Glória, glória, aleluia: padre do Palmeiras abençoa Gabriel Jesus - Gazeta Esportiva
Glória, glória, aleluia: padre do Palmeiras abençoa Gabriel Jesus

Glória, glória, aleluia: padre do Palmeiras abençoa Gabriel Jesus

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon

11/09/2015 às 09:00 • Atualizado: 11/09/2015 às 17:42

São Paulo, SP

De batina branca e estola verde, padre Anísio Baldessin abençoa Gabriel Jesus. (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
De batina branca e estola verde, padre Anísio Baldessin abençoa Gabriel Jesus (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)


Em tempos de provação, a torcida do Palmeiras, ávida por um messias, tem fé em Gabriel Jesus. O jovem de 18 anos, dono da camisa número 33, ainda não fez milagres, mas já está em processo de canonização, status alcançado apenas por São Marcos e Ademir da Guia, o Divino. Antes da partida contra o Figueirense, o atacante foi abençoado.

A Sociedade Esportiva Palmeiras celebra missas todos os domingos. A convite da Gazeta Esportiva, Anísio Baldessin, um dos padres responsáveis pelos cultos nas dependências do clube, visitou a Academia de Futebol. De batina branca e estola verde, o religioso, fanático torcedor palestrino, abençoou Gabriel Fernando de Jesus sob as redes de um gol.

Com os braços colados ao corpo, de olhos fechados, o jovem ouviu respeitosamente as palavras do padre. Dono da camisa 33, número alusivo à idade de Cristo ao ser crucificado, o garoto que completou 18 anos na última Sexta-feira Santa é a principal esperança do Palmeiras para formar uma trindade ao lado de Marcos e Ademir da Guia.

“Eu nunca gostei do Fernando no meu nome. Sempre preferi ser chamado de Gabriel Jesus mesmo. Quando ainda estava nas categorias de base e escolhi o Jesus, me avisaram que teria um monte de brincadeiras, mas é meu nome. Fazer o quê?”, sorriu o atacante, já habituado com a camisa 33, sugerida pelo clube. “Gostei do número”, completou.




A torcida do Palmeiras, responsável por parodiar uma música do corintiano padre Marcelo Rossi nos anos 1990, criou também uma canção especial para louvar o atacante antes de cada jogo, honraria reservada aos atletas mais queridos da escalação inicial. “Glória, glória, aleluia! Glória, glória, aleluia! Glória, glória, aleluia! É Gabriel Jesus!”, cantam os devotos.

“Pelo carinho da torcida, eu gostei da música, mas às vezes dá um sei lá o quê, por causa do nome Jesus”, contou o atleta, religioso. “Tenho o costume de rezar antes das partidas, de pedir para Deus nos guiar e proteger a todos que estão em campo. Sempre oro para que ninguém se machuque e para que os jogadores possam sair da mesma forma que entraram”, contou.

Anísio Baldessin, um dos padres responsáveis pelas missas celebradas todos os domingos no Palmeiras, virou torcedor do clube ao testemunhar os milagres do divino Ademir da Guia, líder da Academia de Futebol, time que marcou época durante os anos 1960 e 1970. Fã de Leivinha, autor de 105 gols com a camisa alviverde, o religioso fala com otimismo sobre Gabriel Jesus.

“Pelo que vi jogar, é um cara diferente. Sempre observo como os centroavantes finalizam. Os bons atacantes não dão chutão, e o Gabriel é assim. Quando fica na cara do goleiro, pensa muito rápido e sabe definir. Acho que tem futuro”, disse Baldessin, à la São Tomé. “Precisa jogar mais partidas, porque várias promessas surgiram e não se confirmaram”, completou.


Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

O JESUS BOLIVIANO


Com apenas 18 anos, Gabriel Fernando de Jesus dá seus primeiros passos. O Palmeiras, no entanto, conta com um homônimo há muito tempo. Nascido na Bolívia, Jesus Mino (foto) é um personagem folclórico no clube em que passou a viver na década de 1970.

No ano passado, a convite da Gazeta Esportiva, o Jesus boliviano visitou as dependências do novo estádio, à época em obras. Querido pelos integrantes da Academia de Futebol, ele é lembrado até hoje por ídolos como César Maluco e Leivinha.

Há uma espécie de lenda em torno da figura de Jesus Mino. Ele começou no Palmeiras como engraxate e, não se sabe exatamente como, passou a viver no clube. Aos 76 anos, tem certa dificuldade para se expressar e mora em uma das casas mantidas pela agremiação na rua Padre Antônio Tomás.


O padre viu das arquibancadas momentos marcantes da trajetória do clube, do vice-campeonato paulista diante da Inter de Limeira em 1986 ao histórico título estadual de 1993, conquistado sobre o Corinthians. Nas missas do Palmeiras, frequentadas pelo ex-presidente Affonso Della Monica, são comuns devotos trajados com o uniforme alviverde e pedidos pela equipe de futebol, contou Baldessin, morador das imediações do Palestra Itália.

“Acho que Deus não tem nada a ver com esporte, mas o pessoal acredita nisso e sempre reza para o time ganhar. Costumo dizer que, para vencer, a equipe precisa é treinar”, afirmou, sem recriminar a associação entre futebol e religião, comum em diferentes clubes. “Eu considero engraçado, saudável. O estádio é um lugar para as pessoas desabafarem e as coisas que as torcidas criam são bacanas”, completou.

Formado em filosofia e teologia, Baldessin foi capelão do Hospital das Clínicas durante 22 anos – na função, conheceu um palmeirense que grudou adesivos com o símbolo do clube no próprio corpo para ajudar na cicatrização de uma cirurgia cardíaca. As experiências do padre na instituição de saúde estão reunidas no livro “Entre a Vida e a Morte – Medicina e Religião”, publicado em 2012 pelas Edições Loyola.

Atualmente, ele é vice-reitor e pró-reitor administrativo do Centro Universitário São Camilo, além de fanático torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras. “Nesse ano, com o time sem conjunto, não tem como esperar muita coisa. Se conseguirmos ficar entre os quatro primeiros do Campeonato Brasileiro para disputar a Copa Libertadores, é lucro. A partir de 2016, já teremos condições de melhorar”, profetizou Baldessin.

Frei Cebolinha entra em campo com Palmeiras no Morumbi pelo Campeonato Paulista 1980
Frei Cebolinha entra em campo com Palmeiras no Morumbi pelo Campeonato Paulista 1980 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

CLUBE TEVE FREI CEBOLINHA CONTRA JEJUM DE TÍTULOS


Nos anos 1980, durante o longo jejum de títulos, o Palmeiras contou com o inusitado apoio do frei Cebolinha. A presença do irreverente religioso, contudo, não foi suficiente para encerrar a fila, o que ocorreu apenas com a conquista do Campeonato Paulista 1993.

“Obeso, batina gasta pelo tempo, rosto avermelhado, ausência de cabelos, óculos grossos e demonstrando um excelente preparo físico, frei Cebolinha tem sido presença certa nos últimos jogos do Palmeiras”, noticiou o jornal A Gazeta Esportiva na edição do dia 15 de setembro de 1980.

O franciscano, nascido na Itália, costumava abençoar jogadores e rogar praga contra árbitros. “Vamos, Palmeiras! O frei Cebolinha está com vocês!”, dizia. Antes de um 0 a 0 contra o Santos pelo Campeonato Paulista 1980, ele foi fotografado por A Gazeta Esportiva ao entrar em campo com o time fazendo o V da vitória.

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