Década Fenomenal - Gazeta Esportiva
Cecília Eduardo*
São Paulo
03/04/2019 09:00:21
 

O ano de 2009 começou com as atenções do mundo do futebol voltadas ao Corinthians. Um dos maiores jogadores de todos os tempos, Ronaldo vestiu preto e branco para mais uma ressurreição na carreira. Nesta segunda-feira, dia 4 de março, a Fiel recorda os dez anos da estreia do Fenômeno pelo Timão, na vitória por 2 a 0 sobre o Itumbiara, depois de 13 meses parado, por conta de mais uma lesão no joelho que parecia ter deixado sua carreira perto do fim.

Mas só parecia. Porque o eterno camisa 9 não só voltou a jogar bola, como ajudou o Corinthians após o retorno à Série A com gols, liderança, títulos e visibilidade, sendo um dos protagonistas dos primeiros capítulos da década mais vitoriosa da história do Timão.

Presente durante toda a passagem de Ronaldo pelo Alvinegro, o zagueiro Chicão teve uma relação forte com o atacante e, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, falou sobre a chegada do Fenômeno ao clube. “No final de 2008, recebi a notícia de que ele já estava acertado. Não ouvi burburinho antes disso, foi uma notícia surpreendente, porque ninguém imaginava que ele realmente voltaria a jogar futebol. E você assistir a um atleta sendo campeão do mundo em 2002 e depois poder ter a honra de jogar ao lado dele não tem preço”, disse o zagueiro-artilheiro.

Negociação foi bom para o Fenômeno e principalmente para o clube(Foto: Fernando Pilatos/Gazeta Press)

E esse casamento que começou com uma negociação histórica ainda em 2008, e terminou oficialmente em fevereiro de 2010, continua rendendo frutos ao clube até os dias atuais. Em negociação arquitetada pelo presidente Andrés Sanchez, foi possível concretizar um acordo que parecia impossível entre o clube que voltava da segunda divisão e um dos maiores centroavantes da história do futebol.

Foi no dia 9 de dezembro de 2008 que a oficialização da contratação surpreendeu imprensa e torcedores. À época, o Corinthians recebia anualmente um valor de R$ 21,5 milhões de patrocínio (Nike e Medial Saúde) e era claro que, para arcar com os custos de um jogador eleito três vezes melhor do mundo, o clube precisaria de parceiros.

Logo de cara, após a chegada de Ronaldo, o Corinthians quadruplicou o valor que recebia da Nike, mudou o patrocínio máster para a Batavo, aumentando R$ 1,5 milhão em relação à Medial, além de contar com o acréscimo de R$ 12 milhões por espaços que antes não eram explorados na camisa. Era perceptível: Ronaldo com a camisa do Corinthians havia se tornado um produto. E foi justamente como um produto que o Fenômeno fez uma sociedade com o clube e gerou patrocínios que rendiam dinheiro tanto para seu próprio bolso, quanto para o caixa do Timão.

Fechado o negócio, Ronaldo precisava trabalhar para voltar à forma e finalizar a recuperação da cirurgia, feita em fevereiro de 2008. Em setembro do mesmo ano, ele havia iniciado trabalhos físicos no Flamengo, onde ficou por pouco tempo. Mas já no Corinthians, no começo da pré-temporada de 2009, o jogador seguia acima do peso e em busca de confiança quanto ao joelho. Foi então que o clube organizou uma força tarefa, com profissionais focados apenas no camisa 9 para que ele estivesse apto para o jogo o quanto antes.

Primeiro ato

Ronaldo fez um trabalho específico para ficar pronto para Mano o quanto antes (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Pouco menos de três meses após o início do ciclo de Ronaldo no Corinthians, o atacante tinha uma silhueta mais fina, aparecia nos treinos coletivos e, finalmente, foi liberado pelos médicos do clube, ficando à disposição de Mano Menezes. Naquele começo de março, o Corinthians disputava o Campeonato Paulista, com um Derby pela frente, e estrearia na Copa do Brasil.

E foi contra o desconhecido Itumbiara, exatos 10 anos atrás, numa terça-feira à noite, que o técnico corintiano sacou o Fenômeno do banco de reservas, aos 21 minutos do segundo tempo e com o Timão já vencendo o jogo por 2 a 0. A volta de Ronaldo aos campos, em um estádio longe do glamour que ele era acostumado, no interior do Goiás, foi o destaque daquela vitória do Corinthians, mesmo com uma atuação discreta do atacante.

Gol de louco

Ronaldo foi comemorar o primeiro gol junto com o bando de loucos (Foto: Fernando Pilatos/Gazeta Press)

Antes previsto como o possível jogo de estreia de Ronaldo, o clássico contra o Palmeiras, que aconteceu dia 8 de março, foi ainda mais importante para o jogador no retorno ao futebol. A partida, realizada em Presidente Prudente, foi marcada por um primeiro tempo morno e um segundo tempo recheado de chances a gol, principalmente do time do Palmeiras.

Com uma falha do goleiro Felipe, o Corinthians viu o rival abrir o placar e teve dificuldades para descontar. Aos 18 minutos da segunda etapa, Mano Menezes atendeu ao pedido da arquibancada alvinegra e colocou o Fenômeno em campo. E mesmo não contando com 100% de sua agilidade, o atacante conseguiu construir boas oportunidades para o Timão.

Com o tempo correndo contra o Corinthians, parecia que o Palmeiras caminhava para mais uma vitória no Derby. Até que nos minutos finais, um escanteio pela direita, cobrado por Douglas, acabou com a bola no fundo da rede, após cabeçada de Ronaldo na segunda trave, vencendo a marcação errada de Marcão e o goleiro Bruno.

Foi então que o êxtase tomou conta do lado preto e branco do estádio. Liderados por Ronaldo, que entrou em estado de pura euforia e correu para o alambrado do setor corintiano, os torcedores foram à loucura, acompanhados de todo o elenco do Timão. Pendurados aos montes, a massa foi mais forte que a estrutura que dividia a arquibancada do campo. A cena icônica do Fenômeno junto ao bando de loucos, seguida da queda do alambrado, virou até placa e ganhou homenagem no estádio do interior paulista.

Enfim, Ronaldo Fenômeno estava verdadeiramente de volta ao futebol.

*Especial para Gazeta Esportiva



×