Ex-dirigente da Fifa e empresário serão julgados por caso de direitos de TV
Por AFP
12/09/2020 às 23:02
São Paulo, SP
Agendada para 25 de setembro no Tribunal Criminal Federal de Bellinzona, esta audiência começará sob uma dupla ameaça; a crise de saúde, que já arruinou um processo anterior, e as acusações de conluio entre o Ministério Público suíço e a Fifa, que minaram sua credibilidade.
No centro da acusação, o francês Jérôme Valcke, de 59 anos, ex-braço direito do ex-presidente da Fifa, Sepp Blatter, aparece em dois casos separados de direitos televisivos e pode ser condenado a até cinco anos de prisão.
A justiça suíça o censura por ter favorecido a transferência para o gigante catariano beIN Media os direitos audiovisuais para o Oriente Médio e Norte da África das Copas do Mundo de 2026 e 2030, em troca de "regalias indevidas" de Nasser Al-Khelaifi.
Segundo a denúncia, o caso teria começado em 24 de outubro de 2013 na sede francesa do beIN, com a promessa do líder catariano de comprar uma casa na Sardenha (Itália) por cinco milhões de euros, e conceder uso exclusivo a Jérôme Valcke e então cederia a ele a propriedade para todos os efeitos e propósitos dois anos depois, "se a confiança fosse mantida".
- Mundiais de 2026 e 2030 -
Em troca, sustenta a promotoria, Jérôme Valcke prometeu "fazer o que estivesse ao seu alcance" para que o beIN se tornasse o difusor nessas regiões das Copas de 2026 e 2030: algo que se cumpriu em 29 de abril de 2014 , em um acordo que a Fifa não tentou desfazer depois.
Do ponto de vista judicial, porém, não se trata de "corrupção privada": a acusação teve de abandonar esse prazo devido a um "acordo amigável" no final de janeiro entre a Fifa e Nasser Al-Khelaifi, cujo conteúdo não foi divulgado.
Agora, Jérôme Valcke terá de explicar porque "guardou para ele" algumas regalias "que deveriam ter ficado para a Fifa".
Como funcionário da instância, sua obrigação de "devolver" o dinheiro recebido no cumprimento de suas funções "também se aplica a subornos", segundo decisão de 25 de março.
Nasser Al-Khelaifi, ex-tenista que se tornou um dos homens mais influentes do futebol mundial, vai responder por sua "instigação à gestão injusta", pela qual pode ser condenado a cinco anos de prisão.
Para os advogados do presidente do PSG, a acusação contra seu cliente é "manifestamente artificial".
O seu cliente afirma ter adquirido a 'Villa Bianca' e garante que "nunca pensou em oferecê-la a Jérôme Valcke", especificaram, prometendo que o executivo catariano irá a Bellinzona para provar "a sua total inocência".
- Promotoria fragilizada -
No segundo caso, Jérôme Valcke terá de responder, entre outras acusações, por "repetida corrupção passiva" e "gestão injusta agravada", juntamente com o empresário grego Dinos Deris, de 63 anos.
O ex-jornalista do Canal + teria recebido 1,25 milhão de euros, em três pagamentos em 2013 e 2014, para favorecer a concessão na Grécia e na Itália dos direitos transmissão de várias Copas do Mundo.
Ele também testemunhará pessoalmente e "responderá às acusações", segundo seu advogado, Patrick Hunziker.
A defesa também tem outro ângulo de ataque: as denúncias de conluio decorrentes de três reuniões secretas em 2016 e 2017 entre o presidente da Fifa Gianni Infantino e o ex-chefe do Ministério Público suíço, Michael Lauber, ambos sujeitos a uma investigação de "obstrução da ação penal".
Se o processo chegar ao fim, será o primeiro veredicto pronunciado na Suíça, sede da maioria das organizações esportivas internacionais, sobre os vinte processos abertos há cinco anos em torno da Fifa.
Em abril passado, o tribunal criminal federal foi forçado a encerrar um processo iniciado em março por suspeitas de corrupção na atribuição da Copa do Mundo de 2006 à Alemanha; primeiro adiado por conta da covid-19, este caso envolvendo o ex-jogador de futebol 'Kaiser' Frank Beckenbauer acabou prescrevendo.