Os brasileiros na era "pós-Senna" - Gazeta Esportiva
Lorenzo Meyer*
São Paulo, SP
05/03/2019 08:00:28
 

Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e principalmente Ayrton Senna deixaram os brasileiros acostumados a ouvir o hino nos pódios da Fórmula 1 durante as décadas de 70, 80 e 90. Após a morte de Senna no GP de San Marino de 1994, no entanto, o Brasil nunca mais conseguiu levantar um caneco da principal categoria do automobilismo mundial.

Na atual edição, inclusive, o país não tem sequer um participante no grid de largada. 25 anos depois da morte de Senna, a Gazeta Esportiva faz um balanço do desempenho dos brasileiros na categoria.

Rubinho surge como esperança

Rubens Barrichello, no início da carreira, com o já consagrado Ayrton Senna (Foto: Reprodução)

Desde Ayrton Senna, o Brasil teve 16 representantes na Fórmula 1. Em 25 anos, dois deles se credenciaram como sucessores do tricampeão: Rubens Barrichello e Felipe Massa. Os pilotos juntos conquistaram 22 vitórias e 29 poles. Apesar de uma trajetória relevante, a torcida sente que poderiam ter proporcionado algo a mais.

Rubens Barrichello estreou na Fórmula 1 um ano antes do acidente de Senna na curva Tamburello. Em 1994, o piloto já mostrava que poderia seguir um bom caminho ao conseguir a primeira pole position no GP da Bélgica com a Jordan e encerrar o campeonato em sexto, a frente de concorrentes de Williams, Benetton e McLaren, equipes melhores na época.

Após três anos na Jordan e um segundo lugar no Canadá como melhor resultado, Rubinho rumou a emergente Stewart, onde somou boas corridas e permaneceu até 1999, mas ainda sem ganhar uma prova. Ainda assim, foi contratado pela Ferrari para a temporada de 2000, quando teria, enfim, a chance de se tornar protagonista.

Da expectativa a descrença: Rubinho mostrou que podia, mas não quis

Envergonhado após vencer com uma ajudinha de Barrichello no GP da Áustria de 2022, Schumacher deu o troféu de primeiro lugar ao brasileiro

Em seis temporadas pela Ferrari, Barrichello se mostrou um piloto competente, porém, se manteve na sombra de Michael Schumacher. Mesmo como segundo homem da equipe, o brasileiro até chegou a correr a frente do companheiro em várias oportunidades. As determinações da escuderia italiana, acatadas em sua maioria, minaram qualquer chance de Rubinho atrapalhar o reinado do alemão heptacampeão.

É verdade que Barrichello nunca se atreveu a sequer contestar as imposições da Ferrari, o que acarretou na descrença do povo brasileiro em relação à sua capacidade. Ainda assim, teve dois honrosos vices (2002 e 2004) em uma época em que a F1 era dominada por um único piloto.

Troca de protagonismo

Massa por pouco não levou o título pela Ferrari (Foto: AFP)

2006 foi um ano de mudanças na Fórmula 1, sobretudo para os brasileiros. Rubinho se transferiu para a Honda, onde se tornou mero coadjuvante, e abriu espaço para Felipe Massa, que vinha de temporadas razoáveis na Sauber, ser o companheiro de Michael Schumacher.

Na poderosa Ferrari, Massa sofreu para engrenar, mas garantiu duas vitórias na perna final da temporada, uma delas em Interlagos, a primeira desde Ayrton Senna em 1993. No ano seguinte, a grande notícia para o novo protagonista brasileiro: Schumacher optou por deixar a categoria.

Campeão por 30 segundos

Hamilton foi campeão em 2008 por um ponto a mais que Felipe Massa (Foto: Bertrand Guay/AFP)

Sem Schumacher, que se aposentou, Massa teve tudo para se credenciar a principal piloto da Ferrari e, enfim, cessar o jejum de títulos do Brasil. A escuderia optou por reformular o carro depois de dois anos aquém das expectativas, e o paulista demonstrou que poderia ser sua vez ao vencer dois dos quatro primeiros GPs. A partir daí, Felipe não manteve a toada, só triunfou em mais uma corrida e viu seu companheiro recém contratado, Kimi Raikkonen, levantar o troféu inédito.

Desacreditado, Massa deu a volta por cima em 2008, quando viveu seu auge. Na temporada, o brasileiro venceu seis corridas e chegou na última prova, em Interlagos, precisando de uma combinação de resultados para ser campeão. Felipe cruzou a linha de chegada em primeiro, enquanto Lewis Hamilton, seu concorrente direto, estava em sexto. O resultado dava o título ao piloto da Ferrari, mas o britânico passou Glock na última curva, frustrou o Brasil inteiro e levou o título.

Começa o declínio do Brasil

Massa sofreu grave acidente em 2009 (Foto: AFP)

Em 2009, Massa figurava entre os favoritos após ter batido na trave no ano anterior e Rubens Barrichello reaparecia entre os postulantes ao título ao ir para a Brawn. O piloto da Ferrari, entretanto, logo saiu da disputa após ser acertado justamente por uma mola do carro do compatriota no GP da Hungria. Apesar do ótimo desempenho da escuderia britânica, Rubinho não conseguiu sequer fazer frente ao companheiro Jenson Button, campeão da temporada.

A partir desse ano, tanto Massa quanto Rubinho se tornaram coadjuvantes. O ferrarista voltou às pistas em 2010, mas nunca mais conseguiu recuperar o bom ritmo, deixando a escuderia italiana em 2013. Com o fim da Brawn, Barrichello foi para a Williams, onde ficou até 2011, quando se aposentou da Fórmula 1.

De protagonista a mero espectador

Massa sofreu na Williams (Foto: AFP)

Acostumado a brigar por títulos na Fórmula 1 por conta dos oito campeonatos conquistados com Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna entre as décadas 70 e 90, a ponto de levar muitos estrangeiros a defini-lo como “nação da F1 e não mais do futebol”, o Brasil experimentou uma sensação estranha a partir de 2018. Após 47 anos, nenhum brasileiro sequer competiu na categoria.

Para esta temporada, a marca negativa se repetiu. Assim, o país, educado a celebrar conquistas na principal disputa do automobilismo, terá que amargar 10 anos sem ouvir o tema da vitória, uma vez que o último triunfo de um brasileiro aconteceu no dia 13 de setembro, com Rubens Barrichello no GP de Monza, na Itália.

Pedro Paulo Diniz, Bruno Senna, Ricardo Zonta, Enrique Bernoldi, Cristiano da Matta, Nelsinho Piquet, Ricardo Rosset, Tarso Marquez, Antonio Pizzonia, Lucas Di Grassi e Luciano Burti também foram brasileiros que participaram da F1 após a era Ayrton Senna. Desses pilotos, apenas o filho de Nelson Piquet conseguiu um pódio, além de Barrichello e Massa.

Uma luz no horizonte

Sergio Sette Camara é uma das esperanças do Brasil para voltar ao grid da F1 (Foto: Divulgação)

A edição de 2019 da Fórmula 1 é tida como uma volta por cima para o Brasil. Isso porque duas escuderias têm brasileiros como seus pilotos de testes. São elas: a Haas, com Pietro Fittipaldi; e a McLaren, com Sergio Sette Camara. O primeiro, inclusive, foi elogiado pelo chefe de sua equipe, o italiano Gunther Steiner, após a pré-temporada em Barcelona.

Sergio Sette Camara e Pietro Fittipaldi, de 20 e 22 anos, respectivamente, são, hoje, a grande a esperança de recolocar o país dono de 126 poles, 101 vitórias, 293 pódios e oito troféus como protagonista  na F1.



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