Anistia Internacional acusa Catar de explorar trabalhadores na Copa - Gazeta Esportiva
Anistia Internacional acusa Catar de explorar trabalhadores na Copa

Anistia Internacional acusa Catar de explorar trabalhadores na Copa

Gazeta Esportiva

Por Redação

31/03/2016 às 19:51 • Atualizado: 31/03/2016 às 20:23

São Paulo, SP

Anistia Internacional cobra que a Fifa trabalhe para melhorar as condições de trabalho no Qatar. (Foto: Norberto Duarte/AFP)
Anistia Internacional cobra que a Fifa trabalhe para melhorar as condições de trabalho no Catar. (Foto: Norberto Duarte/AFP)


A Anistia Internacional publicou nesta quinta-feira o relatório “O lado feio do jogo bonito: exploração de trabalhadores migrantes em construções para a Copa do Mundo de 2022”, o qual acusa o país de permitir o abuso sistemático de estrangeiros que vão para o país para trabalhar na construção dos estádios e espaços voltados para o Mundial.

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A maioria dos 3200 empregados nas obras do estádio Khalifa são estrangeiros vindos de Bangladesh, Índia e Nepal. Partem em busca de melhores condições de vida, eles acabam encontrando o oposto: estrutura precária, salários atrasados, dívidas, trabalho forçado e impossibilidade de voltar para casa.

“A minha vida aqui é como uma prisão. O gerente me disse: “Se você quiser permanecer no Catar, fique quieto e continue trabalhando”, denunciou um metalúrgico da obra. Outro afirmou que a primeira atitude do seu chefe foi confiscar o seu passaporte, impedindo que ele deixasse o país.

O relatório descobriu algumas das formas que estão sendo utilizadas para explorar os imigrantes. Para sequer conseguir um emprego é preciso pagar uma taxa, que varia entre cerca de R$1,8 mil e R$15,5 mil, para agentes recrutadores em seus países natais. Muitos já ficam endividados nesse processo.

Esses mesmos agentes costumam mentir sobre o valor do salário – um trabalhador ouviu que receberia R$1 mil, mas ganha, na verdade, R$680. Além disso, alguns ficam sem receber durante meses. As acomodações são sujas e inseguras. Os quartos costumam conter mais de oito pessoas, mesmo com a lei do país só permitindo quatro trabalhadores por dormitório.

Os quartos dos imigrantes costumam acomodar mais pessoas do que o permitido por lei. (Foto: Divulgação/Anistia Internacional)
Os quartos dos imigrantes costumam acomodar mais pessoas do que o permitido por lei. (Foto: Divulgação/Anistia Internacional)


Todos os imigrantes que a Anistia Internacional entrevistou haviam tido o seu passaporte confiscado pelos empregadores. Isso faz com que os trabalhadores não possam deixar o país. Muitos nem saem de dentro do campo de trabalho, por não terem visto de residência.

Em caso de reclamação, os estrangeiros são ameaçados e intimidados. Os empregadores lembram das dívidas em débito, dizem que vão denunciá-los para a polícia local e afirmam que só os deixarão ir embora ao término do contrato.

A Anistia Internacional pressiona os patrocinadores da Copa do Mundo e a Fifa para tomarem atitudes a respeito das condições dos que constroem o evento. “O futebol mundial não pode fechar os olhos ao abuso nas instalações e estádios onde a partida é jogada. Se a nova liderança da FIFA é séria sobre virar a página, não pode permitir que sua vitrine, um evento global, aconteça em estádios construídos sob o abuso de trabalhadores migrantes”, disse Salil Shetty – secretário-geral do órgão.

A Fifa já se manifestou em relação ao conteúdo divulgado pela Anistia Internacional. Em nota no site oficial, a entidade afirmou conhecer as condições de trabalho no Catar, trabalha pela melhoria e, inclusive, já tomou algumas atitudes nesse sentido.

“Estamos completamente cientes dos riscos que os trabalhadores das obras no Catar encontram e estamos confiantes que as medidas tomadas pelo Comitê Supremo de Legado e Entrega são apropriados e já melhoraram a situação dos imigrantes nos locais de trabalho da Copa do Mundo. Monitoramos de perto o desenvolvimento e encaminhamos os problemas através do nosso contato com o Comitê Supremo”, falou o chefe da Sustentabilidade da Fifa Federico Addiechi.

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