Conheça o fenômeno que afastou Simone Biles dos Jogos de Tóquio
Por AFP
29/07/2021 às 07:25
São Paulo, SP
Na tarde de terça-feira (27), quando Simone Biles, para surpresa de todos, decidiu deixar a competição por equipes, ela explicou que não queria "arriscar se machucar, ou fazer algo estúpido, ao participar dessa competição".
Ao abordar sua "saúde mental", a ginasta falou dos "twisties", fenômeno conhecido no mundo da ginástica, que também pode afetar os jogadores de golfe ("yips"). De repente, o corpo do atleta não responde mais a ele mesmo, e suas referências desaparecem. Uma espécie de desconexão que leva à desorientação.
Quando a equipe americana entra no Centro de Ginástica Ariake na tarde de terça-feira para a competição geral, começa com o salto.
"Não sabia onde estava"
É a vez de Biles, e todos pensam apenas em uma coisa: ela vai fazer uma nova acrobacia, um salto duplo carpado para trás que tentou nos treinos? Se ela fizer isso nos Jogos, será o quinto movimento com seu nome, o que tornaria sua lenda ainda maior.
Mas não. Em vez disso, ela dá um salto "Amanar", movimento muito difícil com dois giros e meio, mas um dos giros desaparece.
"Não entendi o que aconteceu. Não sabia onde estava no ar, poderia ter me machucado", descreveu em sua coletiva de imprensa. Ela é, então, interrompida pelas meninas da equipe: "Tivemos um pequeno ataque do coração, vendo o que estava acontecendo!".
A infalível Simone Biles, superdotada da ginástica, que sobe a três metros do solo graças a um salto excepcional, é mais de acrescentar um giro do que de tirar um.
"Voltar a aprender"
Este fenômeno de perda de controle do corpo e da noção de espaço é "complexo", explica um técnico francês à AFP, e é difícil de resolver. Pode ser "reforçado pela pressão". A ginasta vítima desse fenômeno é "absorvida pelo medo de se perder" e, posteriormente, de se ferir gravemente.
Nestas últimas horas, várias ginastas contaram nas redes sociais terem sofrido "twisties". Pode ser mais ou menos intenso e levar um certo tempo para ser superado.
"Eu tenho 'twisties' desde os 11 anos de idade. Não posso imaginar como deve ser assustador, se acontecer durante uma competição", contou a ginasta americana Aleah Finnegan.
"Você não tem nenhum controle sobre seu corpo e sobre o que ele faz", relata, acrescentando que é "difícil explicar para alguém que não faz ginástica".
A ginasta suíça Giulia Steingruber, especialista em saltos, que participa da final da competição geral na tarde desta quinta-feira em Tóquio, também relatou que teve um "bloqueio mental" semelhante em 2014.
"Fiquei com muito medo" e "não conseguia superar isso", conta a atleta, em um documentário. "Teve que reaprender tudo aos poucos", diz seu treinador.
Pressão, estresse e ansiedade podem favorecer o surgimento desses "twisties". Simone Biles, que conquistou cinco medalhas olímpicas no Rio, falou da pressão que sofre há meses, o ano do confinamento, o adiamento dos Jogos, fatores que a abalaram muito no início.
No entanto, "Simone tem um equilíbrio incrível no ar", havia dito Aime Boorman, sua treinadora de longa data, à mãe de Simone quando ela tinha apenas seis anos.
"Você sabe exatamente onde está no ar quando faz um giro e instintivamente sabe como cair sobre seus pés para fazer a aterrissagem corretamente. É algo que um treinador não pode ensinar", disse a ela.