Titular em 19 jogos na conquista do título brasileiro, Jailson Marcelino dos Santos era praticamente um desconhecido da torcida palmeirense até 4 de agosto. Naquele dia, o goleiro Vagner sofreu um frango no empate por 1 a 1 diante da Chapecoense, na Arena Condá, e perdeu a vaga de titular que lhe fora dada pelo técnico Cuca. Sem Fernando Prass, que já havia fraturado o cotovelo direito, o treinador tomou uma decisão de risco e apostou no veterano de 35 anos que nunca tinha jogado uma partida de Série A na carreira.
Cuca informou Jailson sobre a oportunidade um dia após o duelo contra a Chapecoense. Aquela havia sido a terceira partida de Vagner como titular do Palmeiras. Foram todas atuações irregulares num período em que o time se viu perdido sem Prass e Gabriel Jesus, convocados para a Seleção Brasileira olímpica. Após derrotas diante de Atlético-MG e Botafogo e do empate com a Chape, a pressão da torcida foi toda direcionada para o goleiro substituto.
“O Vagner jogou três partidas. E foi em um momento ruim, o pior que o Palmeiras viveu em todo o campeonato. Automaticamente ele não foi bem, assim como os outros não foram”, recordou Cuca, em uma entrevista coletiva concedida no dia 28 de outubro.
Palmeirense desde criança, Jailson era reserva do Ceará quando recebeu a proposta para se transferir ao Verdão, em outubro de 2014. Ele foi contratado para dar mais opções ao então técnico Dorival Júnior, que tinha perdido Prass por lesão e não conseguia encontrar o substituto ideal – Bruno, Deola e Fábio haviam fracassado. Prass, no entanto, acelerou o processo de recuperação e retomou a titularidade antes que Jailson pudesse ganhar uma chance.
As primeiras oportunidades só vieram no ano seguinte, já sob o comando de Oswaldo de Oliveira. Jailson substituiu Prass durante os amistosos contra Shandong Luneng (3 x 1) e Red Bull (3 x 2) na pré-temporada. Na segunda fase da Copa do Brasil de 2015, com os titulares poupados para a decisão do Campeonato Paulista diante do Santos, o goleiro disputou os 90 minutos do empate por 1 a 1 contra o Sampaio Corrêa, em São Luís.
Faltava, contudo, a estreia na Série A. Após os erros de Vagner, a chance lhe foi dada no dia 07 de agosto. Com a camisa 49, Jailson foi ao Palestra Itália com a missão de apagar a desconfiança dos torcedores no jogo contra o Vitória, pelo encerramento do primeiro turno do Brasileirão. O goleiro era a última esperança da torcida e do próprio Cuca, já que a fratura no cotovelo direito obrigou Prass a passar por um longo processo de recuperação.
A estreia foi heroica. Jailson salvou o Palmeiras em diversas ocasiões e foi ovacionado pelos torcedores após a vitória por 2 a 1 sobre os baianos. A atuação foi um alívio para Cuca. “O comandante tem que tomar as decisões. Às vezes elas não agradam, mas, se você fala com o coração no futebol, corre o risco de não andar. É bom passar a razão na frente do coração. E foi o que fizemos com o Vagner e o Jailson”, disse, após o jogo.
Já Jailson, que havia trazido toda a família para assistir à partida no Palestra Itália, não parecia ter duvidado do próprio potencial. “Nada contra a Série B. Foi lá que o Ceará me revelou. Mas trabalhei para jogar numa Série A. Hoje estou muito feliz”, afirmou, também após o triunfo. “A torcida gostou, mas tenho que trabalhar. Vida de goleiro não é fácil. Um dia estamos no céu, mas no outro estamos no inferno. Tenho que manter os pés no chão”.
O goleiro cumpriu o que disse à imprensa e garantiu uma invencibilidade de destaque ao Palmeiras quando esteve embaixo das traves. Nos 19 jogos que jogou na Série A – três a mais que Prass -, Jailson venceu 14 e empatou cinco. Na única oportunidade em que não pôde defender o clube, ao cumprir uma suspensão contra o Santos, o Verdão acabou derrotado por 1 a 0 – o garoto Vinicius Silvestre foi titular nesta partida.
A importância de Jailson foi reconhecida até por seu maior ídolo no futebol. O ex-goleiro Marcos, apelidado pela torcida de ‘Santo’, recorreu a uma rede social para vibrar com os milagres do arqueiro. “São Jailson”, postou o ex-goleiro, após a vitória por 1 a 0 sobre o Inter, no dia 6 de novembro. Em retribuição, Jailson usou uma camisa com o número 12 para homenagear Marcos após a conquista do título brasileiro.
Na vitória por 1 a 0 contra a Chapecoense, Jailson também levou torcedores às lágrimas ao dar seu lugar a Prass. Recuperado, o ídolo foi chamado por Cuca já nos instantes finais do segundo tempo do jogo para assumir a meta. Em uníssono, a torcida gritou o nome do camisa 49 para agradecer pelas atuações decisivas. Uma demonstração de carinho merecida para o jogador que, aos 35 anos, pode ser considerado a revelação deste Brasileirão.