Ninguém viu a Libertadores 1999 como eles - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
06/14/2019 09:00:42
 

O melhor documento sobre o único título da Sociedade Esportiva Palmeiras na Copa Libertadores foi produzido por Luiz Fernando Santoro e Flávio Tirico. Há 20 anos, com acesso ao vestiário dirigido pelo exigente Luiz Felipe Scolari, os dois gravaram o filme oficial da campanha vitoriosa, publicado no antigo formato VHS.

Gazeta Esportiva publica matérias e documentário sobre título

Santoro e Tirico bancaram o projeto com recursos próprios e acompanharam o Palmeiras do começo ao fim da Copa Libertadores 1999 – nos jogos fora de casa, viajavam nos mesmos aviões e ficavam nos mesmos hotéis da delegação. O então presidente Mustafá Contursi, os atletas e até Felipão aprovaram as filmagens.

“Tivemos o primeiro contato com Zinho, César Sampaio e Evair, as lideranças. Eles entenderam a questão histórica e gostaram do projeto”, explicou Santoro. “O Felipão disse: ‘Bom, se todos estão de acordo… Quando tiver algo que não devem gravar, eu olho e vocês saem’. Isso acontecia, de vez em quando”, completou.

Santoro e Tirico tiveram como princípio durante as filmagens o conceito de não tentar qualquer tipo de interferência nas situações, o que serviu para estreitar laços com elenco e comissão técnica. A dupla também deu espaço aos coadjuvantes do grupo de trabalho, como o roupeiro Chiquinho e os massagistas Miro e Miguel.

“A ideia era captar o que ninguém captaria. Entrávamos no vestiário como se fôssemos um torcedor que ficava observando. Não tinha a coisa do repórter, de perguntar e tal… Isso criou uma confiança grande, tanto é que, do meio para o final, nossa relação com o pessoal do Palmeiras mudou”, contou Santoro.

Vistos com respeito, os documentaristas gravaram momentos históricos, como a emoção no vestiário do Morumbi após a classificação à semifinal sobre o Corinthians, as rodas antes e depois dos jogos e o começo de São Marcos. Há também passagens descontraídas, a exemplo de uma batucada nos galões de isotônico promovida pelos laterais Júnior e Neném.

“Eu nunca via os finais das partidas, porque, 10 minutos antes de terminar, descia aos vestiários para esperar a chegada dos jogadores”, explicou Tirico, que viveu situação inusitada na final contra o Deportivo Cali. “Durante os pênaltis, ficamos no vestiário eu e o Evair, expulso no tempo normal”, recordou.

Vinte anos depois, os documentaristas, palmeirenses de coração, atribuem o sucesso do Palmeiras na Copa Libertadores 1999 em grande parte a Luiz Felipe Scolari. A ascendência do técnico sobre o elenco e o carinho em relação a cada atleta ficam claros no filme.

“O Felipão sabe exatamente quem é cada jogador: a potencialidade, a personalidade e do que ele é capaz. Sabe identificar essas coisas, muito mais do que o esquema de jogo”, disse Santoro. “O negócio do Felipão é vestiário. Ele fala com um por um, pergunta se está legal ou não. É outra relação”, contou Tirico.

Orgulhosos, os dois palmeirenses ocasionalmente reveem o filme, guardado, inclusive, por alguns jogadores do elenco campeão, caso de Zinho. Atualmente, em tempos de futebol moderno, Luiz Fernando Santoro e Flávio Tirico entendem que seria impossível produzir algo semelhante.

“Hoje, a assessoria controla demais e o jogador tem toda uma imagem a preservar”, disse Santoro. “A imprensa publicou os gols e o que saiu nos jornais, então esse documentário é único. Conseguimos vencer o preconceito de o time se mostrar de dentro para fora. Não o time que assessoria quer mostrar, mas um time mais verdadeiro”, completou, satisfeito.