Rival em 1965, uruguaio da Academia visitou Palmeiras até morrer - Gazeta Esportiva
Rival em 1965, uruguaio da Academia visitou Palmeiras até morrer

Rival em 1965, uruguaio da Academia visitou Palmeiras até morrer

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon e William Correia

19/01/2016 às 09:00 • Atualizado: 21/01/2016 às 15:59

São Paulo, SP

Edu Bala e Héctor Silva (os primeiros agachados da esquerda para a direita) foram companheiros no Palmeiras (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Edu Bala e Héctor Silva (os primeiros agachados da esq. para a dir.) foram companheiros no Palmeiras (Foto: Acervo/Gazeta Press)


O uruguaio Carlos Héctor “Lito” Silva não ganhou títulos e disputou menos de 100 partidas pela Sociedade Esportiva Palmeiras, mas permaneceu ligado ao clube até sua morte. Rival no histórico jogo em que o time representou a Seleção Brasileira no ano de 1965, ele defendeu a Academia de Futebol e é um dos principais ídolos do Peñarol, possível adversário alviverde nesta semana.

O meia direita marcou época no Peñarol ao ganhar o tricampeonato nacional (1964, 1965 e 1967), a Copa Libertadores 1966 e o Mundial Interclubes 1966, sobre o poderoso Real Madrid. Ele atuou ao lado de nomes como os compatriotas Ladislao Mazurkiewicz, Pablo Forlán e Pedro Rocha, além do equatoriano Alberto Spencer e do peruano Juan Joya. O ex-goleiro Roque Máspoli, campeão da Copa 1950, era o técnico.

Pelo Uruguai, Héctor foi convocado para as edições de 1962 e 1966 do Mundial. E participou como coadjuvante de um dos momentos mais importantes da história do Palmeiras. Em 1965, sob o comando do técnico argentino Filpo Núñez, o clube representou a Seleção Brasileira, no jogo que marcou a inauguração do Mineirão, e ganhou por 3 a 0 da Celeste, defendida pelo meia direita.

Cinco anos depois, Héctor foi contratado pelo Palmeiras. O time alviverde, campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa 1969, vivia a transição da primeira para a segunda Academia. No clube palestrino, ele disputou 80 jogos e marcou 16 gols. Ofuscado por Leivinha, quase 10 anos mais jovem, o uruguaio acabou contratado pela Portuguesa em 1972, não sem deixar um legado no Parque Antarctica.

Hector Silva (à direita) com ex-companheiros no Jantar dos Veteranos de 2014 (Foto: Fabio Menotti/Agência Palmeiras)
Uruguaio Hector Silva (à direita) com ex-companheiros no Jantar dos Veteranos de 2014 (Foto: Fabio Menotti/Agência Palmeiras)


“O Héctor Silva foi o responsável por recuperar a carreira do Edu Bala. Se ele não chegasse, tenho certeza de que o Edu teria sido dispensado em 1970”, explicou José Ezequiel Filho, estudioso da história do Palmeiras. “O Héctor tinha como principal característica os lançamentos em profundidade. Com ele, usando sua velocidade, o Edu viveu a melhor fase”, completou.

Embalado pelas assistências do uruguaio, Edu Bala pôde construir seu espaço na galeria de ídolos do Palmeiras, clube que defendeu de 1969 a 1978. Em 472 partidas, anotou 75 gols. Além do Robertão 1969, conquistou as edições de 1972 e 1973 do Campeonato Brasileiro e foi tricampeão paulista (1972, 1974 e 1976). Até hoje, o antigo ponta direita é grato ao ex-companheiro.

“O Héctor Silva foi essencial na minha história dentro do Palmeiras. Jogava de um jeito diferente de nós, brasileiros. Era muito mais rápido, com um só toque na bola, e nunca nos deixava em impedimento. Era tudo de primeira. Não lançava bola para você dividir com o marcador, era sempre na frente. Eu me sentia feliz jogando com ele. Foi um grande atleta”, elogiou.

Edu Bala e Héctor Silva, companheiros no Palmeiras no começo dos anos 1970, mantiveram contato constante, já que o uruguaio fazia questão de visitar o Brasil anualmente para participar do Jantar dos Veteranos, evento promovido pelo clube para reunir seus ex-jogadores. Vestido de maneira elegante, ele lembrava os velhos tempos com os antigos parceiros.

“Além de grande jogador, foi uma grande pessoa. Ficamos muito amigos. No último Jantar dos Veteranos que participou, o Héctor fez questão de cumprimentar todos os jogadores com quem atuou. A senhora dele se dava bem com a senhora do Eurico. Ele falava bastante do Palmeiras. Quando chegou, contou que sonhava em jogar no clube, pelos grandes atletas que havia. Foi muito importante para nós”, contou Edu.


Foto: Acervo/Gazeta Press

URUGUAIO NO TÚMULO DO CLUBE


O Palmeiras possui um túmulo oficial, localizado no Cemitério do Araçá, a poucos metros do Estádio do Pacaembu. O ex-atacante uruguaio Segundo Villadoniga é um dos ocupantes do jazigo mantido pela agremiação.

Tetracampeão uruguaio pelo Peñarol, ele conquistou no Palmeiras as edições de 1942 e 1944 do Campeonato Paulista. De 1942 a 1946, marcou 50 gols em 134 partidas pelo clube. Radicado em São Paulo, o uruguaio morreu em 2006.

O lateral direito Diogo, campeão da Libertadores e do Mundial pelo Peñarol em 1982, é o uruguaio com mais jogos pelo Palmeiras (145, de 1984 a 1989). Famoso pelos arremessos laterais e pelos casos de indisciplina, jogou a Copa 1986.


Vitimado por uma parada cardíaca, Carlos Héctor “Lito” Silva morreu em 30 de agosto de 2015, quatro dias depois do 101º aniversário do Palmeiras. Na ocasião, o clube alviverde, a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) e o Peñarol lamentaram o falecimento do ex-atleta aos 75 anos de idade. “Uma das grandes figuras de todos os tempos do Peñarol”, saudou o time de Montevidéu.

Nesta semana, dois dos clubes defendidos por Héctor Silva ao longo de sua carreira, adversários na decisão da Copa Libertadores 1961, podem se enfrentar em Montevidéu, terra natal do ex-jogador. Na quarta-feira, no Estádio Centenário, o Palmeiras enfrenta o Libertad-PAR e o Peñarol pega o Nacional. Três dias depois, duelam ganhadores e perdedores.

José Ezequiel Filho, conselheiro do Palmeiras, conversou com Héctor Silva na última visita do uruguaio ao Brasil para participar do Jantar dos Veteranos, em 2014. No hotel em que o ex-jogador se hospedou, ambos falaram longamente sobre futebol. O torcedor matou várias curiosidades, mas teve dificuldade para compreender a relação mantida pelo antigo meia direita com o clube que defendeu há mais de 40 anos.

“O Héctor acabou pegando justamente a transição da primeira para a segunda Academia e não ganhou títulos pelo Palmeiras. Mesmo assim, é considerado um ídolo pelos torcedores que o viram em campo. Já aposentado, fazia questão de viajar ao Brasil para o Jantar dos Veteranos, não perdia um. A relação dele com o clube e a empatia com os palmeirenses é algo que não tem explicação”, afirmou o estudioso.

Sob o comando do uruguaio Ventura Cambon (no detalhe), Palmeiras conquistou Copa Rio 1951 (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Sob o comando do uruguaio Ventura Cambon (no detalhe), Palmeiras conquistou Copa Rio 1951 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

TÉCNICOS URUGUAIOS GANHARAM COPA RIO 1951 E TRI PAULISTA


Poucos técnicos brilharam ao longo dos 101 anos de vida da Sociedade Esportiva Palmeiras, entre eles dois uruguaios. Superado apenas por Oswaldo Brandão, Luiz Felipe Scolari e Vanderlei Luxemburgo em número de partidas, Ventura Cambon dirigiu a equipe em 284 jogos e conquistou a histórica Copa Rio 1951, além do Torneio Rio-São Paulo 1951 e das edições de 1944 e 1950 do Campeonato Paulista. Como jogador do clube, sob o comando do compatriota Humberto Cabelli, ele ganhou o Rio-São Paulo 1933 e foi tricampeão paulista em 1932 (invicto), 1933 e 1934, feito jamais repetido pela agremiação. No Estadual de 1933, o Palestra Itália venceu o Corinthians por 8 a 0, maior derrota da história do arquirrival.

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