“A grande prova de cyclismo da Gazeta está empolgando pela sua originalidade e pelo seu ineditismo. Nunca ainda, em nosso Estado e mesmo no Brasil, uma prova de esporte do pedal despertou tanto enthusiasmo e interesse como a prova Nove de Julho.”
Foi assim que, no dia 10 de julho de 1933, o jornal A Gazeta noticiou as expectativas para a primeira Prova Ciclística Nove de Julho, criada pelo jornalista Cásper Líbero para homenagear a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.
Curiosamente, a versão inicial da disputa ciclística não foi realizada precisamente no dia que a nomeia, e sim uma semana depois. Promovendo o evento, A Gazeta noticiou que a previsão era de 400 participantes na competição, sendo 101 deles “avulsos”, não filiados a nenhum clube.
Após a corrida, o tradicional jornal manchetou: “José Ricardo Magnani, vencedor da Prova 9 de Julho.” O atleta, representando o clube Brasil E.C, venceu a primeira edição da disputa com tempo de 1h06min. Além de relatar todo o andamento da disputa, a publicação fazia questão de ressaltar a perfeição na organização da prova, o entusiasmo gerado com a competição, o desempenho dos Magnani - já que José Ricardo correu com seu irmão Antonio, que chegou em segundo - e, por fim, a forte chuva que caía em São Paulo à ocasião.
A largada foi dada em plena Avenida Paulista, com os participantes rumando a Santo Amaro. Durante o percurso, passagem de ida pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, onde José Ricardo Magnani e Santo Bergamo puxaram o pelotão e vários ciclistas na parte de trás caíram, atrapalhando a disputa dos demais.
Em Moema, a chuva passou a ser um “temporal terrível”, atrapalhando até mesmo Antonio Magnani, que levou “formidável tombo”. Entretanto, a distância dos irmãos Magnani do resto do pelotão colaborou para que o ciclista não sofresse grandes prejuízos com o fato, mantendo-se à frente dos outros competidores.
Já no percurso de volta, a tempestade apertou ainda mais na subida da Luís Antônio. Os irmãos Magnani “lutaram” nessa parte, permanecendo distantes dos demais. Na linha de chegada, cinco mil pessoas acompanharam de perto a vitória de José Ricardo, completamente enlameado, seguido de Antonio na segunda colocação. Foi assim o “batismo” da 9 de Julho.
Contrariando a expectativa inicial da Gazeta, 223 ciclistas disputaram a prova, número menor do que o previsto pelo jornal. O motivo foi justamente a forte chuva que marcou a primeira edição da prova ciclística. Ao total, 186 participantes cruzaram a linha de chegada.
Depois de receber uma “belíssima” coroa de louros de Hilda Nair Bisconscini, filha do também ciclista Eduardo Bisconscini, José Ricardo Magnani expressou sua felicidade com a vitória e agradeceu ao jornal pela organização da prova.
"Vim trazer, em meu nome e no do mano Antonio Magnani, segundo colocado, um abraço sincero de felicitações à ‘Gazeta’, pelo sensacional êxito da grande prova, a maior do Brasil! Nunca se viu, em nossa terra, uma competição no gênero que alcançasse o que a de ontem alcançou: entusiasmo formidável, interesse e público enorme", afirmou, antes de completar.
"Organização perfeitíssima, sem uma falha o serviço de controle e de juízes, ótimo trabalho de policiamento, tudo, enfim, mostrou ser ‘A Gazeta’ o pulso forte propulsor dos esportes em São Paulo! Nunca assistimos a uma prova assim", destacou o atleta.
Primeiro colocado da primeira edição da 9 de Julho, José Ricardo Magnani, falecido em julho de 1966, também se destacou como maior vencedor da prova ao total: três títulos (1933, 1934 e 1940), junto de Rolando Montesi (1937, 1938 e 1947), Ailton Souza (1982, 1985 e 1988) e Wanderley Magalhães (1989, 1990 e 1991).
Além disso, Magnani participou, junto de Dertônio Ferrer e Hermógenes Netto, da comissão brasileira que fez parte, pela primeira vez, da modalidade do ciclismo em Jogos Olímpicos. Sem dúvida, um vencedor histórico para uma prova igualmente histórica.
Confira os 10 primeiros colocados da 1ª Edição da Prova Ciclística 9 de Julho:
1º - José Ricardo Magnani, Brasil E.C: 1h06min08s
2º - Antonio Magnani, Brasil E.C: 1h06min11s
3º - Amelio Sarti, Brasil E.C: 1h08min56s
4º - Santo Bergamo, C. Cyclistico Bom Retiro: 1h08min56s
5º - Chrispim Forti, Brasil E.C: 1h09min07s
6º - José Alves de Oliveira, Brasil E.C: 1h09min51s
7º - Arthur Ferreira, Brasil E.C: 1h11min10s
8º - Carlos Campos, Federação Carioca Cyclismo: 1h11min53s
9º - José Rodrigues Gama, Brasil E.C: 1h12min09s
10º - Antonio Novella, O. N. Dopolavoro: 1h12min10s
* Por Felipe Leite, especial para a Gazeta Esportiva
