Bia Haddad abre alas no tênis e quebra jejuns brasileiros - Gazeta Esportiva
Fernanda Silva
São Paulo, SP
03/06/2018 10:00:58
 

No início deste ano, a tenista Bia Haddad quebrou um jejum brasileiro de 53 anos, quando venceu na chave principal do Aberto da Austrália. Na semana do Dia Internacional da Mulher, a atleta destaca que entende a responsabilidade de representar seu País mundo afora: “E que isso sirva de exemplo e motivação para todas as meninas do Brasil”.

Projetada como principal nome do tênis feminino brasileiro e sendo a número um do País, a paulista não se sente pressionada. “Me deixa feliz saber que, hoje, sou exemplo para muitas pessoas e que eu posso sim, cada vez mais, buscar melhorar”, destaca a atleta, de 21 anos.  Disciplinada, Haddad treina todos os dias em busca de uma melhora progressiva — “com muito trabalho duro”, como ressalta constantemente.

Tenho muito claro as coisas em que preciso melhorar

Claro que ser número um é meu objetivo. Acho que todos jogadores também querem isso”, destaca Bia Haddad, sem medo de esconder que deseja saltar ainda mais no ranking mundial de tênis. Atual número 59, apenas uma posição atrás de seu melhor desempenho, a tenista paulista mantém os pés no chão e sabe que é preciso trabalhar muito para conquistar a marca que deseja: “Tenho muito claro as coisas em que preciso melhorar, então, é isso que me deixa motivada”.

No último ano, Bia foi dona de um bom desempenho em quadras e, consequentemente, evoluiu na lista de melhores do mundo. A atleta, entretanto, ainda não sabe o que é mais difícil: chegar em uma alta posição ou mantê-la. “O chegar você não conhece como é, quando vai ser. Então, tem aquela expectativa, às vezes, você se frustra, às vezes, tem dúvidas”, destaca. “Quando os caras bons chegam no topo, eles têm que se motivar e vencer a eles mesmo. Então pode ser ainda mais difícil.”

Modalidade no Brasil

“A gente vai fazendo com muito amor e as coisas começam a acontecer”, explica Haddad, que sabe que o tênis é uma modalidade muitas vezes, pouco inclusiva. “O Brasil é um País muito grande e o tênis está mais voltado para o Sul e Sudeste. Não são fáceis as condições que temos, mas acho que podemos encaminhar e ter grandes jogadores”.

Em maio do último ano, depois de vencer o ITF Challenger de Cagnes-sur-Mer, na França, Haddad abriu espaço para entrar, pela primeira vez, no top 100 do ranking WTA. Com o feito, a paulista, ainda aos 20, entrou para o seleto grupo de brasileiras que ficaram entre as melhores do mundo. Agora, seu nome está guardado na história da modalidade ao lado de Maria Esther Bueno, Niege Dias, Teliana Pereira, Patrícia Medrado, Andrea Vieira, Cláudia Monteiro e Gisele Miró. Apesar de serem poucas, Haddad não acredita que o tênis feminino brasileiro foi abandonado. “Sempre tiveram meninas jogando e treinando, mas é difícil pelas condições”.

O ano do salto

O ano de 2017 não começou fácil para Bia Haddad. A poucas semanas do início da temporada, um acidente doméstico resultou em três vértebras fraturadas. A consequência foi estreia em grandes torneios adiada. Tempo depois, entretanto, veio a recuperação: após resultados expressivos, como o vice-campeonato em Seul, o título de duplas em Bogotá e estreias nas chaves principais dos torneios de Grand Slam, saltou 115 posições no ranking.

Com o técnico argentino German Gaich, evoluiu em quadra. Apesar de em 2017 ter vivido sua primeira temporada sem lesões, minimizou o efeito das dores em quadra. “Elas te deixam, com certeza, mais forte e te ensinam muito, mas o mais importante é que eu consegui passar por cima e consigo lutar sempre”, destacou. “Hoje, se eu estou aqui neste posto é porque eu trabalhei para isso e as lesões fizeram parte”.

As lesões te deixam, com certeza, mais forte e te ensinam muito

No último ano, enfrentou também, pela primeira vez, jogadoras do top 10. Seu embate mais memorável, entretanto, foi contra a australiana Samantha Stosur, então 19ª colocada do ranking da WTA, em maio. Ao vencer por 2 sets a 0 no saibro, com parciais de 6/3 e 6/2, além de avançar às quartas de final do Torneio de Praga, Haddad fez outro feito: pela primeira vez em 28 anos, uma brasileira superou uma tenista top-20. “Ela é uma grande jogadora. Eu joguei um Grand Slam e consegui manter minha tática, lidar com as emoções durante o jogo e sair com a vitória, fiquei muito feliz”, lembra.

“O circuito das grandes está muito parelho tecnicamente, claro que em alguns momentos importantes, elas são um pouco mais sólidas, mais experientes”, afirma Haddad, que já enfrentou Venus Williams. A ex-número 1 do mundo já estava em quadra quando a paulistana nasceu. “Foi o jogo em que eu mais senti que vale a pena todo trabalho que a gente faz”.

O tênis vem de família

Antes de Bia se apaixonar pela modalidade, o sangue tenista já corria por suas veias. Neta e filha de praticantes do esporte, ela ainda tentou judô, futebol e natação. Mas não deu certo. “O tênis sempre me deixava com mais vontade de ganhar”, destaca. Apesar da influência, a jogadora afirma que a escolha de ver o tênis profissionalmente foi sua. “Ninguém impõe nada”.

Desde os 14 anos levando o tênis a sério, saiu muito cedo de casa, deixando seus pais e amigos em São Paulo. Na mala para Balneário Camboriú, entretanto, levou os valores que aprendeu com a família. “Meus avós, por exemplo, eles me mostraram o quanto é importante respeitar, trabalhar duro, fazer o bem. Sempre carreguei e vou carregar isso comigo”.



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