Dudu: a bomba-relógio que Cuca desarmou com uma faixa de capitão - Gazeta Esportiva
Edoardo Ghirotto
São Paulo
11/28/2016 07:00:13
 

Um dos desafios da comissão técnica de Cuca na temporada era explorar o potencial de Eduardo Pereira Rodrigues, o Dudu. Aos 24 anos, o jogador de 1,67m já era conhecido por explosões técnicas – e temperamentais – dignas de nomes que fizeram história com a camisa 7 do Palmeiras, como Edmundo e Paulo Nunes.

Após conversas particulares e até um ‘chá de banco’, Cuca desarmou a bomba-relógio dando a chance de o atacante extravasar em campo com a faixa de capitão. Neste domingo, após a vitória por 1 a 0 diante da Chapecoense, Dudu entrou para a história do Palmeiras ao erguer a taça de eneacampeão brasileiro.

O temperamento de Dudu tornou-se uma preocupação desde o Paulistão do ano passado, quando o atacante empurrou o árbitro Guilherme Ceretta de Lima na final contra o Santos. O jogador, que chegou a levar uma pena de 180 dias pela agressão, cumpriu apenas seis partidas de suspensão após um acordo entre o clube e o STJD.

Na terceira partida de Cuca neste ano, na derrota por 2 a 1 para o Red Bull, o atacante se desentendeu com o treinador por conta de uma substituição relâmpago, aos nove minutos do primeiro tempo. O jogador caiu no gramado sentindo uma contusão muscular, o que levou o técnico a colocar Allione em campo. O atleta reclamou, dizendo que poderia ter continuado, e Cuca reconheceu o erro após o jogo.

No Brasileirão, Dudu atuou como titular em boa parte do primeiro turno, mas só conseguiu anotar os primeiros gols na vitória por 3 a 1 contra o Santa Cruz, no Palestra Itália, no dia 18 de junho – foram dois tentos, na ocasião.

durante Palmeiras X Vitoria , pelo campeonato brasileiro,na arena Palestra Italia,em Sao Paulo ,SP 07/08/2016 Foto:Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Dudu tornou-se capitão do Palmeiras contra o Vitória, na 19ª rodada do Brasileirão (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

O camisa 7, no entanto, caiu de produção e chegou a ser cortado de um jogo diante do Sport, em 4 de julho, por fadiga muscular. No dia seguinte, o diretor de futebol Alexandre Mattos reclamou da abordagem que um clube chinês fez ao jogador para contratá-lo. A oferta foi rejeitada pelo Palmeiras.

Diante da irregularidade de Dudu, Cuca teve uma conversa de dez minutos com o atacante antes do treino do dia 27 de julho. Quatro dias depois, o atleta iniciou uma partida contra o Botafogo no banco de reservas – o Palmeiras perdeu por 3 a 1.

Quando rumores apontavam que a relação entre Cuca e Dudu já não era das melhores, o técnico surpreendeu ao tirar a faixa de capitão do experiente Zé Roberto para entregá-la ao camisa 7. A mudança ocorreu no dia 7 de agosto, no triunfo por 2 a 1 sobre o Vitória, no Palestra Itália. Dudu foi decisivo na partida e deu a assistência para Cleiton Xavier fazer o segundo gol alviverde.

“Conversei com o Dudu ontem. Tive uma conversa franca entre treinador e jogador, de homem para homem. Falei de como ele é importante para nós e de como o time precisa dele. Vejo que o Dudu respondeu como queríamos. Participou, foi competitivo, criativo e decisivo. É o Dudu que queremos, está de parabéns”, afirmou Cuca, após a partida.

A condição de líder fez bem a Dudu. Ao lado de Gustavo Scarpa, do Fluminense, o jogador se consolidou como o maior garçom do Brasileirão, distribuindo dez assistências. Ele também soma seis gols no campeonato. Para Zé Roberto, a transferência da faixa de capitão foi uma ‘sacada de mestre’ de Cuca.

“Vejo de uma forma muito positiva. Hoje o Dudu é totalmente diferente do jogador que eu conheci no Grêmio. Ele está mais maduro, motivado e mais líder”, afirmou o veterano, que havia assumido a faixa de capitão após a ida de Fernando Prass para a Seleção olímpica. Como o goleiro fraturou o cotovelo direito na preparação do time canarinho, Dudu se manteve como capitão durante todo o segundo turno do Brasileirão.

“[Ser capitão] trouxe um crescimento para a carreira do Dudu e para o nosso grupo. Ele assumiu essa responsabilidade. E seu crescimento tem levado ao crescimento do elenco. O Cuca foi muito inteligente no que fez”, completou o lateral de 42 anos.

Apelidado de “Guerreiro” pela torcida, Dudu abandonou a armadura após superar a má fase. O jogador marrento e de corpo todo tatuado chorou após a vitória por 1 a 0 contra o Internacional, no dia 6 de novembro. Segundo o camisa 7, as lágrimas foram um agradecimento aos torcedores que permaneceram ao lado da equipe até nos momentos mais difíceis. “Foi um choro de agradecimento e da força de vontade do nosso time”, afirmou.

Dudu, jogador do Palmeiras, comemora seu gol durante partida contra o Sport, válida pela trigésima segunda rodada do Campeonato Brasileiro 2016.
Dudu foi o maior garçom do Brasileirão, com dez passes para gols do Palmeiras (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Na antepenúltima rodada, Dudu saltou em meio à zaga botafoguense para anotar, de cabeça, o único gol da vitória contra o clube carioca. O resultado foi crucial para o Palmeiras alcançar o título brasileiro contra a Chapecoense. Ao término do jogo, Cuca provou que as desavenças estavam restritas ao passado e se rendeu ao talento do camisa 7.

“Sempre chamava o Dudu na minha sala, após os jogos, para mostrar os scouts e dizer que ele estava participando pouco e tinha batido pouco na bola”, recordou Cuca. Um dia ele me disse que estava cansado de ser cobrado por mim. E, marejado, disse que um dia gostaria de ser chamado para que eu o elogiasse. Aquilo me marcou muito, tanto que o chamei para fazer elogios quando jogou bem”, afirmou o técnico.

“Hoje ele deixou de ser um jogador que jogava bonito para virar um grande jogador. Hoje ele é um grande jogador. É responsável e tem cuidado tático. Se antes valia muito quando jogava bonito, hoje ele vale o dobro. E não é para o Palmeiras, é para ele mesmo. Fico muito feliz de vê-lo jogando tanta bola assim”, concluiu.

Cuca (E), técnico do Palmeiras, durante partida contra o Botafogo-RJ, válida pela trigésima sexta rodada do Campeonato Brasileiro 2016.
Dudu e Cuca deixaram as desavenças no passado para guiar o Palmeiras ao título brasileiro (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)


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