Paulo Schimitt afirmou que os episódios de manipulação já ocorriam com frequência nos últimos anos e se intensificaram depois da pandemia do vírus covid-19. O profissional ainda disse que alguns dos envolvidos passaram impunes, o que facilitou o crescimento do esquema.
"Os casos já haviam surgido no últimos anos. Deu uma estabilizada durante a pandemia, quando os eventos esportivos foram interrompidos, mas depois voltaram. Houve, inclusive, um jogo fantasma lá no estado do Paraná, só para fins de manipulação através de apostas. E sabe o que aconteceu com os envolvidos? Nada. É por isso que as coisas foram se avolumando", contou o consultor.
"É claro que é difícil acabar de vez com isso, mas precisamos ter elementos de contenção para mitigar o problema. O tamanho do problema é enorme, porque gira muito dinheiro. Os criminosos vão testando o efeito disso em vários países, para conhecer a matriz de risco de cada um. E o Brasil chegou ao primeiro lugar em 2022 como país com maior número de casos de manipulação. E esses números são anteriores à Operação Penalidade Máxima", completou.
Além disso, o consultor acredita que os danos provenientes do crime estão sendo subestimados, mas podem causar grandes impactos no futebol brasileiro. Ele ainda afirmou que é preciso fazer um "mea culpa" por parte das autoridades e que esta era uma "tragédia anunciada".
"Precisamos fazer um mea culpa de todos os lados. A gente teve a primeira operação em fevereiro, quando muitas notícias foram veiculadas, inclusive com evidências e provas sendo divulgadas na imprensa. Depois, em abril, houve o início do Brasileirão, e aí veio a outra operação, e consequentemente, a denúncia do Ministério Público e as providências do STJD. Então, desde fevereiro até agora, depois dos campeonatos iniciados, com provas veiculadas na imprensa, precisávamos ter sido mais ágeis. Será que estamos fazendo o nosso máximo?", indagou.
"Nós precisamos dar o tom de seriedade necessário para esse tema, porque essa é uma tragédia anunciada há muito tempo. Só cresceu no mundo inteiro e, principalmente, no Brasil. Nós falamos de cartão amarelo, lateral, escanteio, mas se nós olharmos o regulamento das competições, o cartão amarelo é critério de desempate. Os danos estão sendo subestimados, mas precisamos levar em conta esse impacto", concluiu.
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Confira abaixo alguns dos atletas citados nas investigações da Operação Penalidade Máxima II:
A Operação Penalidade Máxima, comandada pelo Ministério Público de Goiás, é o novo marco no combate ao esquema de manipulação de apostas no futebol brasileiro. Segundo investigações, estima-se que, pelo menos, 13 partidas sofreram adulterações, sendo oito do Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, uma da Série B de 2022 e quatro de Campeonatos Estaduais realizados em 2023: Goiano, o Gaúcho, Mato-Grossense e o Paulista.
Até o momento, nove apostadores e 15 jogadores já foram denunciados pela Justiça de Goiás, entre eles o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos. No entanto, mais de 40 atletas são citados nas investigações. Quatro deles preferiram entrar em acordo e admitiram a culpa, tornando-se testemunhas do caso. Já alguns foram afastados pelos seus respectivos clubes, enquanto outros, como Nino Paraíba, que estava no América-MG, tiveram seus contratos rescindidos.