Léo de Deus abriu mão de nadar final em que Brasil levou ouro e recorde
Por Tiago Salazar
21/12/2018 às 07:00
São Paulo, SP
Na véspera da seletiva do revezamento 4x200 livre, o time brasileiro tinha Luiz Altamir, Fernando Scheffer e Breno Correia confirmados. Léo de Deus e Leonardo Santos eram os únicos que não tinham os 200 metros livre como suas especialidades, mas o primeiro, mais experiente, seria utilizado na prova valendo medalha, enquanto Santos participaria da seletiva, horas antes.
“Só tinha garoto novo e eu ali, um pouco mais de experiência. A gente sabia que tinha condições de buscar uma medalha nesse revezamento, até porque a gente já vinha falando, a gente tem três atletas que são especialistas na prova de 200 livre, e eu e o Léo Santos, que nadamos outras provas. A gente estava de coringa”, explicou Léo de Deus, em seu retorno ao Brasil.
“Eu disse que não estava me sentindo bem naquela competição: ‘acho que o Léo Santos vai ser melhor para o Brasil à tarde. Eu nado de manhã’”, revelou o atleta da UniSanta sua conversa com a comissão técnica.
A estratégia deu mais que certo. Léo de Deus ajudou o Brasil a se garantir entre os oito finalistas. Depois, curtiu das arquibancadas uma prova histórica, com direito a medalha de ouro e recorde mundial com um quarteto de jovens promessas de 19 a 23 anos apenas.
“Eu tenho duas Olimpíadas, nunca gostei de nadar de manhã, mas, pela primeira vez eu vi a importância de que um atleta coadjuvante pode fazer para o time. Pela primeira vez eu falei ‘não tenho que olhar o meu resultado, tenho que olhar para o time’”, explicou, sem negar que sua posição não foi das mais confortáveis no ambiente íntimo.
“Para mim foi bem pesado. Tive de abrir mão da vaga, porque a gente sabia que o Léo poderia fazer algo naquele momento. Hoje, com meus 27 anos, tudo que a gente já viveu no esporte... Talvez, em 2012 eu falasse ‘não’. Eu ia nadar a final, pelo menos se tivesse bronze eu estaria lá no pódio. Talvez, não fosse isso a gente não estaria com o ouro e o recorde mundial. Foi uma decisão acertada”.
Por ter participado do revezamento na fase de classificação, Léo de Deus também recebeu sua medalha de ouro e sua parte da premiação em dinheiro. “Nunca foi tão fácil”, brincou.
O ato ganhou notoriedade entre os companheiros, mas agora, Léo de Deus quer focar em seus objetivos pessoais. Para começar, a meta é igualar o feito de uma das lendas na natação brasileira.
“Hoje o único tricampeão é o Xuxa, o Fernando Scherer, na prova dos 50 livre. Então ele é o único tricampeão da natação, da história da natação em pan-americanos. Eu estou buscando essa meta de ser o tricampeão dos 200 borboleta. Eu ganhei em Guadalajara em 2011, em Toronto em 2015, com recorde, e agora em Lima a gente vai buscar esse tricampeonato”, avisou.
O objetivo principal, porém, são os Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, em 2020, ano em que Léo de Deus terá 29 anos.
“Lá no Pan-Pacífico fiz a 8ª melhor marca do mundo nos 200 borboleta. São 51 centésimos que estão me distanciando hoje de uma medalha olímpica. A gente não sabe o que vai acontecer, mas melhorei ano passado, nadei para 1min54s89, foi uma melhora que fiquei muito feliz. Vou buscar 1min54s baixo. Está na hora, já tenho duas Olimpíadas”, explicou.
O sonho do pódio olímpico está bastante vivo na mente de Léo de Deus, e é a palavra de um ginasta que mantém essa chama acesa, apesar das dificuldades.
“O Diego Hypólito falou para mim: ‘Em 2008 eu caí de bunda, em 2012 eu caí de cara, mas em 2016 eu caí de pé e fui medalha de prata. Vai buscar sua medalha em Tóquio’. Ele falou isso para mim e ficou marcado”, contou o nadador da UniSanta.