Matheus começou contando sobre sua vida e como sempre teve problemas com o uso excessivo de drogas e álcool, principalmente quando jogava pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita. Nessa época, ele se animou com uma oportunidade que surgiu para se transferir para o Corinthians, mas pensou que a pressão da mídia seria muito grande jogando por um grande clube do Brasil. Ele então se transferiu para o Al-Wahda, dos Emirados Árabes.
O jogador, que também teve passagens por Portugal, Inglaterra e Alemanha, disse que o pico de seus problemas emocionais ocorreu quando pensou em tirar a própria vida, nesse período em que atuava nos Emirados Árabes, logo antes de assinar pelo Cruzeiro:
"O clube (Al-Wahda) colocou a gente pra morar num hotel de luxo, no apartamento do 19° andar. Até hoje a minha esposa diz que a vista lá de cima era linda. Eu não lembro de ter olhado algum dia pra ela. Pra mim era tudo escuridão e desespero.(...) Eu queria me livrar de tanto sofrimento que eu nem entendia de onde vinha. Tinha noite que eu bebia três garrafas de vinho. Treinei bêbado várias vezes e fiquei outras tantas internado no hospital com hipocalemia, tomando soro pra tratar a falta de potássio no sangue, porque eu não me alimentava, só ingeria álcool."
"Até que um dia eu abri a janela do nosso apartamento e só não me joguei porque a minha esposa foi mais rápida. Ela me agarrou, me puxou pra dentro e a gente ficou um tempão chorando abraçado ali no chão da sala, sabendo que não era o fim — nem o meu, nem o do meu sofrimento."
O meia disse ainda, que teve outro relapso de pensamentos suicidas, em que queria dirigir até uma ponte para se jogar, mas foi impedido pelo mau funcionamento do seu carro e pelo auxílio de sua esposa.
Matheus relatou que culpava o futebol por todo o seu sofrimento após estes dois episódios. A um passo de desistir completamente de jogar, recebeu um contato do Cruzeiro em 2023, onde reencontrou sua paixão pelo esporte:
"No Cruzeiro eu reencontrei mais do que paz. Eu me reencontrei. Parece bobagem, mas não é. Porque no meio da escuridão, e eu andei muito por lá, a coisa mais difícil que tem é a gente se reconhecer".
Matheus finalizou o seu depoimento visando a importância do cuidado com a saúde mental, com esperanças de que seu testemunho possa ajudar outras pessoas que estão sofrendo do mesmo mal que ele sofreu. Ele ainda adicionou:
"Hoje eu estou bem. Melhor do que antes. E ainda tenho coisas para resolver e curar. Eu me reconheço de novo: no alívio de não precisar mais esconder tudo o que passei, no reencontro com a paixão de menino onde ela sempre esteve e, principalmente, no Mineirão cheio de cruzeirenses em noite de céu estrelado, onde me enxergo sóbrio, inteiro e feliz."