Meio milhão de exemplares do jornal A Gazeta Esportiva na Copa de 1970 - Gazeta Esportiva
Meio milhão de exemplares do jornal A Gazeta Esportiva na Copa de 1970

Meio milhão de exemplares do jornal A Gazeta Esportiva na Copa de 1970

Gazeta Esportiva

Por Redação

22/06/2020 às 09:14 • Atualizado: 29/06/2020 às 17:15

São Paulo, SP

Marca que deu origem ao site, o jornal A Gazeta Esportiva também teve seu dia especial na conquista do tricampeonato da Seleção na Copa do Mundo do México. Confira o artigo do publicitário Alexandre Giesbrecht sobre os 534.530 exemplares, recorde brasileiro de tiragem no Brasil:

Meio milhão de exemplares para o Brasil campeão




(Foto: Acervo/Gazeta Press)

Há exatamente cinquenta anos, a seleção brasileira conquistava o tricampeonato mundial, com o famoso time de 1970. A final, contra a Itália, foi realizada em 21 de junho e terminou com uma goleada por 4 a 1 que eternizou aquela versão da Seleção, apontada por muitos como a maior da história do futebol. Na época, ainda não se tinha a dimensão que aquela conquista tomaria, mas já se sabia que uma eventual conquista seria histórica. E o jornal A Gazeta Esportiva representa muito bem esse pensamento.


Em sua edição do dia seguinte da conquista, que já começou a circular na própria noite de domingo, A Gazeta Esportiva trouxe em sua capa uma foto colorida do time campeão. Fotos coloridas eram muito raras em jornais na época. Muito raras, mesmo. Então, presumo que deva ter sido uma verdadeira operação de guerra para conseguir fazer tudo dar certo.


Não acredito que fosse possível em 1970 usar uma foto colorida da conquista na capa do dia seguinte, ainda mais se considerarmos que a edição já estava nas ruas de São Paulo poucas horas após a conquista. Não daria tempo de um voo chegar do México com os filmes, isso sem falar que a impressão colorida era um processo muito mais complicado do que é hoje, por envolver revelação de filme e confecção de um fotolito.


Assim, o jornal optou por uma foto provavelmente do jogo anterior, contra o Uruguai — pela escalação e local, pode também ter sido da estreia, contra a Tchecoslováquia. A escalação dessas três partidas foi a mesma: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino.


Se você olhar com atenção a foto no alto desta página, é possível perceber que no fundo está o Estádio Jalisco, de Guadalajara, onde o Brasil disputou suas cinco primeiras partidas dessa Copa. Apenas a final foi disputada no Estádio Azteca, na Cidade do México. Compare com duas fotos do banco de imagens Alamy, em que temos o Jalisco, no jogo Inglaterra × Romênia, e o Azteca, na final. Este último tinha muito mais anúncios entre os anéis, enquanto os que aparecem na foto da seleção inglesa são idênticos ao da foto lá em cima.


Ter uma foto alguns dias mais antiga realmente não era um problema na época. Os famosos pôsteres que a revista Placar publicava após títulos dos principais campeonatos no Brasil continham sempre fotos do primeiro jogo das respectivas finais (ou de um jogo anterior, no caso de decisões em jogo único) até os anos 1990. Tudo isso para saírem o mais rápido possível, podendo aproveitar melhor o entusiasmo dos torcedores.


Mesmo com uma foto que não era do dia, a operação não deve ter sido nada simples. Afinal, a impressão não pôde ser feita com antecedência, talvez porque não quisesse correr o risco de ter de jogar fora exemplares já impressos em cada derrota. Mas o fato é que até o placar estava encaixado na foto. Uma técnica que os jornais utilizavam na época (e por um bom tempo ainda depois) era de imprimir a foto e depois imprimir o título por cima, mas isso claramente não foi feito nessa capa d’A Gazeta Esportiva.


Os jornalistas que não tinham ido ao México ajudaram na redação, incluindo o diretor Olímpio da Silva e Sá e o experiente Wálter Lacerda. Os primeiros exemplares saíram das modernas impressoras offset às 16h50, cerca de uma hora após o apito final. Funcionários do jornal posaram, orgulhosos, para uma foto com o jornal na mão, embaixo de um relógio que atestava essa verdadeira façanha. Um deles exibia a mão suja de tinta (ou graxa?).




Os primeiros exemplares saíram das modernas impressoras offset às 16h50, cerca de uma hora após o apito final (Foto: Acervo/Gazeta Press)


Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, com um exemplar d’A Gazeta Esportiva, em 1970 (Foto: Acervo/Gazeta Press)


Abreu Sodré, então governador de São Paulo, com um exemplar d’A Gazeta Esportiva, em 1970 (Foto: Acervo/Gazeta Press)


Sílvio Santos com um exemplar d’A Gazeta Esportiva, em 1970 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Naquela noite, o jornal recebeu a visita do prefeito paulistano, Paulo Maluf, que pegou uma das edições e abriu diretamente na página central, onde havia um anúncio da Prefeitura em página dupla, que incluía uma foto ainda mais antiga da Seleção e o brasão do município: “Os seis milhões de brasileiros da capital que mais cresce no mundo saúdam o selecionado brasileiro de futebol. Salve nosso futebol! Salve São Paulo! Salve Brasil! Em nome de nosso povo, Prefeitura Municipal de São Paulo.”


Durante a visita, Maluf foi informado de que a tiragem já estava se aproximando de quatrocentos mil exemplares. Ele ainda posaria com vários funcionários d’A Gazeta, ao lado de pilhas e pilhas da edição do dia.


O governador Abreu Sodré não foi à sede d’A Gazeta, mas também foi fotografado com um exemplar da vitória, ao lado de sua esposa, Maria do Carmo. O casal recebeu em sua casa uma verdadeira delegação do jornal, e a visita foi retribuída com uma exagerada declaração de Maria do Carmo: “Foram vocês, de A Gazeta Esportiva, que provocaram essa explosão de alegria do povo.”


Em outro lugar da cidade, Sílvio Santos recebeu alguns exemplares enquanto apresentava seu programa na TV Globo. “A Gazeta Esportiva já está nas ruas”, anunciou para o País inteiro, vestindo um uniforme de goleiro.


Sair ainda no domingo com os resultados da rodada não era exatamente uma novidade para A Gazeta Esportiva. Aliás, o mesmo valia para a Edição de Esportes, jornal do Grupo Estado que também saía nas noites de domingo, para suprir a ausência do “irmão mais velho” nas bancas às segundas-feiras.


Mas nunca até ali tinham sido rodados tantos exemplares como naquela madrugada. A impressão só foi encerrada às 10h30 da manhã de segunda-feira, quando o último dos 534.530 exemplares deixou as rotativas do jornal. Foram mais de treze horas e meia de impressão para chegar a esse número, que, de acordo com a edição do dia 23, era o “recorde brasileiro de tiragem”.


Não por acaso, essa edição de terça-feira aproveitou o dia fraco de notícias — a Seleção tinha iniciado sua viagem de volta ao Brasil na segunda — para estampar como principal manchete de sua capa o número 534.530 em caracteres garrafais.




A Gazeta Esportiva anuncia previsão de meio milhão de exemplares para a edição sobre a final da Copa do Mundo de 1970 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Essa empreitada provavelmente foi possibilitada por anunciantes que se aproveitaram do impacto da edição do título para colocar um anúncio pontual, mesmo sem saberem de antemão que o Brasil, de fato, venceria a Itália. Durante aquela Copa, A Gazeta Esportiva vinha informando com frequência seus recordes de circulação.


O primeiro recorde fora obtido com a edição que falava da vitória sobre a Inglaterra, ainda na primeira fase: foram vendidos 298.534 exemplares. Depois, a edição da vitória sobre o Peru ampliaria o recorde para 305.540 exemplares. As tiragens foram quase sempre esgotadas. Com a vitória sobre o Uruguai na semifinal, o jornal decidiu almejar meio milhão de exemplares na edição que contaria a história da final.


Para isso, colocou “500.000” em letras gigantes, com um aviso intitulado “Atenção, anunciantes”. Temos confiança em que o Brasil trará em definitivo a [Taça] Jules Rimet! A Gazeta Esportiva dará uma edição especial em offset, [em] cores, prevista para quinhentos mil exemplares. Solicitamos a máxima colaboração das agências de publicidade e clientes, no sentido de remeterem às nossas oficinas, o mais cedo possível, as artes finais, estéreos, clichês e fotolitos dos anúncios.”


Não foi apenas a Prefeitura que aceitou a oferta, tanto é que o jornal rodou com muito mais páginas que o normal naquele dia, boa parte delas recheada de anúncios.


Na edição do dia 23, quando celebrou o recorde de tiragem com a edição do título brasileiro, A Gazeta publicou: “Você guardou um? Eu guardei.” Eu não guardei, pois não era nem nascido em 1970, mas meu pai, que ainda nem conhecia minha mãe, guardou. Guardou dois, inclusive. Esses exemplares hoje estão comigo, muito bem guardados.




Reprodução da capa do jornal A Gazeta Esportiva do dia 23 de junho de 1970, com o título: 534.530 exemplares (Foto: Acervo/Gazeta Press)

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