Tuma se diz único candidato de oposição e promete mudança radical - Gazeta Esportiva
Helder Júnior e Tomás Rosolino
São Paulo (SP)
02/01/2018 08:04:06
 

Famoso por sua atuação na área de segurança pública, Romeu Tuma Júnior pode até não ser o único candidato de oposição à presidência do Corinthians, como se apresenta, mas certamente é o mais radical. O advogado de 57 anos ergue a voz para prometer, por exemplo, sanar a dívida com a construtora Odebrecht por meio de processos por danos morais e materiais. Chega até a ameaçar a TV Globo, com a proposta de criar um canal fechado para transmitir jogos do clube, e a Nike, com a ideia de importar uniformes da China.

Para esmiuçar os projetos dos cinco candidatos à presidência do Corinthians, a Gazeta Esportiva colheu longos depoimentos de Andrés Sanchez, Antonio Roque Citadini, Felipe Ezabella, Paulo Garcia e Romeu Tuma Júnior. Cada um deles teve aproximadamente uma hora para defender as suas ideias e palpitar sobre os mais variados assuntos, da política corintiana à gestão da dívida do Estádio de Itaquera.

Na semana que termina com a eleição no Parque São Jorge, marcada para o sábado de 3 de fevereiro, as explanações dos postulantes ao cargo de Roberto de Andrade foram publicadas diariamente pelo portal, uma a uma, seguindo a ordem da realização das entrevistas. Abaixo, leia o que falou Romeu Tuma Júnior.

Por que ser candidato
Não fui eu que decidi, na verdade. Foi um grupo de pessoas. Estávamos construindo um projeto de mudança no método de administração do Corinthians, um modelo de gestão. Ouvimos muita gente – entre sócios, conselheiros, dirigentes, ex-dirigentes, atletas e torcedores – para conceber algo capaz de acabar com esse presidencialismo de cooptação que existe no clube há muitos anos. Registramos tudo em cartório e apresentamos as nossas ideias a vários candidatos que estão aí. Ninguém encampou. Inclusive, ninguém nunca apresenta um plano de gestão na eleição. Fazem só um folderzinho e não cumprem nada.

Sabe como foi a recepção ao nosso projeto? E olha que apresentei para o Roque (Citadini), para o Paulo (Garcia), para várias pessoas. Eles falavam: “Vamos ver depois. Você não quer ser meu vice?”. E eu não quero cargo! Se montassem uma chapa com o que estávamos propondo, eu seria o faxineiro. A nossa intenção não é tomar o poder, mas mudar a forma de administrar o Corinthians. Esse negócio de dar cargo em troca de apoio só dá em mais do mesmo. Você acaba criando uma nova Renovação e Transparência (grupo político de Andrés Sanchez). E, com a Renovação, é inconcebível qualquer papo. O modelo de gestão deles é o que deve ser mudado. Eles te prometem até o céu na hora de fazer loteamento de cargos.

Tuma diz que se frustrou ao levar o seu projeto a outros candidatos à presidência do Corinthians (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Mas, aí, sem conseguir levar isso adiante, o pessoal ficou meio frustrado. Eles falavam: “Pô, vai sair gente se dizendo de oposição, que, na verdade, não é oposição. É mais do mesmo”. Foi quando me pediram para eu encampar o projeto e ser candidato. No começo, relutei. Só que não dava para jogar tudo aquilo que pensamos no lixo. Essa é a última oportunidade que o Corinthians tem de não falir. Aceitei a missão de ser candidato.

O que mudar em relação à atual gestão
Muita coisa. E eu sou o único candidato de oposição para mudar, de fato. Estou na oposição há 23 anos, lutando contra tudo o que está aí, alertando o Conselho, a diretoria. E nada tem funcionado. Tanto é que previ uma série de coisas que estão acontecendo. Quando criaram o fundo para pagar o estádio, em 2012, avisei que tudo deveria ser distribuído para todos os conselheiros analisarem com cautela, e não concordaram. Empurraram uma votação goela abaixo da gente. Fui o único que me manifestei contrário ao fundo, e o resultado está aí.

Hoje, temos dois grandes problemas no Corinthians, que desencadeiam todos os outros – a gestão financeira e o marketing –, com dois apensos – o jurídico e o futebol de base. E, se você analisar as chapas que se dizem de oposição, verá que sempre há gente que foi direta ou indiretamente ligada a essas áreas nos últimos 15 anos.

Vou dar nomes. Quando o (Alberto) Dualib esteve à beira do impeachment e renunciou, o diretor financeiro dele era o Piovesan (candidato a vice-presidente na chapa de Paulo Garcia). As contas foram rejeitadas. Saiu o Piovesan, entrou o Raul (Corrêa da Silva, aliado do candidato Felipe Ezabella). Ele ficou oito anos na administração, mais tempo do que o Andrés. E o Piovesan? Reapareceu na chapa do Roque na eleição anterior, como oposição ao Andrés. O Roque perdeu a eleição no fim de semana, e quem assumiu a diretoria financeira na segunda-feira, no lugar do Raul? O Piovesan. Então, todo esse desastre financeiro dos últimos 15 anos, do Dualib até hoje, está focado em cima dessas duas pessoas, Raul e Piovesan. E eles estão circulando nessas chapas que estão aí: Roque, Paulo, Andrés e Ezabella.

Vamos falar do marketing agora? O marketing do Corinthians tem sido pífio desde o Andrés. Quem estava lá? O Luis Paulo Rosenberg, que confessou publicamente o que eu vinha falando nos bastidores e as pessoas não acreditavam: ele estava tentando uma união entre o Andrés e o Roque. Só não fazia gestos mais claros porque achava que isso poderia trazer rejeição para o Roque – e traz mesmo. O homem do marketing do Roque é o Edgard Soares, que sai da campanha se o Luis Paulo aparecer.

Oposicionista aponta acordo de marketing com Ronaldo como desastroso para o Corinthians (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

O fato é que o nosso marketing é pífio. Eles falam do Ronaldo. O Ronaldo foi um craque dentro de campo. Fora, foi um desastre. Tudo o que trouxe gerou benefício para ele mesmo, e não para o Corinthians. Temos um ciclo vicioso, com o marketing não fazendo absolutamente nenhuma ação para gerar recursos e as finanças destruindo o clube, só assumindo dúvidas e assinando contratos irresponsáveis. O Corinthians não arrecada nada! Temos a Omni (gestora do programa Fiel Torcedor), que é uma intermediária que arrecada mais do que o clube. Isso é parceria? Os passes dos jogadores profissionais estão todos nas mãos de empresários. A base, da qual saíram os vices do Roque e do Ezabella (refere-se a Augusto Melo e Fernando Alba), que entregou 150 jogadores naquele negócio com o Flamengo de Guarulhos, não gera recursos. E a camisa do Corinthians, que virou um outdoor ambulante, com uma série de anunciantes desconhecidos, que não agregam valor à marca? Ao contrário, né? Desagregam. O marketing ainda paga comissão para isso! Quanto o clube arrecada de licenciamento? Zero! Pô, como zero? Destruíram as lojas Poderoso Timão porque não entregam material. O Corinthians não tem capacidade de criar um departamento de licenciamento? Estamos falando de Corinthians, e não de um clube de bairro!

Ao meu lado, também tenho geste que passou pela administração, sim. Um dos meus vices é o Ilmar (Schiavenato), um dos melhores diretores sociais que o Corinthians teve. Foi ele quem fez as melhores e maiores obras no Parque São Jorge. Não só não usava a verba que tinha de orçamento, como devolvia. É uma pessoa que tem todo o conhecimento do clube. O outro vice é o Lulinha (Luiz Carlos Bezerra), que vários candidatos tentaram levar para as suas chapas. O Lulinha representa a materialização de uma administração democrática, porque se dá bem com todos, inclusive com a situação. É uma forma de a gente sinalizar que vai administrar para todos, independentemente do pensamento político. Quem faz a oposição, em qualquer setor da sociedade, é a situação. E, hoje, repetindo, sou o único candidato de oposição.

Estádio de Itaquera: bom ou mau negócio?
O modelo do negócio foi muito ruim, mas o Corinthians sempre sonhou em ter o seu estádio. Em 1995, eu até consegui algo muito bom para o clube, a concessão do Pacaembu por 99 anos, que só não foi à frente porque o falecido Wadih Helu tinha muita influência sobre o Seu Alberto (Dualib). Eles queriam construir um estádio, mas não tínhamos dinheiro para isso. Deveríamos ter pegado a concessão do Pacaembu, pô!

Aí, anos depois, o nosso estádio surgiu como um presente da Odebrecht para o Lula mesmo. Foi uma jogada política. Usaram a abertura da Copa do Mundo como justificativa e não pagariam nunca. Os recursos viriam de desvios de obras que arrumavam para a Odebrecht, e todos iriam ficando com o superfaturamento. O Lula – no plano deles, a Dilma (Rousseff) não sofreria o impeachment, algo que ninguém imaginava – voltaria à presidência agora, em 2018, e perdoaria a dívida sob a alegação de que se tratava do único estádio particular construído para o Mundial. Afinal, enquanto todos os outros receberam dinheiro público, o Corinthians assumiu algo pelo qual não tinha responsabilidade. E, como a arena beneficiou a cidade de São Paulo na Copa do Mundo, tudo seria perdoado, como perdoaram dívidas de 1 bilhão de parceiros.

Tuma afirma que a arena da abertura da Copa do Mundo de 2014 foi um presente da Odebrecht a Lula (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Como resolver o problema da dívida de Itaquera
Só tem uma saída. É aquela que proponho, e sou o único candidato com condições de executar. Porque todos os outros estão envolvidos direta ou indiretamente nessa engenharia financeira. Eles têm vice-presidente, assessor, parceiro ou futuro diretor que se meteram com a Odebrecht. O Roque era presidente do Cori e nunca fez nada contra esse contrato. O Andrés era o presidente do clube. O Paulo Garcia tem ao seu lado o Piovesan, que estava assistindo a tudo. O Ezabella, o Raul Corrêa. Então, não há ninguém, além de mim, capaz de enfrentar esses caras.

A conta é simples, e você precisa ter coragem para botar na mesa e passar a régua. Uma auditoria apontou que a Odebrecht deixou de fazer obras que nos geraram um prejuízo em torno de R$ 250 milhões. Eles acham que devemos R$ 400 milhões, e eu entendo que já podemos descontar esses R$ 250 milhões. E o resto? Calma, que falta mais coisa. Danos morais. O dono da Odebrecht levou o Corinthians para dentro da Lava Jato! Ainda que tenha dirigente do clube envolvido, o Corinthians é vítima. A lei é clara quanto a isso: quem estiver envolvido responde com os seus bens. Então, temos que ir à Justiça comum para cobrar os danos morais – a arbitragem, prevista em contrato, não funciona para a gente; é cara e com inúmeras denúncias de corrupção. Será uma ação demorada na Justiça? Não importa. Vamos colocar, por baixo, mais R$ 50 milhões de danos morais. Há ainda os danos materiais. Vou dar um exemplo bem claro: o estacionamento da arena não pode ser utilizado fora dos dias de jogo – e, nos dias de jogo, de 2.500 vagas, só podemos usar 1.300 – porque a Odebrecht não fez um pequeno rodoanel lá dentro. É uma renda grande que o clube está perdendo porque o seu estacionamento ficou irregular. Essa outra ação daria mais de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões.

Chegamos aos R$ 400 milhões, né? Agora, tenho que ir à Odebrecht e falar: “Amigo, tenho 250 paus comprovados de obras malfeitas. Com mais uma ação de danos morais e outra de danos materiais, vou bater esses R$ 400 milhões. Vamos fazer o seguinte? Não vamos mais brigar, chega. Zero a zero. Vou ficar com o prejuízo que você me causou e, se acha que te devo alguma coisa, vá à Justiça contra mim”. Esperem vocês acabar a Lava Jato, aparecer o que mais tem de propina, e tchau. Eu tiro a Odebrecht de dentro do estádio e não pago nada! Mando uma carta para a Lava Jato: “A Odebrecht está fora da arena”. Como a construtora confessou desvio de recursos, nada impede que o juiz Sérgio Moro ou algum outro sequestre a arena amanhã, levando a leilão para pagar o roubo do dinheiro público. Precisamos homologar isso logo na Lava Jato, falando que a Odebrecht não tem mais nada a ver com o Corinthians.

Problemas no estacionamento de Itaquera motivam Tuma a propor uma ação por danos materiais (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

E tem mais. O dono da Odebrecht confessou em delação premiada que a obra deveria ter custado de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões. Se o custo está em R$ 2 bilhões, que é o valor do contrato se formos pagar até o final, ele que explique essa diferença. O Andrés foi ao Conselho pedir a aprovação de um projeto de estádio de R$ 350 milhões, em que o Corinthians não colocaria R$ 1. Está em ata. Eles imploraram para aquilo ser aprovado. Enganaram o Conselho. Se disseram que o estádio custaria R$ 350 milhões, o clube não deveria pagar nada além disso.

Mas já resolvi o problema da Odebrecht, né? Aí, vamos para a Caixa: “Quanto eu te devo, Caixa? Não quero saber de juros. De quanto foi o empréstimo, R$ 400 milhões? Quanto vocês já arrecadaram com esses recursos de três anos de fundo? Quer saber? Vamos fazer o seguinte? Eu tenho os CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) da Prefeitura, que valem R$ 350 milhões. Para te pagar à vista, já, vou te dar esses CIDs. Até porque você deve, que eu sei, R$ 400 milhões de IPTU para a Prefeitura, das suas agências. Toma: 350 paus à vista”.

Viu? Acabou o empréstimo, e o estádio é meu. Vão falar: “Mas é só isso?”. É, é só isso. Nenhum banco quer deixar de receber. O que eles farão com aquele estádio? Leiloarão? Ninguém compra. A Caixa quer mais R$ 50 milhões, além dos R$ 350 milhões dos CIDs que estamos oferecendo? Aí, tudo bem, buscamos um acordo: eles me dão mais cinco anos de carência, e pagamos esses R$ 50 milhões, R$ 60 milhões em 10 anos, aproximadamente R$ 6 milhões por ano. Beleza para todo o mundo? Homologamos. A partir de então, saem os dois de lá, Caixa e Odebrecht.

Só que você precisa ter condições de dar murro na mesa. Como vai o Andrés, com todo o respeito, brigar com o cara da Odebrecht? O cara vai falar: “Ô! Vai me f…? Vou falar como o acordo foi feito!”. O Roque vai lá, e eles: “Vai me f…? E essas pizzas aí, do Tribunal de Contas?”. Não dá! Não é acusar os caras. É um fato. Contra fato, não há argumento. Estou combatendo isso há 23 anos.

Direitos de nome do estádio
Tirando a Caixa e a Odebrecht do negócio, vou vender naming rights para mim. Não será como querem agora. Alguém compra por R$ 400 milhões por 20 anos e eu entrego tudo para a Caixa? Vamos ficar reféns de outra parceria?

Já conversei com vários empresários, e eles me falam que, se implementarmos as regras de compliance que o nosso programa prevê, terão um grande atrativo para investir. Aí, haverá fiscalização, e eles saberão para onde vai o dinheiro. Há gente interessada em naming rights, sim! Os empresários me disseram: “Se você resolver o problema da Caixa como está falando, tenho interesse”.

Tuma ameaça criar um canal fechado para transmitir as partidas do Corinthians (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Mas estou falando de naming rights, e não de dar camarotes junto, padaria. Querem chamar de “Arena Tuma”? Beleza, é só dar 15 paus por ano para a gente dizer que o Corinthians vai jogar na Arena Tuma. Ah, mas a Globo não fala isso no ar? Fala, sim. É só pegar o contrato da Globo e avisar: “Você quer transmitir jogo no meu estádio? Vai falar, senão não assino”. Não querem assim? Tudo bem. Faço a TV Corinthians. Tenho 30 milhões de torcedores. Imaginem 80 mil deles, um número pequeno, pagando R$ 10 por jogo para assistir na minha TV fechada. Isso dá muito mais dinheiro do que a Globo. Atlético-PR e Coritiba já transmitiram uma partida na internet. Eu vou além: faço um canal fechado. Compro uma concessão e coloco programação o dia todo. É do Corinthians que estou falando!

Parceria com a Omni, gestora do programa Fiel Torcedor
Temos que tirar a Omni de lá. Não há outro jeito. A Omni possui quatro, cinco contratos com o Corinthians – de catracas, Fiel Torcedor, teatro e não sei mais o quê. Já vi esses contratos. Foram prorrogados politicamente para que eles pudessem emprestar dinheiro ao clube. Foi a mesma coisa que fizeram com os adiantamentos da Nike, da Globo. A Omni virou banco do Corinthians. E, em todas essas renovações, tirou uma contrapartida. É algo pernicioso. Ainda que precisemos pagar alguma coisa para romper os compromissos, temos que acabar com todos.

Além disso, o Fiel Torcedor é um programa seletivo, prejudicial ao associado do clube, que fica sem acesso aos ingressos. Falo isso desde sempre, e os caras começaram a usar nas suas campanhas agora. Balela. Temos que tirar a Omni do Corinthians!

Busca por um patrocinador máster
Encontraremos esse patrocinador, uma marca que agregue. Tenho certeza de que, com uma boa administração, atrairemos investidores. O problema do Corinthians é a falta de transparência e o excesso de comissionamento. Vamos acabar com isso com integridade, moralidade, com um código de ética e conduta. É regrinha de compliance: sem isso, você está fora. Fazendo as coisas certas, o cara aparece e fala: “Opa!”. Até porque as empresas também têm compliance.

Oposicionista diz destratar a Nike por suposto envolvimento em crimes investigados pelo FBI (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

E a Nike? Eu mando a Nike à m…! A Nike está envolvida em casos do FBI. Destrato a Nike na hora: “Esperem um pouquinho. Tenho compliance e não posso fazer contrato com uma empresa envolvida em crimes de lavagem de dinheiro, de corrupção, pô!”. Aí, vou à China negociar. Conheço o fabricante da Nike lá. A camisa custa US$ 7. Vou até o fabricante e compro 1 milhão de camisas: “Tome aqui, US$ 7 milhões”. Levo tudo ao Bom Retiro e boto a minha marca, o meu distintivo. Depois, uniformizo todas as modalidades esportivas do Corinthians. O que sobrar vai para as lojas. Em vez de pagar 400 paus em uma camisa da Nike, o que incentiva a comercialização do produto pirata, o cara passa a comprar direto comigo. Vendo a 100 paus, e todo o mundo compra. É só saber administrar o clube.

Publicidade para pequenas empresas
A camisa do Corinthians não pode ser um outdoor ambulante, com 10 marcas desconhecidas. Você precisa trazer empresas que agreguem valor. Se aparece o “Cafezinho do Barba” querendo patrocinar o Corinthians, é complicado. A não ser que o Barba fale: “Vou te dar R$ 1 bilhão”. Aí, vou checar se está tudo certo e aceito o negócio. Uma empresa me pagar R$ 1 bilhão para ficar conhecida, tudo bem. Mas, se for uma diferença pequena de valor, prefiro fechar com uma marca já consagrada.

Como, sem dinheiro, investir no departamento de futebol
Sou torcedor, mas sei me portar muito bem em um cargo diretivo. Posso vetar uma contratação, mas indicar jogadores não tem sentido. Quem faz isso é o treinador. Quem vai me falar que quer o Pelé, o Messi e o Zidane é o treinador. Ele vai colocar no papel, e sonhamos juntos. A partir disso, posso falar: “Olha, esse jogador não dá mesmo. Tem uma alternativa?”.

O que vai acabar é esse negócio de empresário indicar jogador, como aconteceu com o Drogba, que nem o diretor de futebol tinha conhecimento. Quem indica é a comissão técnica. Quem responde pelo resultado é a comissão técnica. Como vou demitir ou manter um treinador se não foi ele que escolheu o elenco? Por que o Mário Sérgio foi embora depois que saí do Corinthians (em 1995; Tuma era vice-presidente de futebol)? Por causa disso. Ele não ficaria em um clube com os caras enfiando jogador goela abaixo. Aí, quando perde, o massacrado é ele.

Tuma cita o falecido Mário Sérgio como exemplo de quem saiu por não receber reforços que não queria (foto: acervo/Gazeta Press)

Planos para as categorias de base
Vou criar uma superintendência de futebol para cuidar não só da base, mas do futebol profissional, do feminino e do máster. Acabaremos com esse comércio que existe na base. Só é falácia dizer, como fazem alguns, que o Corinthians será dono de 100% dos direitos de todos os atletas. Quem começa no clube, sem dúvida, será 100% nosso. Mas você pode precisar de um lateral direito, por exemplo, para uma determinada safra de jogadores. Em um caso como esse, não tem jeito, é preciso buscar fora. Se te oferecem o Neymar, você não vai trazer porque o agente quer manter 20% dos direitos? Esse atleta chegaria sendo, no mínimo, 80% nosso.

Além disso, vamos chamar ex-jogadores para trabalharem como olheiros do Corinthians, recebendo para viajar pelo interior. Quero recriar o terrão da época em que eu era vice de futebol. Nada desse negócio de peneira, em que o moleque joga cinco minutos e sai de campo. Voltará a ser feito um acompanhamento de dois, três meses. Também criaremos escolinhas para os filhos dos associados. Isso tudo é fonte de jogadores.

O desafio de assumir um clube que tem sido vencedor em campo
Fui vice de futebol entre 1994 e 1995, saindo por entreveros com a FPF e a CBF. Eles exigiam deliberadamente que o Dualib me substituísse, ameaçando tirar os títulos do clube. Faziam isso porque eu brigava, queria formar uma liga independente. Acabei me afastando da diretoria, mas fiquei por trás do Zezinho Mansur, que assumiu. Montamos dois times campeões. Em 1994, ganhamos quase todos os jogos, mas perdemos a final do Campeonato Brasileiro para o Palmeiras, pelo esquema Parmalat. Eles estavam com um time, que, p…, era um negócio complicado. Em 1995, ganhamos a Copa São Paulo depois de 25 anos, a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista. E isso ficando seis meses sem patrocínio, entre a saída da Kalunga e a chegada da Suvinil. Mesmo assim, montamos toda a estrutura do futebol profissional. Compramos maquinário importado, trouxemos psicólogos, demos palestras…. O Corinthians não tinha essas coisas. Então, daquela época para cá, o clube sempre disputou títulos. Exceto na gestão do Andrés, que deixou o time cair para a segunda divisão e ainda nos deu o “Tolima Day”.

Mas não é só com o resultado dentro de campo que você mensura uma gestão. Existe o clube social também. Títulos, é obrigação disputar. E, se analisarmos, quem ganhou os títulos mais importantes dos últimos anos foi o Mário Gobbi. O meu vice (Ilmar Schiavenato) foi campeão da Libertadores, do Mundial. O Corinthians, portanto, não se dá ao luxo de não ganhar. E você não pode usar isso como arma política. É a sua obrigação.

Candidato usa o rebaixamento e o Tolima para diminuir as conquistas de Andrés Sanchez no futebol (foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Futuro do gerente de futebol e da comissão técnica
Não torço contra o Corinthians. Torci para c… para o Corinthians ser campeão brasileiro no ano passado. O pessoal me falava: “Ah, mas isso vai ajudar os caras (a situação)”. Não importa. Eu me sentiria frustrado se não ganhássemos. Na época, pedi até para falar com o Alessandro. Chamei o Flávio Adauto (então diretor de futebol, hoje candidato a vide de Paulo Garcia) para ir comigo, porque seria mais ético. Aí, falei: “Alessandro, existe toda uma boataria na imprensa, mas, para mim, quem vai mostrar a capacidade de permanecer no Corinthians são vocês”. E, até agora, não tenho o que falar dele nem do Carille. Eles podem ficar tranquilos. Não se preocupem comigo e continuem a trabalhar, a meter a bronca, porque vamos juntos. Precisamos dar tranquilidade para os caras. Eles não podem ficar no meio dessa eleição sangrenta, esperando o resultado para conseguir trabalhar.

Cobranças por resultados e relação com a torcida
Gostaria muito que o presidente atual fosse corintiano o suficiente ao fazer a sua sucessão. Infelizmente, ele está assinando contratos que superam as próximas 10 administrações. Deveria ter discutido com os candidatos, por exemplo, como vai ficar o elenco. Mesmo assim, é evidente que haverá cobranças. O time acabou de ser campeão. Se não tivesse sido, o novo presidente também seria cobrado. É Corinthians!

O que acho estranho é que a torcida não tem cobrado. Estamos passando por escândalos violentos no Corinthians, com proposta de impeachment, Lava Jato, e a torcida está parada. Quando fui vice de futebol, se o cara errasse um pênalti, já tinha gente no Parque São Jorge para reclamar. O cenário atual me causa muita estranheza.

Independentemente disso, vamos criar uma diretoria do torcedor, que valerá para as uniformizadas e o torcedor comum. O cara poderá bater na porta e falar: “Pô, comprei o meu ingresso, e a minha cadeira não estava lá!”. Precisamos desse diálogo. Outra coisa: sou um cara da área de segurança pública e sei que a Polícia Militar não deve fazer patrulhamento em jogo. Segurança pública é para coisas do povo. Quem quiser fazer evento particular tem que pagar pela segurança. Se você não possui essa competência, feche a sua casa de espetáculos. E, com a diretoria do torcedor, conseguirei discutir esses temas com as torcidas. Posso perguntar: “Vocês saberão lidar com seguranças particulares no estádio? Qual é o opinião de vocês?”.

Estranhando escassez de protestos, Tuma quer montar uma diretoria para dialogar com a torcida (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Processo de impeachment de Roberto de Andrade
A não admissão do pedido foi um absurdo. Passaram por cima do estatuto, fazendo uma manobra política na hora da votação. Fui um dos que lutaram pelo impeachment, porque acho que o Roberto cometeu irregularidades. Ele não mostra os contratos para o Conselho. Por minha solicitação, foi nomeada uma comissão para avaliar os problemas da arena, e nem para essa comissão ele mostrou os contratos! Isso é descumprimento do estatuto. Deveria ter sofrido outro impeachment! É que a comissão não teve coragem para apontar mais essa irregularidade.

E não tenho dúvidas de que o impeachment teria sido benéfico para o Corinthians. O presidente continua praticando atos que desrespeitam o estatuto. Esse pseudocontrato que ele fez com a Caixa, renegociando a dívida, não foi aprovado nem pelo Cori nem pelo Conselho. Nesse presidencialismo de cooptação, o Roberto teve a gestão dele dividida – uma parte do Andrés, outra do Paulo Garcia. Ele ficou naquela saia-justa e preferiu se ausentar do clube, despachando da sua agência de carros.

Outra: a saída do Roberto não traria nenhuma interferência no futebol. Se tem uma coisa em que ele não se meteu, foi o futebol. É por isso que deu certo. Foi a comissão técnica que fez toda a gestão do futebol. O presidente nunca apostou no Carille. Só o efetivou quando não conseguiu mais nada. O departamento de futebol do Corinthians se blinda quando sente que a diretoria é frágil, que não dá respaldo. Assim como o time, o meu grupo foi zoado como “quarta força” quando criou o seu projeto de governo. O time se fechou e ganhou o campeonato. Nós estamos na luta.

Conselho Deliberativo dividido em chapinhas, e não mais com um chapão
Excelente. Apoiei. Aliás, de todos os candidatos, fui o único que votou a favor das chapinhas. Todos os outros foram contrários. Ainda acho que há um modelo melhor, o do voto individual. O sócio escolheria 10, 15, 25 conselheiros. Isso daria o direito de ele montar a sua própria chapinha, sem uma lista fechada, como é agora. Acho mais: a eleição para presidente tinha que ser em dois turnos. Assim, você evitaria aventuras e só levaria para o segundo turno aqueles que têm propostas. Não teríamos essa eleição sangrenta. Eu, que tenho propostas, fico apanhando de blog de candidato disfarçado de terceiro, de interposta pessoa.

Com relação às chapinhas, os meus adversários reclamam que o pessoal vai ficar cobrando cargos depois da eleição. É só fazer a reunião aberta, né? Se alguém cobrar cargo, você chama a imprensa e fala: “Esse pessoal está me combatendo no Conselho porque não ganhou cargo”. Fiz uma vacinação para isso. Na minha proposta de governo, criaremos o CAP, o Comitê de Administração Participativa. O CAP receberá um membro de cada chapinha eleita, inclusive das duas suplentes, representando os sócios. Outros cinco membros serão conselheiros vitalícios, representando o órgão fiscalizador. Ainda haverá mais cinco membros corintianos, que podem ser sócios ou até atletas, mas não conselheiros. Aí, esse comitê passará a fazer uma gestão participativa com o presidente. Ouviremos o pessoal para saber, por exemplo, se é melhor investir em uma quadra ou em um aquecimento para uma piscina. Não terá essa coisa escondida, de não mostrar contratos. Do jeito que está, vira uma guerra. Cabe ao gestor criar um ambiente favorável para o Conselho fazer um enfrentamento técnico e com conteúdo.

Em “eleição sangrenta”, Tuma não poupa críticas aos seus adversários políticos (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Chances de vencer a eleição
Parece até proposital o número reduzido de associados votantes, cerca de 3.000. A situação dificulta as transferências de títulos e não faz promoção para angariar novos sócios. Por quê? Eles querem manter o curral eleitoral manobrável, facilitando a vitória de alguém indicado pela administração. Outro problema são os assessores que têm carteirinhas, quase 800, e podem votar. São pessoas que dependem e vivem do clube.

Só que, nesta eleição, haverá mais mobilização por causa das chapinhas. O pessoal terá que caçar votos no Parque São Jorge, e o nosso projeto encampa muito a questão do clube social. Sou o único candidato que frequenta o clube com a família. Nenhum outro vai. Eles não têm mulher, filha e neta para levar. Os que têm não gostam e não levam. Então, o meu projeto foi concebido para as famílias do Corinthians. A turma da churrasqueira reclama: “Tuma, chove aqui!”. Eu sei porque estou lá. Outro fala: “Não tem parquinho para a minha filha!”. Eu vivo isso. É algo favorável.

Do outro lado, o Andrés não queria ser candidato. Ele tentou fazer um acordo com o Paulo (Garcia), que não quis lançar candidatura na época. Só que o Andrés precisa se reeleger deputado, estar na mídia. Para ele, a exposição ideal era assumir o departamento de futebol ou uma superintendência da arena, com o Paulo na presidência. Aí, ganhando a eleição, a campanha dele para deputado estava feita. Agora, expondo-se desse jeito, poderá aumentar a sua rejeição.

Antes da Lava Jato, o Andrés tinha condição de aglutinar a base dele e impor uma candidatura. Agora, com esses problemas todos, ele se enfraqueceu e perdeu muita gente. Hoje, não consegue impor a candidatura de outra pessoa. A única forma para unir o grupo é ele mesmo se lançar candidato e falar: “P…, vocês vão me trair?”. Ele foi obrigado a ser candidato. Só que o problema foi transferido para o segundo escalão. Ficaram cinco caras brigando, uma p… guerra, pelos cargos.

Andrés Sanchez “é o Lula do Corinthians”, na visão do concorrente Romeu Tuma Júnior (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Mas o Andrés é, sim, o principal adversário, até por conta da máquina. Ele tem o carisma dele. É o Lula do Corinthians. Existem pessoas que amam o Andrés, que o acham único na história do clube. Então, é o cara a ser batido. Agora, conforme o quadro vai se clareando, com as campanhas se manifestando, as pessoas começam a perceber que, de oposição mesmo, sem ser mais do mesmo, sou eu. Se é para combater esse modelo, sou eu contra o Andrés. Eu me vejo nessa situação. O meu projeto é combater o Andrés, até porque o resto é um apenso da candidatura dele.

Só não dá para fazer qualquer previsão para a eleição. Virou loteria. É um eleitorado muito difícil. Os caras contratam pesquisas, mas são todas furadas. Houve um cara que fez uma pesquisa para o Roque e, quando veio me mostrar, confessou que era fria. Como você faz pesquisa no Corinthians? Por telefone? Qual é a base disso? O que a gente faz é sentir o dia a dia. Sinto que estou bem, com chances.

Relacionamento com os demais candidatos
É respeitoso. A gente não tem amizade, mas é respeitoso.

Investimentos em outras modalidades esportivas
Sou a favor de tudo! Temos que fazer como os americanos: acabou o jogo, pegamos a camisa do jogador, lavamos, autografamos e levamos a leilão. É uma fonte de renda inesgotável. Devemos integrar os sócios, até porque o futebol foi tirado do Parque São Jorge. O atleta está de folga, não vai jogar por causa de cartão? Façamos como a Disney. Colocamos o cara no clube para tirar fotos com as famílias, para ir ao Memorial e assinar as camisas que vendemos. Na Disney, você pega o mapa na entrada e vê que o Mickey estará em tal lugar às 15 horas, o Pateta…

São essas ações que resolvem os problemas, além da auditoria de todos os contratos. Sou o único candidato que não vai dar descarga. Vou meter a mão no esgoto para tirar o lixo. Quero ir atrás de quem desviou dinheiro para cobrar. Temos que sanar as dívidas e criar espaços para investimentos. Assim, poderemos remontar todo o esporte amador e olímpico e parar de jogar de barriga de aluguel, com o vôlei em Guarulhos, o futebol em Osasco, p…! O Corinthians precisa ter time próprio para disputar campeonato, cobrar ingresso e encher ginásio. Devemos também profissionalizar a equipe de máster, contratando os ex-atletas, oferecendo planos de saúde. Aí, quando fizerem amistoso de aniversário de cidade, os 200 paus vêm todos para o Corinthians, e não para assessor que é amigo e faz campanha para grupo político.



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