Querido por grupo, fã de Marcos sonha estrear na Série A no lugar de Prass - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon e Edoardo Ghirotto
São Paulo, SP
07/06/2016 09:00:03
 

Então goleiro do modesto Guaratinguetá, Jailson teve a chance de enfrentar Marcos no Campeonato Paulista 2008 e após a partida contra o Palmeiras pediu as luvas do ídolo, hoje guardadas como relíquia. Oito anos depois, contratado pela equipe alviverde, ele sonha com a possibilidade de disputar sua primeira partida na Série A do Brasileiro como substituto de Fernando Prass.

Único atleta que participou de 100% dos 38 jogos do Palmeiras em 2016, Prass se apresenta para defender o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 18 de julho. Caso a Seleção consiga alcançar a decisão do torneio, ele perderá os confrontos com Atlético-MG, Botafogo, Chapecoense, Vitória, Atlético-PR e Ponte Preta pelo Campeonato Brasileiro.

Comandados pelo preparador Oscar Rodriguez, Jailson (34 anos), Vagner (26) e Vinícius Silvestre (22) brigam pela vaga temporária de titular durante a estadia de Fernando Prass na Seleção Brasileira. Os dois primeiros, mais experientes, vêm se revezando no banco de reservas ao lado do técnico Cuca nas partidas e são os favoritos na disputa.

“Colocando eu, o Vagner ou o Vinícius, tenho certeza que a qualidade vai continuar a mesma. Sabemos que os goleiros que o Palmeiras tem hoje poderiam jogar em qualquer time, mas só entra um”, disse Jailson, sonhando com a vaga. “Se eu falar que não, estaria mentindo. Estou trabalhado no dia a dia para, quando aparecer a oportunidade, agarrar com unhas e dentes”, completou.

As oportunidades apareceram tardiamente na vida de Jailson Marcelino dos Santos. Após defender clubes como Campinense, São José e Oeste ao longo da carreira, o atleta em 2014 foi da reserva do Ceará à Sociedade Esportiva Palmeiras. Então ameaçado pelo rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o time alviverde sofria com atuações pouco inspiradas de Fábio e Deola, já que Fernando Prass estava lesionado.

“É lógico que sempre trabalhei para chegar a um time grande, mas quando soube da negociação com o Palmeiras, fiquei meio assim e pensei: ‘Com 33 anos, será que vai dar certo?’”, lembrou Jailson, trazido na gestão do técnico Dorival Júnior. “Sou um atleta com bastante vivência no meio do futebol. Ele me conhecia por ter jogado contra e fico grato até hoje pela contratação”, afirmou o goleiro.

Apresentado pelo Palmeiras em outubro de 2014, Jailson disputou apenas uma partida oficial pelo clube, além de dois amistosos. Embora raramente entre em campo, ele encontrou uma maneira de ser útil: querido por companheiros, integrantes da comissão técnica e funcionários, o jogador de 34 anos contribui com a manutenção de um bom ambiente.

“Olha, procuro tratar a todos aqui dentro com muito carinho e respeito. Na vida de goleiro, joga um só. Não adianta você ficar triste ou putinho. Precisa trabalhar. Eu mantenho a cabeça boa e sou bastante querido pelo grupo. No meio de 40 jogadores, a gente sabe que não é fácil ter uma pessoa assim. Fico grato e é algo que vou levar para o resto da vida”, contou Jailson, dono de vários apelidos no elenco. “Os caras me adoram”, disse, rindo.

Diferentemente de Vagner e Vinícius Silvestre, Jailson já jogou pelo Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Divulgação)
Diferentemente de Vagner e Vinícius Silvestre, Jailson já jogou pelo Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)

Em suas primeiras exibições, sob o comando do técnico Oswaldo de Oliveira, Jailson substituiu Fernando Prass durante os amistosos contra Shandong Luneng (3 x 1) e Red Bull (3 x 2). Na segunda fase da Copa do Brasil 2015, com os titulares poupados para a decisão do Campeonato Paulista diante do Santos, o goleiro teve a chance de disputar os 90 minutos do empate por 1 a 1 contra o Sampaio Corrêa, em São Luís.

“Foi meu primeiro jogo oficial pelo Palmeiras e tenho a camisa que usei naquela partida guardada até hoje lá em casa. É um momento que não vou esquecer nunca. Até costumo brincar com o pessoal aqui, lembrando que a campanha que terminou com o título da Copa do Brasil contra o Santos passou por esse jogo contra o Sampaio Corrêa”, sorriu Jailson.

Longe da condição de protagonista, o ex-jogador do Ceará teve a chance de viver alguns momentos históricos em 2015. Após a vitória nos pênaltis sobre o Corinthians pela semifinal do Campeonato Paulista, Jailson invadiu o gramado de Itaquera para comemorar e, aos gritos de “vai, Palmeiras!”, manteve a farra no vestiário. Na decisão da Copa do Brasil, primeiro título da arena, também marcou presença, mesmo em recuperação de uma cirurgia.

“Não é só porque hoje estou vestindo a camisa do Palmeiras, mas sempre fui palmeirense. Meu pai também. Graças a Deus, consegui chegar ao clube e para mim está sendo uma honra vestir essa camisa”, disse o experiente goleiro, deslocando o olhar em direção ao símbolo de seu uniforme após mais um dia de trabalho na Academia de Futebol.

Jailson vibrou na semifinal do Campeonato Paulista e ergueu a Copa do Brasil (Fotos: Cesar Greco/Divulgação)
Jailson vibrou na semifinal do Campeonato Paulista e ergueu a Copa do Brasil em 2015 (Fotos: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)

Além de participar como coadjuvante de momentos marcantes pelo time do coração, Jailson pôde conviver com o ídolo Marcos e tirou uma foto ao vê-lo pela primeira vez no vestiário do centro de treinamento. No começo de 2016, recuperado de uma grave lesão no tendão de Aquiles, ele reencontrou o antigo camisa 12 palmeirense.

“Meu primeiro encontro com o Marcos desde que cheguei ao Palmeiras foi ainda em 2014. Entrei no vestiário e pensei: ‘Nossa, olha o Marcão aqui, véio!’. Pedi até uma foto”, recordou. “Depois de quatro meses parado por lesão, fiquei emocionado ao voltar a treinar. Ele me viu com os olhos cheios d’água no CT, perguntou o que tinha acontecido e expliquei. Então, o Marcão falou: ‘Se fosse assim, eu não teria mais lágrimas no corpo’”, lembrou.

Chamado por sua esposa de “bicho do mato” pelo costume de sair pouco de casa, Jailson tem uma rotina tranquila e é assediado apenas pelos torcedores fanáticos. “Sou mais conhecido em São José dos Campos”, pontuou, citando a cidade natal. Um dos poucos remanescentes de 2014, ele chegou ao Palmeiras com contrato até maio de 2015 e renovou seu vínculo até o final de 2016 – hoje, deseja estender o acordo e planeja se aposentar no clube.

As recordações da carreira, como o par de luvas de Marcos e a camisa usada diante do Sampaio Corrêa, são guardadas cuidadosamente por Jailson em São José dos Campos. Caso tenha a chance de substituir Prass, novos itens serão acrescidos ao acervo do goleiro, à espera de uma chance de ser protagonista. “Tenho bastante história e muitas fotos. Está tudo guardadinho para quando aparecer a chance de contar aos netos”, disse.

Assim como Fernando Prass, Jailson já marcou gols em cobranças de pênalti (Foto: Fernando Prass/Gazeta Press)
Assim como Fernando Prass, Jailson já marcou gols em cobranças de pênalti (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

JAILSON TREINA FALTAS E JÁ MARCOU DE PÊNALTI

Fernando Prass não é o único goleiro do Palmeiras com habilidade para usar os pés. Um dos candidatos a substituir o titular durante sua estadia nas Olimpíadas, Jailson costuma treinar cobranças de pênalti e falta na Academia de Futebol. A exemplo do camisa 1, ele já marcou gols em penalidades.

“Graças a Deus, sempre tive qualidade para jogar com os pés. Por isso, quando acabam os treinos às vezes fico batendo umas faltas e pênaltis com o pessoal. Já cobrei uma falta pelo Guaratinguetá contra o São José e fiz uns cinco, seis gols de pênalti durante a carreira”, contou Jailson.