Estudioso e politizado, Dorival Júnior sonha em mudar o futebol brasileiro - Gazeta Esportiva
Estudioso e politizado, Dorival Júnior sonha em mudar o futebol brasileiro

Estudioso e politizado, Dorival Júnior sonha em mudar o futebol brasileiro

Gazeta Esportiva

Por Do correspondente Tiago Salazar

16/10/2015 às 12:53 • Atualizado: 16/10/2015 às 20:49

Santos, SP

Treinador chegou quando Peixe lutava para se afastar do rebaixamento (Foto:Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Identificado com o clube, Dorival chegou e deu uma reviravolta no Peixe: da zona de rebaixamento ao G4  (Foto:Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


“Precisamos de alguém que bote o dedo na ferida”. A frase é famosa e antiga, mas expõe bem o desejo de mudança, ressalta a inquietação, reluta contra os conformados e normalmente é externada pela boca de um sindicalista, de um crítico ou até mesmo de um manifestante anônimo. Neste caso, entretanto, vem de um treinador de futebol. Algo raro por si só, mas ganha mais relevância por ele estar em alta, naquele momento que profissional exalta seu trabalho ou vislumbra uma chance na capengante Seleção Brasileira. Trata-se de Dorival Júnior, técnico do Santos Futebol Clube. O maior responsável por transformar uma equipe que lutava para sair da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, em um time de futebol vistoso, nostálgico e que chega na reta final da temporada lutando pelo título da Copa do Brasil e dono, ao menos por ora, de uma vaga no G4 do Nacional por pontos corridos.

À Gazeta Esportiva, com exclusividade, Júnior, como era conhecido à época em que atuava como volante, abre o jogo sobre o que pensa do atual momento do futebol brasileiro, aponta fatos que levaram o País a perder o posto de melhor do mundo, critica a falta de união entre treinadores e não poupa a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

“Nós produzíamos, porque jogador brotava, ele aparecia, ele acontecia. Nós nunca demos condições para que profissionais fossem formados. Nunca foi cobrado isso. E, de repente, você desperta para um mundo que está muito mais avançado do que o seu momento. E sabe o que despertou tudo isso, mesmo que vínhamos falando, falando? Foi um resultado que veio justamente em uma Copa do Mundo, que foi desastroso, mas que mostrou a realidade do nosso futebol nos últimos 25 anos”, afirma.


PARTE 1: Carreira e identificação com o Santos


Muitos não devem imaginar, mas Dorival Júnior é um dos cinco vice-presidentes da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol. Ao revelar seu lado combatente, o técnico suplica para que seus companheiros deixem a zona de conforto.

“Os sindicatos precisam estar fortalecidos. Precisamos mudar a legislação, todo mundo participar. As pessoas têm que se politizar, porque a política não é só a política lá de Brasília, aquilo que nós vimos, aquela falta de vergonha. Mas a política faz parte do dia a dia do ser humano, e nós precisamos disso”.

E depois de sua terceira viagem à Europa para estudar e aprimorar seus conhecimentos, Dorival regressou com a certeza de que o Brasil só voltará a comandar o esporte mais popular do planeta quando deixar de levar o futebol como “entretenimento”.

“Na Europa, um treinador estuda e trabalha na prática 2 mil horas. Nós aqui temos cursos caça-níqueis, inclusive patrocinado por algumas entidades, numa média de 40, 50 horas, em uma semana, onde o cara já sai chancelado a ser treinador de futebol. É uma mentira muito grande”, conta.

Aos 53 anos e disposto a direcionar sua energia para assuntos que fogem a um plano de jogo, Dorival Júnior não esconde sua torcida pela mudança de comando na entidade que rege o futebol brasileiro e hoje é presidida por Marco Polo del Nero.

“Nós estamos esperando isso, uma pessoa que chegue realmente determinada a mudar. Nós estamos esperando essa pessoa aparecer”.




Feitos um para o outro

Um técnico de futebol, na maior parte das vezes, tenta não manifestar um vínculo com algum clube que se estenda além do lado profissional, mas em alguns casos existe uma afinidade clara. Neste contexto estão incluídos Santos e Dorival Júnior. Uma espécie de casamento perfeito, que mesmo após períodos turbulentos, reencontra seu caminho.

“Santos é uma cidade especial. Para mim, pelo menos, vejo dessa maneira. É uma cidade que me acolheu muito bem”, reconhece o técnico, natural de Araraquara, interior do Estado de São Paulo.

Após encantar o País com o Peixe de 2010, que conquistou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil com um esquadrão liderado por Robinho, Neymar e Ganso, Dorival encontrou dificuldades por onde passou. De 2004 para cá, foi o técnico que mais dirigiu equipes diferentes da Série A: 12 ao todo. Mas tudo mudou em julho deste ano, quando acertou seu retorno ao Alvinegro Praiano, então sob temor do rebaixamento.

Primeiro, encontrou a situação desconfortável de substituir Marcelo Fernandes, que fora campeão Estadual com o Santos e seguiria na comissão técnica permanente do clube.

“Eu disse: ‘Marcelo, eu não sei nem como me posicionar, porque é a primeira vez que chego a um clube e encontro um profissional que estava até ontem à frente da equipe’”, conta Dorival, que também concorda com Serginho Chulapa, outro que acabou ‘rebaixado’ na comissão técnica santista depois de sua contratação, no que se refere à falta de ética entre os treinadores de futebol.

“É um meio desleal, desumano e traiçoeiro. Mas é o futebol, porque nós vivemos numa sociedade que é traiçoeira. Nós vivemos uma sociedade que não têm educação”, reiterou.


PARTE 2: Relação com M. Fernandes e situação do futebol brasileiro


Sonhador, dono de um senso coletivo notório e protagonista de uma campanha que contabiliza 16 vitórias, três empates e apenas quatro derrotas, além de obter 100% de aproveitamento como mandante, Dorival Júnior já é uma das principais figuras que o futebol nacional teve nesta temporada. Confira a entrevista exclusiva completa com o treinador do Peixe:

Gazeta Esportiva: É inegável a sua ligação com o Santos Futebol Clube. A que você atribui isso? Por que essa ligação tão forte com o Santos?


Dorival Júnior: Difícil de explicar. Eu me sinto muito bem aqui, me identifico com o trabalho que é desenvolvido no Santos. As pessoas nos respeitam aqui, porque sabem que nós gostamos de valorizar as categorias de base. Eu gosto de respeitar esse trabalho, porque acho que é um trabalho que cria uma identificação do atleta com o clube. Eu fortaleço essa situação sempre que posso e principalmente aqui, em Santos, é natural que exista uma integração muito grande. Os últimos resultados alcançados e a formação daquela equipe que manteve o Santos nos últimos anos na briga por campeonatos foram importantes. Essa chegada agora ajuda, com a própria comissão que aqui estava, foi muito boa também, nos proporcionou outra condição. E foi diminuído esse período de adaptação, até por conhecermos as pessoas daqui de dentro. São situações que se completam, mas acho que não se defina aquela que prevalece um pouco mais que a outra.

GE: Você é o técnico da Série A, de 2004 para cá, que mais treinou clubes diferentes. Foram 12 equipes. A que você atribui o fato de não ter nesses clubes o mesmo sucesso que tem em Santos? E qual é a sua relação com a cidade de Santos?
Dorival Jr: Vejo que, desde 2003, quando abri praticamente minha carreira como treinador profissional, à frente do Figueirense, nós conquistamos um campeonato por ano, até a parada de 2013. Aí sim eu não tive a possibilidade de disputar o campeonato regional, iniciei o trabalho com o Flamengo, montei aquela equipe que foi campeã da Copa do Brasil com o Jayme (de Almeida), finalizando o trabalho. E depois eu peguei no meio do caminho o Vasco, que foi logo após a disputa da Copa das Confederações, e o Fluminense, por apenas cinco jogos. Então, de um modo geral, acho que nós deixamos, em cada clube que passamos, no mínimo uma conquista de título, porque em alguns alcançamos dois ou mais. E muitos jogadores que foram revelados. Talvez seja o ponto mais positivo de todo nosso trabalho. Então, de modo geral, acho que o sucesso é relativo, porque você forma equipes e a formação de equipe é um trabalho desafiador. Além do que, você conseguindo alcançar um resultado, um campeonato, isso também o completa como profissional. Então, fico muito satisfeito pelo desenvolvimento da minha carreira. Mas é natural que com uma equipe você se identifique mais, porque Santos é uma cidade especial. Para mim pelo menos, vejo dessa maneira. É uma cidade que me acolheu muito bem.

GE: O Serginho Chulapa deu uma entrevista polêmica pouco antes de você chegar e criticou muito a falta de ética entre os treinadores no Brasil. Você concorda com isso? Você se sentiu pressionado por essa declaração?
Dorival Jr: Sinceramente, não me preocupo, porque nunca agi dessa maneira, e o próprio Serginho, o Marcelo (Fernandes), me conhecendo agora, tenho certeza de que eles viram e perceberam a maneira como eu ajo, com as minhas ações e reações. Não vi essa matéria, mas é natural que isso aconteça, e o futebol brasileiro está cheio dessas situações. Às vezes os nomes dos profissionais são jogados de maneira aleatória, já fazendo parte de um outro clube, sendo que um profissional ainda esteja ali, trabalhando. E nem sempre nós autorizamos esse tipo de situação. Nem sempre estamos a par desse tipo e situação e seu nome está sendo ventilado e debatido. Então, são muitas situações que às vezes você se vê envolvido pela própria irresponsabilidade das pessoas que militam no nosso meio. É um meio desleal. É um meio desumano. É um meio traiçoeira. Mas é o futebol, porque nós vivemos numa sociedade que é traiçoeira. Nós vivemos uma sociedade que não têm educação. E eu me coloco nesse contexto. Nós não temos. Acho que essa é a melhor fase. E, infelizmente, estamos sempre envolvidos em situações desagradáveis.

Técnico tem como auxiliar justamente seu antecessor (Foto: Ivan Storti/Santos)
Técnico tem como auxiliar justamente seu antecessor (Foto: Ivan Storti/Santos)


GE: Neste contexto, o Marcelo Fernandes não negava que gostaria de seguir na carreira de técnico. Mas ele continuou no clube. Quando você chegou, como fez para não transformar isso em um problema e trazer o Marcelo e o Chulapa, consequentemente, para o grupo, para o ajudar?
Dorival Jr: Primeiro que para mim foi o primeiro momento. Eu mesmo coloquei para o Marcelo: ‘Marcelo, eu não sei nem como me posicionar, porque é a primeira vez que chego num clube e encontro um profissional que estava até ontem à frente da equipe. Então, é uma situação difícil. Para mim foi difícil, imagino que para ele tenha sido difícil. Mas eu acho que essas situações se acomodam, porque você passa a conviver com essas pessoas, você passa a respeitar da mesma forma essas pessoas. E eu vim conhecendo o Marcelo. Sempre contei com a força, o apoio dele e do Serginho, em todos os momentos, em todos os movimentos que fiz no Santos. Eu sempre busquei a participação dos dois, porque acho que esse é o momento importante. É reconhecer o trabalho dos profissionais que aqui estavam. E, a partir de então, começamos a criar um laço de afinidade, um respeito ainda maior, e isso foi importante. Fico muito contente, porque hoje temos um ambiente muito positivo de trabalho. Conto diretamente com os dois. Eles sabem disso. Tenho muita confiança nos dois.

GE: Você acha que o futebol brasileiro regrediu, estacionou? Qual é a parcela dos técnicos nessa fase do futebol brasileiro?


Dorival Jr: Acho que os treinadores têm uma parcela considerável em tudo que aconteceu ao longo dos anos. Porém, as pessoas criaram uma situação muito cômoda. As pessoas que eu falo são todas que fazem parte do ambiente do futebol. Por quê? Porque as críticas passaram a ser diretas e direcionadas a apenas uma pessoa. E nem sempre essa pessoa é responsável por tudo. Primeiro, um treinador muitas vezes pega uma equipe no meio de uma competição. Ele não montou essa equipe. Ele está dando sequência a um trabalho. E ele assume na segunda e na quarta ele já é responsabilizado pelo resultado ter ou não acontecido. Segundo, todos justificavam as suas parcelas de erros em cima da figura do treinador. E isso vem acontecendo ao longo dos últimos 25 anos. Ficou uma situação muito cômoda para o dirigente, porque ele vem e tira uma figura e ele começa a tirar boa parte da sua responsabilidade. Começa a justificar que aquilo talvez tenha sido o principal problema do clube.

Para o jogador, também é uma situação cômoda, porque ele sabe que daqui 15, 20, 30 dias, vai ter um novo profissional ali. Então, ‘não vou brigar para buscar uma posição, já que, teoricamente, ele não goste de mim’. Porque é a primeira coisa que o jogador de futebol alega, que o treinador não gosta dele. ‘Então, vou deixar chegar um outro treinador e eu começo a trabalhar para buscar meu espaço’.

Para a imprensa, de modo geral, porque não se preocupou mais, não tinha mais necessidade de buscar o conhecimento tático, a essência do trabalho dos profissionais. Começamos a priorizar as cobranças em cima do treinador, a retirada daquele treinador.


PARTE 3: Falta de preparo dos treinadores e viagem à Europa


E os treinadores em si, porque criaram uma situação de comodismo, porque ele sabia que saindo de um clube na quarta, no domingo ele já estaria empregado e deixasse que fizesse e acontecesse, porque ele teria uma multa, teria um outro contrato, enfim.

É uma situação que ninguém quer. Por isso nós estamos brigando por meio da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol e muito, pela regularização da nossa profissão. Hoje, qualquer cidadão pode ser um treinador de futebol. Segundo, nunca foi dado ao treinador a possibilidade de você se preparar. Nós não temos um curso de formação.

Na Europa, um treinador ele estuda e trabalha na prática 2 mil horas. Nós aqui temos cursos caça-níqueis, inclusive patrocinado por algumas entidades, numa média de 40, 50 horas, em uma semana, onde o cara já sai chancelado a ser treinador de futebol. É uma mentira muito grande.

É para vocês (jornalistas) verem. Nos cobraram que precisávamos melhorar, buscarmos conhecimento. Sim, nós precisamos disso. Quem não precisa no nosso País? Mas se nós não tivermos nem uma formação, como nós vamos ter um curso de aprimoramento, de aperfeiçoamento? Não existe isso no Brasil. O que nos ensina é o dia a dia, é a vida, é a prática.

GE: Você foi à Europa recentemente. Na prática, o que você fez lá, quanto tempo ficou, como foi essa viagem, esse aprendizado?
Dorival Jr: É o terceiro ano que eu faço isso. Mas chamo atenção para um detalhe. Quantos profissionais conseguem fazer isso? Nós somos privilegiados e queremos o contrário. Queremos massificar o ensino, para que os treinadores lá do interior, que não têm uma possibilidade de aparecer, também tenham campo de trabalho. Através dos institutos federais, que já estão implantados em praticamente todo os Estados da nossa federação, nós queremos que eles participem diretamente desse trabalho, para que possamos incluir cursos de formação.

Não fui lá para me reciclar, porque você não se recicla em 30 dias. Fomos lá, conversamos com diretores, jogadores, treinadores, buscamos um conhecimento, observar o que está sendo desenvolvido em campo. Muito se aproxima dos nossos trabalhos, porém, muita coisa é diferente. O europeu hoje está na nossa frente. E nós temos que ter a humildade de reconhecer. Eles estudaram futebol nos últimos 20 anos, e nós continuamos levando futebol como entretenimento. Nós não nos preparamos e o futebol brasileiro caiu num abismo. Nós perdemos aquela conotação de sermos os melhores do mundo. Essa é a grande realidade.

Nós nunca fomos grandes formadores. Nós produzíamos, porque jogador brotava, ele aparecia, ele acontecia. Nós nunca demos condições para que profissionais fossem formados. Nunca foi cobrado isso. E, de repente, você desperta para um mundo que está muito mais avançado do que o seu momento. E sabe o que despertou tudo isso, mesmo que vínhamos falando, falando? Foi um resultado que veio justamente em uma Copa do Mundo, que foi desastroso, naturalmente, mas que mostrou a realidade do nosso futebol nos últimos 25 anos.

Convivíamos, mas não percebíamos. Todas as entidades que fazem parte do movimento futebol bobearam. Mas a culpa foi novamente do treinador as Seleção Brasileira. Porque em 50 (1950) nós também culpamos uma única figura, o Barbosa (goleiro da Seleção à época). E aquela culpa foi carregada até 2014, quando nós achamos novamente uma nova pessoa para crucificarmos.

A seleção foi reflexo de tudo que vinha acontecendo no futebol nos últimos 25 anos. E que ninguém deu importância, ninguém também botou o dedo contra si. Nós sempre apontamos: ‘a culpa é desse, daquele, dele’. Todos participamos daquele momento do futebol brasileiro. Todos fomos responsáveis. Uma enxurrada de críticas, mas soluções, sugestões, bem poucas. Já perdemos um ano desde aquele momento, muito pouco foi feito. Ainda que muitas coisas boas vêm acontecendo e que, com certeza, vão ajudar nesse embrião de mudanças do futebol brasileiro.

Santista é um dos vice-presidentes da Federação de Treinadores (Foto: Sérgio Barzaghi/Gazeta Press)
Santista é um dos vice-presidentes da Federação de Treinadores (Foto: Sérgio Barzaghi/Gazeta Press)


GE: Você é vice-presidente da Federação de Treinadores no Brasil. Por que jogadores, técnicos, os verdadeiros protagonistas, têm tão pouca voz nessa área extra-campo?
Dorival Jr: Primeiro porque nós nunca demos importância e nunca nos preocupamos com isso. Em nenhum campo de atuação. Raras são as pessoas que se preocupam com a formação. As pessoas querem alcançar um trabalho, não querem se preparar para esse trabalho. E assim foi com o futebol. Os jogadores não têm uma representatividade forte. Os treinadores não têm a sua profissão reconhecida. Nós temos hoje um projeto de lei em Brasília, que também capenga de um lado para o outro. Seis profissionais estão nos ajudando nesse trabalho. Caio Júnior, Falcão, Alfredo Sampaio, Zé Mario, Dr. Déssio, Vagner Mancini, Marcos Bocato. Poucos profissionais nos ajudando num movimento que já tem dois anos e que já fomos ai umas vinte vezes entre CBF, reuniões no Rio, Brasília. Estamos batendo e pedindo ajuda dos nossos amigos profissionais. Queremos que eles participem. Assim como acontece com os jogadores, que têm uma representatividade mínima.

Os sindicatos precisam estar fortalecidos. Precisamos mudar a legislação, todo mundo participar. As pessoas têm que se politizar, porque a política não é só a política lá de Brasília, aquilo que nós vimos, aquela falta de vergonha. Mas a política faz parte do dia a dia do ser humano, e nós precisamos disso. Não apenas deixar na mão de meia dúzia de abnegados que querem mudança. É muito pouco para um movimento que exige muito mais. Nós temos quase que 60% a 70% dos treinadores no país que não têm nem uma carteira assinada. E as pessoas não se preocupam com isso. Elas querem que continue do jeito que está. Futebol está dando muito dinheiro para poucas pessoas, essa é a grande verdade.

GE: Muito por causa dessa pressão, a CBF acena com algumas mudanças. Mas mudanças muitas vezes paliativas. Isso o irrita?
Dorival Jr: Não me irrita, porque eu sei que isso faz parte de uma cultura que já vem de muitos anos. Irrita é que nós estamos sempre no aguardo de uma medida que sacuda o futebol. A Federação Paulista de Futebol está tomando uma posição. Está ouvindo todas as entidades, das Séries A, B, C e D. Ouvindo todos departamentos que envolvem o futebol. Tem se preocupado com área médica, de segurança, de marketing. Acho que a FPF está começando a jogar uma sementinha para um movimento diferenciado. Mauro Silva tem feito um trabalho maravilhoso, juntamente com Fernando Soleiro. Podem ter certeza que algumas coisas vão começar a mudar e o futebol paulista pode ser o start de tudo isso, justamente porque estão se preocupando em primeiro ouvir, para depois tomarem algumas posições. É um movimento que tem que ser fortalecido, tem que ser mostrado, porque as coisas boas também têm que ser mostradas no futebol. Isso é o primeiro movimento importante que tem acontecido.


PARTE 4: "Tem pouca gente ganhando muito dinheiro no futebol"


Essas situações com a CBF são paliativas e muito pequenas. As pessoas que estão no meio têm que ser mais ouvidas e em nenhum momento se ouve aquilo que temos a dizer. Nós só queremos ajudar. Não queremos combater, confrontar. Pelo contrário, queremos soluções. O primeiro ganho de todos nós foi a conquista de 30 dias para uma pré-temporada. E todos viram como isso foi importante.

Nós estamos esperando isso, uma pessoa que chegue realmente determinada a mudar. E que queira mudar. Porque toda mudança você vai ter de brigar, vai ter de bater. Vai ter que ouvir, porque as críticas vão acontecer. Mas essas mudanças serão importantes e nós estamos esperando essa pessoa aparecer.

GE: Você sonha em ser técnico da Seleção Brasileira?
Dorival Jr: Eu não tenho isso como obsessão. Acho que todo profissional almeja, mas vejo pessoas muito mais preparadas do que eu nesse momento. Eu acho que tenho que continuar com meu trabalho. Meu primeiro objetivo é me fortalecer como profissional, melhorar como profissional, dar o melhor retorno possível aos clubes que eu esteja defendendo. Quem sabe lá na frente, um dia, quem sabe? Mas eu quero ver a melhora do futebol brasileiro. Esse é o meu objetivo. Muito mais do que um objetivo individual.

Santos ocupa o G4 do Brasileiro e está na semifinal da Copa do Brasil (Foto:Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Santos ocupa o G4 do Brasileiro e está na semifinal da Copa do Brasil (Foto:Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


GE: E o que mais o motiva no futebol, o que te dá aquela sensação de dever cumprido?
Dorival Jr: Quando eu vejo uma equipe jogando como o Santos de 2010 jogava. Essa equipe mostrou em muitas oportunidades, como eu vi a equipe do Sport Recife jogando em muitos momentos, a do Coritiba. Foram equipes que eu dirigi. O Internacional. Quando as equipes jogam com simplicidade, um toque só na bola, envolvendo os adversários. Mesmo não tendo uma equipe de forte combate na marcação, tomando a bola no campo ofensivo. Isso é o que me dá prazer. Além das revelações de garotos. Oportunizando esses garotos ao aparecimento, porque quem forma são os treinadores das categorias de base. Não somos nós, treinadores de equipes profissionais. Nós apenas damos oportunidade desse garoto continuar mostrando seu trabalho. Mas isso é muito mais prazeroso do que até o alcance de um título. Isso é importante, proporciona um reconhecimento de um profissional, mas muito mais é a formação de equipes. Acho que isso é o maior desafio que eu enfrento e que eu gosto. É o que me dá mais prazer.

GE: G4 e Copa do Brasil. O Santos decidiu que não vai abrir mão de nenhum dos dois. É possível alcançar o título e a vaga?
Dorival Jr: O Santos vai continuar trabalhando para que isso aconteça. Não vai abrir mão, realmente, de nenhum dos dois. Tivemos dez dias de parada e eu só fiquei muito chateado porque eu não tive três jogadores na Seleção e quatro ou cinco do departamento médico. Porque, com certeza, o Santos teria um ganho que seria importante. Mesmo assim, eu não lamento, porque preparamos uma equipe ou reformulamos uma equipe para que estejamos fortes. Eu só garanto ao torcedor santista que o jogo seguinte vai ser tão empolgante, tão motivante, tão disputando quanto foi o anterior, independente dos nomes que estejam em campo. O Santos vai ser bem representado. Se vamos chegar, só Ele (Deus) sabe, mas nós vamos trabalhar muito para que isso venha a acontecer.

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