Expulso contra o Palmeiras em 98, Narciso guia Santos à tranquilidade - Gazeta Esportiva
Expulso contra o Palmeiras em 98, Narciso guia Santos à tranquilidade

Expulso contra o Palmeiras em 98, Narciso guia Santos à tranquilidade

Gazeta Esportiva

Por Ana Carolina da Silva*

25/11/2015 às 09:00

São Paulo, SP

Recuperado do drama de um câncer, Narciso crê em um clássico de poucos desentendimentos (foto: Djalma Vassao / Gazeta Press)
Ao contrário de 1998, Narciso crê em um clássico de poucos desentendimentos (foto: Djalma Vassao / Gazeta Press)

Os dois maiores campeões nacionais se preparam para a decisão da Copa do Brasil com os olhos voltados para o passado. Antes do confronto de ida e volta que se inicia na noite desta quarta-feira, Santos e Palmeiras se enfrentaram em uma única edição do torneio: melhor para o Verdão, que superou o rival na semi de 1998 com dois empates e avançou à final, pouco antes de se sagrar campeão contra o Cruzeiro. Disputada no antigo Palestra Itália, a primeira partida contou com expulsões dos dois lados.


“Não lembro como começou exatamente, só sei que eu estava naquele empurra-empurra na área, aquela confusão de sempre. Eu estava no meio da confusão, ali entre o empurra-empurra e a turma do ‘deixa disso’. Como o ambiente estava ficando meio tenso, o árbitro acabou expulsando eu e o Cleber para dar o exemplo para os outros jogadores”, explicou Narciso, o santista escolhido para deixar o gramado mais cedo naquela ocasião, em entrevista à Gazeta Esportiva.




O diagnóstico de leucemia interrompeu a carreira do ex-beque no início do século (foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)
O diagnóstico de leucemia interrompeu a carreira do ex-beque no início do século (foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Apesar do desenrolar negativo proporcionado pelo “empurra-empurra” na área santista do Palestra Itália, o ex-defensor não demonstra preocupação com o emocional dos novos Meninos da Vila. Desta vez, as esperanças de Dorival Júnior recaem sobre os garotos Gabriel Barbosa, Marquinhos Gabriel e Thiago Maia, além do inteligente Lucas Lima. Em contraponto, os experientes Ricardo Oliveira e Renato equilibram a faixa etária alvinegra, proporcionando também tranquilidade a Narciso.


“Os dois times são jovens, as mesmas coisas podem acontecer com os dois. São dois times muito bem treinados e orientados, creio que isso não vá ser um problema. É claro que o nervosismo e a ansiedade acabam interferindo um pouco, ainda mais que os árbitros estão cada vez mais rigorosos, mas não vejo isso como uma preocupação de nenhum dos lados”, minimizou o ex-zagueiro.


A igualdade em 1 a 1 foi construída com gols de Oséas (Palmeiras) e Élder (Santos). As expulsões dos dois zagueiros foram determinantes até para o confronto de volta, na Vila Belmiro. Se o Peixe era favorito antes, os desfalques enfraqueceram a retaguarda dos dois lados, resultando em novo empate em 2 a 2. “Mesmo sendo expulso, eu sabia que nós tínhamos a possibilidade de passar. Fomos muito melhores que o Palmeiras no primeiro jogo, mesmo atuando no Palestra. Podíamos ter passado na Vila, mas infelizmente não foi isso que aconteceu”, comentou.



Hoje comandante do Internacional, Argel Fucks marcou o primeiro do Santos na Vila Belmiro, seguido pelo atacante Viola. Darci e Oséas, mais um vez, descontaram para o lado alviverde. Quanto ao duelo de 2015, as atenções se voltam para as jovens revelações: os xarás Gabriel Barbosa e Gabriel Jesus. “Os dois estão prontos, eles têm demonstrado isso. O [Gabriel] Barbosa tem um pouco mais de tempo no futebol profissional e é um finalizador nato, então leva essa vantagem. Mas o [Gabriel] Jesus é uma das grandes revelações do Brasil nos últimos anos, tem boa movimentação. Quem ganha com isso, além dos clubes, é o futebol brasileiro”, avaliou Narciso.


Ex-treinador da base e interino do próprio Palmeiras – o profissional assumiu o comando do time brevemente após a saída de Luiz Felipe Scolari em 2013 –, o antigo jogador de Santos e Flamengo não vê necessidade de aconselhar o Peixe, que vê como mais apto para o título do que o Verdão. “O meu conselho seria para manter aquilo que estão fazendo até agora no Brasileiro e na Copa do Brasil. No momento, o Santos está com uma equipe mais ajustada, na minha opinião. Como o Palmeiras teve que passar pela reformulação nesse ano, o Santos tem uma base mais preparada. Mas é muito difícil apontar um favorito para um jogo como esse, não tem como. Além de clássico, é decisão”, pontuou, exaltando o período vivido no Alviverde.


“Fiquei muito lisonjeado com a oportunidade de trabalhar no clube. Foi uma experiência muito grande, sem dúvida alguma me proporcionou um crescimento enorme. O Palmeiras é uma boa casa para se trabalhar”, elogiou. Porém, o funcionário foi demitido sem aviso no dia 11 de março, em reestruturação promovida por José Carlos Brunoro. Tudo isso pouco depois de recusar uma proposta do Cruzeiro.




Interino depois de Felipão, Narciso ainda atuou como auxiliar de Kleina por um período (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Interino depois de Felipão, Narciso ainda foi auxiliar de Kleina por um período (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

“Eu diria que arrependimento é uma palavra forte. Eu não esperava que isso [a demissão] acontecesse, ainda mais tão cedo naquele ano. Mas ao mesmo tempo, também respeito as decisões do Brunoro. Abaixo do Paulo Nobre, era ele que estava no comando do futebol naquele momento e tomou a decisão que julgou mais apropriada. Então não tenho nenhuma mágoa, nenhum rancor”, minimizou.


Ao elogiar o que chama de “base mais preparada”, Narciso acaba por destacar o trabalho de Dorival Júnior, com o qual estagiou no Santos em setembro deste ano. Mesmo assim, o ex-técnico do Linense não poupou elogios ao rival Marcelo Oliveira. “Eu procuro me espelhar na frieza que o Marcelo tem. Dá para notar que ele não se desespera na beira do campo, e isso ajuda muito para ter uma leitura melhor do jogo, pensar direitinho no que você quer e precisa mexer. Fez um trabalho fantástico no Cruzeiro e agora está tentando fazer o mesmo no Palmeiras”, indicou.


Quanto à passagem encerrada pelo time de Lins, o treinador já analisa as propostas para 2016, revelando ter sido sondado por equipes do Campeonato Paulista. “Vou tentar decidir o quanto antes, até porque time menor precisa de mais tempo para se preparar na pré-temporada”, completou, sem fechar as portas aos dois finalistas da Copa do Brasil, que se enfrentam nesta quarta-feira, às 22 horas (de Brasília), na Vila Belmiro. “São duas casas muito grandes do futebol brasileiro e estou sempre disposto a conversar, não fecho as portas para ninguém no futebol brasileiro.”


A leucemia mielóide que quase o afastou de vez do futebol no início dos anos 2000 já ficou para trás. De olho no futuro, o estudioso Narciso se aprimora como treinador e se prepara para assumir algum clube brasileiro em tempos de pouca análise nos gramados nacionais, ainda se permitindo um momento de reflexão acerca da doença que tanto o atingiu. “As autoridades deveriam promover mais informações sobre uma doença que a gente tem visto muito, infelizmente. Não só a leucemia mielóide, mas outros tipos de câncer também. Falta informação sobre isso. Clubes como Santos e Palmeiras podem dar sua contribuição, lógico, mas a obrigação principal é do governo”, pressionou, pronto para acompanhar a decisão entre os dois rivais que conhece tão bem.




Um Gabriel para cada lado: duelo será iniciado na Vila (fotos: Fernando Dantas/Gazeta Press e Ricardo Saibun/Santos)
Um Gabriel para cada lado: duelo será iniciado na Vila (fotos: Fernando Dantas/Gazeta Press e Ricardo Saibun/Santos)

*especial para a Gazeta Esportiva

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