Raça, determinação e sem abaixar a cabeça - Gazeta Esportiva
Felipe Leite
São Paulo, SP
01/23/2019 08:20:50
 

Os 2,08m de altura e quatro anos de experiência na NBA não tornam a vida de Cristiano Felício mais fácil na principal liga de basquete do mundo. Com muita raça, determinação e sem abaixar a cabeça para ninguém – como seu ídolo Kevin Garnett -, o pivô brasileiro reconheceu as dificuldades impostas somente por estar em um elenco da associação.

Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, Felício, um dos quatro atletas nacionais atualmente na NBA (os outros três são Nenê, do Houston Rockets, Raulzinho, do Utah Jazz, e Bruno Caboclo, que recentemente assinou contrato temporário com o Memphis Grizzlies), detalhou também sua “eterna luta por tempo em quadra” e, além disso, conversou sobre o início no esporte, processo de adaptação nos Estados Unidos e o seu time, o Chicago Bulls, também clube do lendário Michael Jordan.

Cristiano, primeiro gostaria que você detalhasse mais como o basquete se fez presente na sua infância e em qual exato momento que você teve o desejo de tornar-se jogador profissional.

Comecei a jogar basquete com 13 anos. Antes disso, eu praticava handebol. Entrei no basquete porque na cidade sempre tinha os Jogos Escolares, e o técnico me convidou para poder jogar. Acabei gostando muito do esporte e fui jogando cada vez mais, viajando também. Acredito que, no Minas, foi aonde eu comecei a ter mais visibilidade e comecei a acompanhar mais NBA. No meu segundo ano, depois de um jogo, foi aí que eu vi que poderia chegar na NBA. Coloquei a ideia na minha cabeça e a passei a treinar e melhorar cada vez mais para ser um jogador mais completo. Todo o trabalho e esforço que eu tive durante esses anos trouxeram frutos e, graças a Deus, consegui chegar onde queria.

Depois de defender o Minas, jogar nas universidades norte-americanas e voltar para o basquete brasileiro, como foi o processo de adaptação na NBA?

Acabou não sendo muito difícil. Tive muitos jogadores ao meu lado que já estavam na liga há muito tempo. Eles me ajudaram bastante nesse começo. Pau Gasol, Joakim Noah, Taj Gibson, até os armadores – Derrick Rose, Jimmy Butler, Mike Dunleavy… sempre com muita ajuda nesse começo, muitas dicas, e eu sempre procurava observar bastante o que eles faziam dentro de quadra. Acredito que isso me ajudou bastante na readaptação ao basquete americano.

Qual o jogador que você tem como inspiração para sua carreira?

Um jogador que eu tenho como ídolo até hoje é o Kevin Garnett. É um atleta que sempre deu tudo dentro de quadra. Tinha muita raça, muita determinação e não abaixava a cabeça para ninguém. É assim que tento jogar. Tento pegar também um pouco dessa inspiração, amor e paixão que ele tinha pelo jogo toda vez que entro em quadra.

Garnett foi eleito o modelo de inspiração para Felício na NBA (Foto: David Sherman/Divulgação/NBA)

O Raulzinho, em entrevista para a Gazeta Esportiva, disse que, para ele, a NBA será uma eterna luta por minutos e nunca será fácil. Você também se sente assim?

Com toda a certeza. Na NBA, você tem que estar lutando cada dia, cada segundo e cada treino pelos seus minutos. Nunca vai ser diferente. Se você não está em um momento bom, com certeza vão ter outros jogadores ali, esperando pela oportunidade. Acredito que, como o Raul falou, a NBA será uma briga eterna por tempo de quadra e jogar aqui nunca vai ser fácil.

Veja também: Raulzinho reconhece dificuldade na NBA: “Nunca vai ser fácil”

Os Bulls não atravessam um bom momento na atual temporada. Pensa que é uma situação frustrante? Deseja entrar mais em quadra para tentar mudar isso?
Essa temporada não está sendo como a gente esperava, mas acho que todos estão crescendo, de alguma forma, mesmo não ganhando muitos jogos. Sabemos o que precisamos fazer, então tentamos também evoluir dessa maneira e dar o máximo sempre em quadra. Acredito que a gente está no caminho certo e melhorando, entendendo mais um ao outro, e isso só tende a ajudar a gente no futuro. Com certeza é frustrante de estar perdendo jogo atrás de jogo, mas sabemos que o nosso momento é em três, quatro anos, quando todo mundo já tiver um entendimento maior de jogo. Assim, podemos sonhar em chegar na final e conquistar o título. É um processo que tem que ser feito, nem todos gostam, mas precisa ser feito. Estamos focados e firmes.

Como o elenco lidou com a demissão do técnico Fred Hoiberg? E com os novos métodos de treino de Jim Boylen?

A gente sabe que, na NBA, as coisas podem mudar de uma hora para a outra. Infelizmente tivemos uma mudança de técnico. Sabemos que, independentemente de quem estiver no comando, temos que sempre dar o máximo de nós dentro de quadra. O Jim Boylen tem um método diferente que o Fred Hoiberg tinha, de ser um técnico mais defensivo. Nós estamos nos adaptando bem melhor ao estilo de jogo que ele (Boylen) tem nos passado agora. No começo, foi difícil, porque mudança no meio da temporada é sempre complicado. Mas nós somos profissionais e temos que saber que essas coisas vão acontecer.

O que o futuro reserva para Cristiano Felício?

Não sou muito de pensar no futuro, foco mais no presente. Procuro sempre dar o meu máximo para, quando o futuro chegar, eu poder olhar para trás e falar que sempre dei meu melhor, onde quer que eu esteja. Esse é o caminho que quero tomar para minha vida. Vou sempre dar o meu máximo e fazer tudo o que posso para ter uma carreira boa, onde quer que seja.

Deseja retornar ao basquete brasileiro em algum ponto da carreira?

Voltar ao Brasil… não posso falar que não pode acontecer em algum momento, mas acredito que possa ser difícil um retorno por agora. Quem sabe daqui oito, dez anos, assim como aconteceu com o Varejão e o Leandrinho?