Jailson: o veterano que estreou na Série A e se agigantou na vaga de Prass - Gazeta Esportiva
Edoardo Ghirotto
São Paulo
11/28/2016 08:30:09
 

Titular em 19 jogos na conquista do título brasileiro, Jailson Marcelino dos Santos era praticamente um desconhecido da torcida palmeirense até 4 de agosto. Naquele dia, o goleiro Vagner sofreu um frango no empate por 1 a 1 diante da Chapecoense, na Arena Condá, e perdeu a vaga de titular que lhe fora dada pelo técnico Cuca. Sem Fernando Prass, que já havia fraturado o cotovelo direito, o treinador tomou uma decisão de risco e apostou no veterano de 35 anos que nunca tinha jogado uma partida de Série A na carreira.

Cuca informou Jailson sobre a oportunidade um dia após o duelo contra a Chapecoense. Aquela havia sido a terceira partida de Vagner como titular do Palmeiras. Foram todas atuações irregulares num período em que o time se viu perdido sem Prass e Gabriel Jesus, convocados para a Seleção Brasileira olímpica. Após derrotas diante de Atlético-MG e Botafogo e do empate com a Chape, a pressão da torcida foi toda direcionada para o goleiro substituto.

“O Vagner jogou três partidas. E foi em um momento ruim, o pior que o Palmeiras viveu em todo o campeonato. Automaticamente ele não foi bem, assim como os outros não foram”, recordou Cuca, em uma entrevista coletiva concedida no dia 28 de outubro.

Recorde a entrevista que Jailson concedeu à Gazeta Esportiva logo após a ida de Fernando Prass para a Seleção olímpica

Palmeirense desde criança, Jailson era reserva do Ceará quando recebeu a proposta para se transferir ao Verdão, em outubro de 2014. Ele foi contratado para dar mais opções ao então técnico Dorival Júnior, que tinha perdido Prass por lesão e não conseguia encontrar o substituto ideal – Bruno, Deola e Fábio haviam fracassado. Prass, no entanto, acelerou o processo de recuperação e retomou a titularidade antes que Jailson pudesse ganhar uma chance.

As primeiras oportunidades só vieram no ano seguinte, já sob o comando de Oswaldo de Oliveira. Jailson substituiu Prass durante os amistosos contra Shandong Luneng (3 x 1) e Red Bull (3 x 2) na pré-temporada. Na segunda fase da Copa do Brasil de 2015, com os titulares poupados para a decisão do Campeonato Paulista diante do Santos, o goleiro disputou os 90 minutos do empate por 1 a 1 contra o Sampaio Corrêa, em São Luís.

Faltava, contudo, a estreia na Série A. Após os erros de Vagner, a chance lhe foi dada no dia 07 de agosto. Com a camisa 49, Jailson foi ao Palestra Itália com a missão de apagar a desconfiança dos torcedores no jogo contra o Vitória, pelo encerramento do primeiro turno do Brasileirão. O goleiro era a última esperança da torcida e do próprio Cuca, já que a fratura no cotovelo direito obrigou Prass a passar por um longo processo de recuperação.

A estreia foi heroica. Jailson salvou o Palmeiras em diversas ocasiões e foi ovacionado pelos torcedores após a vitória por 2 a 1 sobre os baianos. A atuação foi um alívio para Cuca. “O comandante tem que tomar as decisões. Às vezes elas não agradam, mas, se você fala com o coração no futebol, corre o risco de não andar. É bom passar a razão na frente do coração. E foi o que fizemos com o Vagner e o Jailson”, disse, após o jogo.

Jailson, goleiro do Palmeiras, durante treino na Academia de Futebol (Barra Funda), na Zona Oeste da capital paulista.
O goleiro Jailson sustentou uma invencibilidade de 18 jogos do Brasileirão com o Palmeiras (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Já Jailson, que havia trazido toda a família para assistir à partida no Palestra Itália, não parecia ter duvidado do próprio potencial. “Nada contra a Série B. Foi lá que o Ceará me revelou. Mas trabalhei para jogar numa Série A. Hoje estou muito feliz”, afirmou, também após o triunfo. “A torcida gostou, mas tenho que trabalhar. Vida de goleiro não é fácil. Um dia estamos no céu, mas no outro estamos no inferno. Tenho que manter os pés no chão”.

O goleiro cumpriu o que disse à imprensa e garantiu uma invencibilidade de destaque ao Palmeiras quando esteve embaixo das traves. Nos 19 jogos que jogou na Série A – três a mais que Prass -, Jailson venceu 14 e empatou cinco. Na única oportunidade em que não pôde defender o clube, ao cumprir uma suspensão contra o Santos, o Verdão acabou derrotado por 1 a 0 – o garoto Vinicius Silvestre foi titular nesta partida.

A importância de Jailson foi reconhecida até por seu maior ídolo no futebol. O ex-goleiro Marcos, apelidado pela torcida de ‘Santo’, recorreu a uma rede social para vibrar com os milagres do arqueiro. “São Jailson”, postou o ex-goleiro, após a vitória por 1 a 0 sobre o Inter, no dia 6 de novembro. Em retribuição, Jailson usou uma camisa com o número 12 para homenagear Marcos após a conquista do título brasileiro.

Na vitória por 1 a 0 contra a Chapecoense, Jailson também levou torcedores às lágrimas ao dar seu lugar a Prass. Recuperado, o ídolo foi chamado por Cuca já nos instantes finais do segundo tempo do jogo para assumir a meta. Em uníssono, a torcida gritou o nome do camisa 49 para agradecer pelas atuações decisivas. Uma demonstração de carinho merecida para o jogador que, aos 35 anos, pode ser considerado a revelação deste Brasileirão.

Palmeiras x Chapecoense, Brasileirao 2016, Palestra Italia, Sao Paulo SP, 27/11/2016, Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press
Jailson deu lugar a Fernando Prass já nos instantes decisivos do jogo com a Chapecoense (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)


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