrir mão de jogar bonito pelo resultado. O que eu aprendi muito na Série A me ajudou na Série B e algumas coisas que aprendi na B é claro que pode-se aplicar na A. O aprendizado é sempre muito importante.
GE.Net - O maior objetivo para a próxima temporada é a manutenção do Avaí na elite?
Geninho - Se fizermos uma boa campanha, essa manutenção é tranquila. Então não podemos entrar no campeonato pensando apenas em permanência, porque é um erro. Se entrarmos pensando nisso, corremos um risco muito grande de cair. Tem que entrar pensando em fazer um bom campeonato, em brigar do meio para cima.
Claro que é complicado dizer ‘nós vamos disputar título, Libertadores’, mas podemos brigar pela Sul-Americana e estaremos longe do fundo. Assim é possível alcançar dois objetivos: ficar na Série A e ao mesmo tempo fazer uma boa campanha.
GE.Net - Quais são as diferenças entre chegar ao Avaí no meio da temporada e começar um trabalho do início?
Geninho - É ruim pegar o trabalho pelo meio, porque você tem que trabalhar com um grupo que não foi montado por você e não vai ter aquela preparação. No Avaí acabou sendo bom porque cheguei na época da Copa do Mundo. Não tinha o meu grupo, mas consegui trabalhar com esse grupo e assim tivemos aquele crescimento.
Não é bom pegar um elenco já formado em um campeonato em andamento. É mais difícil de trabalhar. Mas muitas vezes acontece, dentro da rotatividade do futebol brasileiro. Como o treinador é muito descartável em qualquer situação, isso acontece.
GE.Net - Como foi o acolhimento no Avaí? Você se sente idolatrado pelo acesso, ainda que com poucos meses de casa?
Geninho - Não, não. O que sinto é que tive o trabalho reconhecido. Tive uma boa participação, mas não fui o único responsável. Fui uma das peças que acabaram levando o Avaí a conseguir isso. Claro que o torcedor escolhe ídolos, e isso é próprio do torcedor: escolher um ou dois jogadores. É mais difícil escolher um técnico e, quando isso acontece, é uma exceção à regra.
Fico satisfeito de ter tido, da torcida e da imprensa, o reconhecimento de que meu trabalho foi importante. Mas não fiz nada sozinho. Eu chego, planejo e trabalho, mas a execução não é minha. Consegui passar para o grupo um projeto que eles acabaram executando bem, então foi uma divisão de méritos.