Hobby de alto investimento - Gazeta Esportiva
André Garda*
Campos do Jordão (SP)
11/01/2017 08:00:27
 

Apesar de ser amador e um hobby no Brasil, o mundo do rali requer muito investimento e profissionalismo. Com exceção de competições que abrangem diversos púbicos – indo de grandes nomes que disputaram ralis como os Sertões até famílias que apenas querem aproveitar o seu carro e o passeio –, as principais corridas da modalidade exigem uma logística profissional, muito investimento e preparação.

De acordo com Lourival Roldan, que, junto com Leandro Torres, formou a primeira dupla brasileira a vencer uma categoria do Dakar (UTVs), o investimento necessário para uma prova como Rali dos Sertões gira em torno de R$ 100 mil sem contar o carro. Já uma competição como Dakar exige uma verba entre 300 mil e 600 mil euros (entre R$ 1,15 milhão e R$ 2,3 milhões). O montante é destinado para equipe de apoio, mecânicos, chefe de equipes, inscrição, navegador profissional, viagens, equipamentos, entre outras necessidades para se conseguir um bom resultado.

A grande dificuldade é o fato de que essas competições não dão premiações em dinheiro para os vencedores, o que, segundo Roldan – que é navegador profissional e diretor de provas dos ralis da Mitsubishi –, faz com que muitas pessoas com alto nível sejam amadoras. Além disso, o financiamento, na maioria das vezes, é pessoal. “O rali de regularidade é amador. Não tem profissional praticamente. Em velocidade tem mais alguns profissionais, mas o rali no Brasil é um hobby…. Premiação em valores é zero. O próprio Sertões, que tem um gasto muito alto, não tem premiação. Geralmente é autofinanciamento. Não tem grandes patrocínios, nem nada, então os competidores acabam bancando”, afirma Fernando Luís Possetti, que já foi campeão no Rali dos Sertões.

Em uma das alternativas para tentar reduzir o dinheiro gasto, os participantes acabam fazendo parcerias. “As pessoas têm contatos, conhecem empresas que podem dar alguma colaboração, tem alguma troca comercial com as empresas. É assim que eles conseguem patrocínio. Dificilmente alguém consegue patrocínio isolado, direto, isso aí é muito mais difícil. Dá para conseguir, mas não é algo fácil. Geralmente tem muitas permutas e interesses comerciais entre as marcas”, revela Roldan.

Além disso, os competidores se unem para tentar baixar o custo da participação nesses grandes eventos, como conta Glauber Fontoura, que teve a equipe mais vitoriosa em 2017. “No meu 15º Rali dos Sertões, a gente levou uma estrutura muito grande. Foram três carretas, um caminhão dedicado para a cozinha, nove carros de apoio, 70 pessoas e levamos o maior número de carros de corrida (12) para dar apoio para todo mundo. Já é meu quarto Rali dos Sertões que eu ganho, mas por conta de ter um planejamento. Já estamos trabalhando para o do ano que vem”.

“O que eu fiz? Calculamos um custo para isso tudo e dividimos entre todos os competidores. Como não é uma coisa que eu faço para ganhar dinheiro, não trabalho com isso, eu fiz um rateio com todo mundo para poder viabilizar o rali de todos. Então eles pagaram menos do que o mercado cobra e tiveram mais qualidade do que o mercado tem”, completou. Apesar de todas as dificuldades, Lourival Roldan afirma: “é um esporte que exige investimento, mas a sensação é maravilhosa. Você tem que aprender muita coisa, mas vale a pena. É gratificante. A satisfação de conseguir completar um Dakar é muito grande. Vencer então é o paraíso”.

*Especial para a Gazeta Esportiva