Geraldão se enxerga em Love e prevê gol do título marcado pelo sucessor
Por Marcos Guedes
23/10/2015 às 08:00
São Paulo, SP
Em reportagem publicada por A Gazeta Esportiva em novembro de 1993, Geraldão, então técnico dos juvenis do Corinthians, enumerou as lições que passava aos garotos. “Acreditar em todas as bolas” encabeçava a lista, um fiel retrato do comportamento que tinha em campo o centroavante, honesto também em relação aos defeitos. “Sem perder gol, não sou o Geraldão”, diverte-se até hoje.
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Assim era o artilheiro na conquista do título mais importante do clube do Parque São Jorge. “Criticado, gozado e tido como grosso, mas inegavelmente um dos mais importantes jogadores do time”, como descreveu A Gazeta em 1977, o atacante irritava pelos maus momentos técnicos e empolgava os sofridos torcedores em jejum com sua disposição. “Seu esforço é algo fora do comum. Corre por todos os lados do campo”, observou o jornal.
O esforçado goleador alvinegro no histórico Campeonato Paulista de 1977 enxerga um representante no atual elenco preto e branco. Mesmo sem saber o que significou Geraldão para o Corinthians, Vagner Love revive o velho camisa 9 marcando gols, desperdiçando chances e mostrando uma raça que os setores com ingressos mais caros do estádio de Itaquera não parecem compreender.
“Eu trabalhava, e a torcida via isso. Eu voltava para defender, estava a toda hora na nossa área ajudando a defesa. Era um cara que batalhava. E eu estou vendo isso no Vagner Love. Ele está dando tudo dentro de campo”, comentou o ex-jogador, em entrevista à Gazeta Esportiva. “Vejo a torcida pegando no pé às vezes, não é fácil ser centroavante. Mas ele está conquistando essa torcida devagar. Aos poucos, vai conquistar a torcida.”
Geraldão conhece o processo. Conquistar o torcedor era quase uma luta diária para ele, que desembarcou no Parque em 1975 como o artilheiro do Estadual do ano anterior, pelo Botafogo. O desempenho imediato não foi satisfatório, o que levou à conclusão: a diretoria havia buscado a flecha em Ribeirão Preto, mas se esquecera do arco, Sócrates, que só chegaria em 1978.
Eram frequentes as partidas em que o estádio se dividia entre defensores e críticos do jogador. O garotinho Celso Unzelte não tinha dúvida e gritava “Ge-ral-do”. “Era meu ídolo de infância”, recordou o jornalista, que revirou a história do Corinthians para contá-la em almanaque e adicionou senso crítico à velha afeição. “Era aquele grosso que a gente adorava. Existia uma relação afetiva com a torcida.”
O principal historiador alvinegro se divertiu ao ouvir que Geraldão aprovou prontamente a comparação com o atual centroavante preto e branco. “Ele concordou porque está se saindo bem nessa aí. O Vagner Love é muito mais jogador do que ele”, disse Unzelte, sem negar que, em importância histórica, o carioca “tem que comer muito arroz com feijão” para se igualar ao antecessor.
O primeiro passo seria confirmar o título do Campeonato Brasileiro, algo que o paulista de Álvares Machado não conquistou. Vital na classificação à decisão do Estadual de 1977 – fazendo do São Paulo sua vítima favorita –, o centroavante também não conseguiu marcar na final, contra a Ponte Preta, deixando a libertação do povo sofrido para o angelical pé direito de Basílio.
Sem qualquer ressentimento por ter visto o camisa 8 se tornar o Pé de Anjo há 38 anos, o ex-jogador torce para que a jogada decisiva de 2015 tenha a participação de Love. Mais do que isso, ele aposta que seu sucessor – tão Geraldão que usa dois números 9 às costas – colocará na rede a bola definitiva. “Ele tem tudo para chegar lá. O Vagner merece, por todo o esforço que vem tendo.”