Chileno que defende Palestina apoia migrantes e sonha enfrentar Israel - Gazeta Esportiva
Chileno que defende Palestina apoia migrantes e sonha enfrentar Israel

Chileno que defende Palestina apoia migrantes e sonha enfrentar Israel

Gazeta Esportiva

Por Bruno Núñez, especial para a GE.Net

06/10/2015 às 11:48 • Atualizado: 06/10/2015 às 11:49

São Paulo, SP

Chileno de nascimento, Pablo Tamburrini defendeu a Palestina em jogo histórico realizado em setembro (de vermelho) (Foto: AHMAD GHARABLI / AFP)
Chileno de nascimento, Pablo Tamburrini (de vermelho) defendeu a Palestina em jogo histórico realizado em setembro (Foto: AHMAD GHARABLI / AFP)


Lutando pelo seu reconhecimento internacional, a Palestina sediou pela quarta vez em sua história um jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, no último dia 8 de setembro. A diáspora palestina é refletida no elenco atual do time nacional, formado por atletas nascidos em cinco países diferentes, entre eles Pablo Tamburrini, do Chile, nação com o maior contingente. Descendente de palestinos, ele apoia os migrantes e sonha com a possibilidade de enfrentar Israel.

Meio-campista do San Luis de Quillota, da primeira divisão do Chile, Pablo Tamburrini falou com a Gazeta Esportiva.Net sobre o momento histórico que a Palestina vem vivendo no futebol e sobre as expectativas do selecionado nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, que será disputada na Rússia. O jogador estreou na seleção neste ano, após receber um contato da federação local por ter parentes de origem palestina do seu lado materno da família.

“Me chamaram de lá e me falaram que eu poderia jogar pela seleção. Eu comentei com minha família e tomei essa decisão de defender a Palestina. Como aqui no Chile seria muito difícil ser convocado, não tive dúvidas em dizer sim e começar a fazer os trâmites para atuar”, afirmou Tamburrini.

A estreia de Tamburrini pela Palestina foi em junho deste ano, em jogo válido pela primeira rodada das Eliminatórias. O jogador começou sua trajetória na seleção marcando o primeiro gol do time na competição, na derrota por 3 a 2 contra a Arábia Saudita, fora de casa. O resultado apesar de negativo foi encarado como uma evolução, já que o adversário é um dos grandes do continente, tendo participado de quatro Copas do Mundo.

A empolgação palestina aumentou no segundo jogo, quando golearam a Malásia por 6 a 0, também jogando como visitante. O placar empolgou os palestinos, que iriam ver a seleção nacional jogar em Jerusalém em uma competição oficial após quatro anos na próxima rodada. O duelo contra os Emirados Árabes Unidos terminou em 0 a 0, mas exercer a partida como mandante já foi considerada uma vitória pelos cidadãos.

“O estádio estava cheio. As pessoas estavam muito felizes, com muita expectativa do que poderíamos fazer na partida. Sabíamos que seria um jogo difícil, mas no fim o empate foi um resultado justo para ambos os lados”, disse Tamburrini.

A boa fase do futebol palestino pode ser relacionada a presença de jogadores de várias partes do mundo no plantel. Atletas vindos do Paraguai, Eslovênia, Suécia e Chile - que contribui com o maior contingente “estrangeiro” do plantel, com quatro jogadores - ajudam a alavancar o nível do futebol do território asiático.

Apesar do bom nível, a comunicação fica difícil. Com jogadores vindos diversas partes do mundo, Tamburrini ainda tem alguns obstáculos para falar com os seus companheiros, principalmente por não falar inglês.

“Na minha primeira viagem eu acabei indo com Matías Jadue (outro chileno que atua pela Palestina). Eles tentavam traduzir em inglês, mas eu não falo a língua, então ele acabava me falando em espanhol. Na maioria das atividades e treinos ele me auxiliava”, revela.

O inglês não é a única barreira. Tamburrini também não aprendeu a falar o árabe, língua oficial da Palestina. Ainda assim, aprendeu algumas partes do hino nacional: “De pouco a pouco eu aprendi algumas partes do hino, mas não sei toda a letra. Não sei nada de árabe (risos)”.

Apesar das barreiras, defender a Palestina é um orgulho para Tamburrini e sua família. O jogador conta que sempre fala com os seus parentes quando vai ao território localizado na Ásia, também como forma de acalmá-los, já que o momento político enfrentado na região é muito delicado.

“Eles (família) têm orgulho, o medo também existe, mas eles ficam tranquilos, principalmente pelo que defendo. Sempre estou em contato com eles quando viajo”, diz Tamburrini, que é cria do Palestino, clube de Santiago fundado pela colônia do país do Oriente Médio. “Eu tenho amigos no Palestino, eu comecei lá, fiz as categorias de base lá. Todos ficaram felizes por eu estar representando o país, e principalmente um povo que sofreu muito”, afirma.

Tamburrini, com a camisa de número 14, defendeu o Palestino - time da colônia do território no Chile - entre os anos de 2012 e 2014 (Foto: AFP)
Tamburrini, com a camisa de número 14, defendeu o Palestino - time da colônia do território asiático no Chile - entre os anos de 2012 e 2014 (Foto: AFP)


Ainda sobre a situação política do Oriente Médio, Tamburrini afirma que deve existir o apoio aos refugiados que vêm saindo dos países da região, como os próprios palestinos e também os sírios: “Tem gente que está vivendo uma situação ruim na Palestina e quer sair de lá para arrumar sua vida. Pela minha parte, tem que existir o apoio a essas pessoas”.

Apesar disso, o meio-campista afirma não ter noção do clima político na Palestina. Do pouco tempo que fica no território, Tamburrini fica concentrado e pouco sai para conhecer o território palestino. Para ele, o futebol é um grande instrumento para trazer paz entre palestinos e israelenses. O chileno ainda espera que as seleções se encontrem nos campos.

“Do pouco tempo que fico, quase não saímos, normalmente ficamos concentrados a maior parte do tempo, eu saí muito pouco para saber o clima nas ruas. Acho que temos que ir passo a passo, mas acredito que o futebol é uma boa opção para arrumar as coisas. Espero que algum dia possa haver um duelo entre Palestina e Israel”, sonha.

Agora, os palestinos têm outros problemas. O foco da seleção é o duelo contra Timor Leste, fora de casa, em Dili, na próxima quinta-feira. A Palestina é favorita no confronto contra o país insular, mas as preocupações maiores virão na próxima rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo. Na terça-feira, a Arábia Saudita deverá visitar Jerusalém, mas a partida pode não ocorrer no local marcado.

A Arábia Saudita não reconhece Israel e precisaria passar por controles do país para entrar na Palestina. A Federação Palestina ofereceu a solução dos sauditas irem para o território através de helicópteros saindo da Jordânia, só que a resposta ainda não foi dada e o local da partida está em suspenso.

"ESTRANGEIROS" NA PALESTINA


Os chilenos Alexis Norambuena e Matías Jadue; o sueco Imad Zatara e o esloveno jAKA ibhbeihsheh, respectivamente na foto, defendem a Palestina (Montagem sobre fotos de AHMAD GHARABLI / AFP)
Os chilenos Alexis Norambuena e Matías Jadue; o sueco Imad Zatara e o esloveno Jaka Ihbeisheh, respectivamente na foto, defendem a Palestina (Montagem sobre fotos de AHMAD GHARABLI / AFP)


Além de Pablo Tamburrini, a última convocação da seleção da Palestina - quando a representação enfrentou os Emirados Árabes Unidos - contou com mais seis jogadores nascidos fora do território asiático: os chilenos Matías Jadue (Deportes Santa Cruz-CHI), Jonathan Cantillana (Palestino-CHI) e Alexis Norambuena (GKS Belchatow-POL); o sueco Imad Zatara (AFC United-SUE); o paraguaio Javier Cohene (Atlético CP-POR) e o esloveno Jaka Ihbeisheh (Rudar Velenje-ESL).

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