O caminho até o topo - Gazeta Esportiva
André Garda*
Campos do Jordão (SP)
11/02/2017 08:00:03
 

Disputar grandes ralis é algo que exige um grande investimento. Contudo, a modalidade conta com competições menores ao longo de todo o ano e até pessoas sem experiência podem participar de alguns desses eventos. Lourival Roldan, que, junto com Leandro Torres, formou a primeira dupla brasileira a vencer uma categoria do Dakar (UTVs), conta um pouco como é o processo até chegar às principais provas de rali.

“O rali de regularidade, como o da Mitsubishi, serve para as pessoas conhecerem o esporte e se divertir. A partir do momento que ele gosta da modalidade, tem outras categorias, com níveis de dificuldades maiores. Após aprender a dirigir na terra, ouvir o navegador, a pessoa fica pronto para correr um rali de velocidade, em um circuito fechado. Daí pode correr um brasileiro de cross country, Sertões, e, tendo uma boa performance, consegue ter uma vaga no Dakar, que exige a participação de no mínimo dois grandes eventos nacionais, no caso Sertões e alguma prova de três a quatro dias”, conta o diretor de provas da empresa japonesa.

Por outro lado, esses eventos não têm muitos pré-requisitos, como revela Glauber Fontoura. “Eu acho que isso é uma somatória (de fatores para chegar nas principais competições). Mas, Como isso você pode comprar e ter, você tem que ter uma condição financeira razoável para conseguir comprar um carro, ter uma boa equipe de apoio e manter isso durante o ano”.

Apesar disso, para se conseguir ter bons desempenos é necessário ter experiência, de acordo com Roldan, que disputou dez Ralis Dakar para vencer o primeiro em 2017. O navegador ainda indica que é preciso “ter um nível de preparo, condicionamento psicológico e físico”, uma vez que as competições são longas – no caso de Dakar, 14 dias – e “qualquer coisa pode te tirar da prova”. Ele também acrescenta que existe o perigo de se perder e das corridas serem à noite, o que força muito estudo e psicológico por parte dos participantes. “O risco de se perder, ficar sem combustível e bater é muito grande. Já aconteceu diversas mortes. O risco existe e a gente tem que aprender a controlar isso”.

O diretor de provas ainda fala sobre a importância de se falar diversas línguas. “Em um Dakar não basta saber apenas a sua língua. Eu já vi um chinês desidratando e ele não entendia inglês, nenhuma outra língua e a gente tentava fazer ele beber água. Eu mesmo falo quatro línguas e converso com a organização em francês”.

O trabalho do navegador e a montagem das provas

O principal membro de uma dupla de rali é o navegador. Com a função de indicar o caminho certo, Lourival Roldan compara a profissão como a de um copiloto e avião. “Eu considero que o trabalho do navegador é um trabalho de um copiloto enquanto o avião está caindo. Ele tem que ler o manual e passar as instruções”, afirma o campeão de Dakar por causa da pressão e responsabilidade da função.

Além disso, ele acrescenta a necessidade de muito estudo para seguir na profissão. “Meu trabalho de navegador profissional (além de indicar o caminho) é fazer esse trabalho psicológico e passar calma para o piloto. Quando o carro quebra, tem que saber consertar, tem que ter na cabeça a região que você está andando para em caso de algum problema saber para onde seguir”.

O responsável por montar os ralis da Mitsubishi também contou como ele prepara uma prova. “A diretoria define as cidades que vão sediar os eventos no ano seguinte e o calendário é montado. Eu vou para as cidades com um mês de antecedência já com uma ideia mais ou menos do que vou fazer. Se é uma cidade que eu não conheço, eu pergunto para amigos da região e, se não dão dicas, olho na internet e escolho a região que vou andar e traço um esboço. A partir disso, ando por volta de quatro dias e vou determinando todo o trajeto da prova e peço as autorizações. Na semana anterior da prova, volto para a cidade para fazer o ajuste fino”.

*Especial para a Gazeta Esportiva