Há 106 anos, Palmeiras nasceu para congregar imigrantes italianos de São Paulo - Gazeta Esportiva
Há 106 anos, Palmeiras nasceu para congregar imigrantes italianos de São Paulo

Há 106 anos, Palmeiras nasceu para congregar imigrantes italianos de São Paulo

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon

26/08/2020 às 08:00

São Paulo, SP

A Sociedade Esportiva Palmeiras completa nesta quarta-feira exatos 106 anos de fundação. Hoje com status de maior campeão nacional e milhões de torcedores, o Palestra Itália foi criado no dia 26 de agosto de 1914 para congregar os integrantes da numerosa colônia em São Paulo.

Luigi Cervo foi o mentor da nova agremiação. Fã de futebol, ele era sócio do extinto Sport Club Internacional-SP e também participava da Sociedade Dramática e Recreativa Bella Estrella, da qual saiu ao lado de alguns companheiros após um incidente disposto a iniciar uma nova instituição.

A recente passagem do Torino por São Paulo foi inspiradora para Cervo. “Aquela visita firmou, em mim e nos meus companheiros da sociedade Bella Estrella, a ideia de fundar uma sociedade esportiva da colônia italiana. Nossos propósitos entusiasmaram numerosos moços, filhos de nossos italianos, que já militavam nas equipes de futebol”, disse o imigrante em discurso proferido durante os festejos pelos 25 anos do Palestra Itália, em 1939.

Cervo era funcionário das Indústrias Matarazzo e disseminou a ideia entre os conhecidos. Na tentativa de ampliar a divulgação do projeto, ele visitou a sede do Fanfulla, jornal voltado à colônia italiana em São Paulo. Dias depois, o então estudante Vicente Ragognetti escreveu uma carta a ser publicada pelo periódico.

“Nós temos em São Paulo o clube de futebol dos alemães, dos ingleses, dos portugueses, dos estrangeiros e, por fim, dos católicos e protestantes. Mas um clube que seja composto somente de esportistas italianos, apesar de nossa colônia ser grande, não existe e nem sequer foi tentado”, diz a carta inicial, datada do dia 13 de agosto.

Antiga Rua Marechal Deodoro, local de fundação do Palestra Itália (Foto: Acervo/Gazeta Press)


Atraídos por um novo comunicado publicado pelo Fanfulla, aproximadamente 46 pessoas, a maioria funcionárias das Indústrias Matarazzo, se reuniram no Salão Alhambra, na antiga Rua Marechal Deodoro, para efetivamente fundar o novo clube no dia 26 de agosto de 1914.

Na época, o futebol ainda dava seus primeiros passos no Brasil – Charles Miller introduzira o esporte na capital paulista em 1894. Para formar uma entidade dedicada à modalidade, os idealizadores do novo clube precisaram defender o projeto de maneira incisiva nas primeiras reuniões.

"Havia quem se batesse para uma sociedade dramática-recreativa e quem defendesse uma sociedade puramente esportiva. Eu, que era o secretário-geral e ocupei tal cargo durante longos anos consecutivamente, consegui conciliar as diferentes tendências propondo uma sociedade mista", contou Cervo.

A proposta de incluir a prática do futebol venceu e a nova agremiação ganhou o nome de Palestra Itália, sugerido por Cervo – a palavra, de origem grega, significa “academia ou escola onde se pratica atividades físicas”. Foram adotadas as mesmas cores da bandeira italiana, Ezequiel Simone virou o primeiro presidente e Luigi Marzo, o vice.




Com a unificação da Itália relativamente recente, ainda era perceptível em São Paulo o agrupamento de imigrantes oriundos de uma mesma região, como calabreses, sicilianos, vênetos e napolitanos, falando os próprios dialetos. A criação do clube para representar a colônia, desta forma, serviu para aproximar os compatriotas.

"A unificação da Itália ainda era algo novo. Não se tinha uma ideia de unidade. Através do Palestra Itália e pela prática do futebol, um esporte em franca popularização, toda a massa de imigrantes da época passou a se aglutinar e se ver representada", explicou Fernando Galuppo, estudioso da história do clube, em 2014.

Antes de efetivamente entrar em campo para enfrentar um adversário, o Palestra Itália passou meses treinando em um campo da Rua Major Maragliano, na Vila Mariana. Os insucessos nos primeiros jogos desmotivaram muitos times, algo que a recém-criada agremiação desejava evitar.

Além de enfrentar as dificuldades inerentes à formação de um novo clube, o Palestra Itália foi diretamente afetado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e quase encerrou suas atividades de forma precoce. A agremiação perdeu sócios e jogadores, convocados para lutar pelo país de origem, mas sobreviveu.

Em seu primeiro jogo, disputado no dia 24 de janeiro de 1915, o Palestra Itália venceu o Savoia por 2 a 0, em Sorocaba, com gols de Bianco e Alegretti. Representaram o novo clube Stillitano, Bonato e Fúlvio; Police, Bianco e Valle; Cavinato, Américo, Alegretti, Amílcar e Ferré. A Taça Savoia, conquistada na ocasião, permanece no acervo da centenária agremiação.

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