Família Pupo abre loja de prodígio, teme por segurança e “mulheres ruins" - Gazeta Esportiva
Helder Júnior e Bruno Ceccon
São Sebastião (SP)
12/22/2014 00:15:52
 

A loja administrada pelo casal Wagner e Jeane Pupo em Boiçucanga ainda tem cheiro de tinta. O estabelecimento leva a assinatura de Samuel Pupo, de apenas 14 anos, expoente da nova geração de surfistas do litoral norte de São Paulo, celeiro de Gabriel Medina.

O clã Pupo é formado por Miguel, 23 anos e 19º colocado no WCT, Dominik, 18 anos e campeã brasileira universitária, e Samuel, dono de sete títulos paulistas nas categorias de base. Jeane, matriarca da família, tem Simone Medina, mãe de Gabriel, como sua melhor amiga.

Uma das preocupações da chefe do clã Pupo é com a violência, a ponto de recomendar que Simone contrate seguranças para proteger o primeiro brasileiro a conquistar o título mundial de surfe. Ela também pediu que a amiga evite retornar a São Sebastião com o filho logo após o campeonato, conselho que não será seguido.

“Aqui, no Brasil, a segurança não é tão grande. Minha maior preocupação com os meninos é essa e fico bastante apreensiva, porque é um risco que todo o mundo corre. Eu pedi para a Simone não voltar para a casa com o Gabriel. Disse para ir a Nova Iorque, ficar no Havaí”, conta a matriarca do clã Pupo, lembrando que a loja dos Medina já foi assaltada diversas vezes.

Jeane e Simone são íntimas e costumam manter contato diário, pessoalmente ou por redes sociais. Quando ambas estão em São Sebastião, gostam de promover jantares e churrascos familiares. Com os Medina no Havaí, a chefe do clã Pupo foi encarregada de providenciar luzinhas de Natal para enfeitar a casa dos amigos.

A família Medina retornará ao Brasil no começo da semana e, na terça-feira, Gabriel concederá uma entrevista coletiva em São Paulo. De acordo com Jeane, o garoto deverá passar o Réveillon longe de São Sebastião, mas a segurança não é a única preocupação da mãe de Miguel Pupo.

“Esse mundo dos meninos tem muita festa, eles são bastante assediados, tanto por mulheres quanto pela mídia. Precisam manter o equilíbrio. Estamos sempre orando para afastar as pessoas ruins, as mulheres ruins, porque a mulher derruba ou edifica”, avalia Jeane, com a propriedade de quem é esposa de um ex-surfista profissional e diaconisa da igreja evangélica Bola de Neve.

Wagner, pai de Miguel Pupo, foi profissional e hoje faz pranchas (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Wagner, pai de Miguel Pupo, foi profissional e hoje faz pranchas (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

“As mulheres ruins são armadilhas na vida deles, ainda mais nessa idade. O Miguel, por exemplo, já apresentou uma menina mais velha como namorada”, conta Jeane, de nariz torcido. “Agora, está solteiro e focado. Falou que não vai querer namorar mais tão cedo. Eles tentam se desapegar desse lado”, completa.

Para manter o equilíbrio, as duas famílias consideram fundamental frequentar os cultos da Bola de Neve em Boiçucanga, ministrados pelo pastor André Catalau, ex-vocalista da banda de rock Golpe de Estado. Emocionados, Gabriel e Miguel chegam a chorar durante as cerimônias, segundo Jeane.

“É fundamental, porque os meninos sentem muito a presença de Deus. Eles vivem sempre de um hotel para o outro, sem ninguém conhecido. A verdade é que, estando no Circuito mundial, a pessoa fica mais fria. O Gabriel e o Miguel são amigos, mas na bateria viram adversários. Na Igreja, sentem-se respaldados”, diz.

A linha de roupas assinada por Gabriel Medina está à venda na loja aberta há pouco mais de uma semana em Boiçucanga pela família Pupo. Em breve, os pais do prodígio Samuel, mais conhecido como Samuca, esperam ter a honra de comercializar produtos com o nome do filho.

“O Samuel pega para a direita, o mesmo lado que eu, e o Miguel, para esquerda”, diferencia Wagner Pupo, ex-profissional, orgulhoso dos herdeiros. “Os meninos são bem diferentes, mais radicais. Mas muita gente fala que o surfe do Miguel é bem parecido com o meu. A gente tem a semelhança de uma linha mais limpa na onda”, equipara.

Os chefes do clã Pupo passaram aproximadamente um mês ao lado de Miguel na Europa durante as etapas de Landes-FRA e Peniche-POR do WCT. Segundo Wagner, com o primogênito já encaminhado, a ideia agora é investir no pequeno e promissor Samuel.

“Já conseguimos colocar o Miguel na estrada. Ele evoluiu bastante, é um moleque centrado e sabe o que quer da vida. Agora, precisa seguir seu caminho como profissional. Quando der, vou continuar acompanhado, mas quero priorizar o Samuel”, explica.

No começo da carreira como surfista, Wagner precisou enfrentar a ira da mãe, que quebrava deliberadamente as suas pranchas. Atualmente, com três filhos no esporte, ele dirige a fábrica de pranchas OHP, usadas pelos herdeiros para competir – a sigla significa Ohana (família, em havaiano) Pupo.

Na campanha rumo ao inédito título mundial, Gabriel Medina foi acompanhado de perto pelo padrasto Charles Serrano, seu mentor na carreira. A presença do pai nas etapas do WCT, motivo de chacota para alguns, é defendida pelo experiente Wagner Pupo.

“Na minha época, o surfe acabava visto de maneira negativa pela falta da família dentro do esporte. Era careta levar o pai, porque os surfistas tinham outras atitudes. Hoje, a inclusão da família está limpando a imagem do esporte. Para as grandes empresas se aproximarem, a modalidade precisa ser vista de forma saudável. É muito legal ter o surfe nesse nível”, enaltece Wagner.



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