Temperamental, reprodutor tem luxo e conforto no 'baloubetmóvel' - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
Benavente, Portugal
07/30/2012 09:01:05
 

Quando Baloubet du Rouet tinha apenas quatro anos, o empresário Dom Diogo Pereira Coutinho deixou-o em uma baia enquanto almoçava durante um concurso hípico. Irriquieto, o animal danificou o espaço até ser solto. Aos 23, atuando apenas como reprodutor, o célebre cavalo mantém o mesmo temperamento e vive cercado por mimos de seu proprietário, como um luxuoso veículo feito sob medida para transportá-lo.

No verão, Baloubet acorda por volta das 6h30 e é retirado da baia pela tratadora Sônia Oliveira às 7 horas. Depois de fazer de 15 a 20 minutos de esteira dentro de uma sala própria no haras em que vive, passeia pelo local montado pela técnica em gestão equina. Por volta das 12 horas, volta à baia para almoçar e descansar. No final do dia, sai outra vez e, esporadicamente, tem a chance de pastar, já que sua dieta é constituída por ração, feno e linhaça. Às 19 horas, já limpo, retorna para a baia.

O animal ainda tem consultas mensais com seu veterinário e toma alguns suplementos vitamínicos. “O Baloubet sempre foi acostumado a ter um nível de tratamento muito bom e, por vezes, quando se falha em algum aspecto, ele percebe e acusa logo qualquer coisa. Se você não tiver o cuidado de secar o pelo depois do banho, por exemplo, ele logo se manifesta. Por sempre ter sido tudo tão bem feito, quando não é, o próprio físico dele percebe qualquer coisa errada”, explicou Sônia.

No dia em que Rodrigo Pessoa desfilou como porta-bandeira do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, a Gazeta Esportiva.net visitou o parceiro do cavaleiro em suas principais conquistas na localidade de Benavente, em Portugal. Ao ver o fotógrafo Fernando Dantas se aproximar com a máquina enquanto fazia exercícios no picadeiro, o animal tentou acertá-lo duas vezes. No momento em que o flash do equipamento foi acionado, ele ficou ainda mais incomodado.

“É um cavalo com um temperamento muito forte e violento. Por outro lado, comigo e com minha mulher é bastante carinhoso e meigo. Com as tratadoras, ele sempre tem uma relação de intimidade. Se for tratado com muito carinho, dedicação e ternura, o Baloubet aceita tudo. Caso contrário, você não consegue fazer nada com ele”, disse Dom Diogo, que visita o cavalo de 586kg no haras pelo menos três vezes por semana.
Para impedir que algo perturbe a tranquilidade de Baloubet du Rouet, como o cheiro de uma fêmea, por exemplo, ele ocupa uma baia isolada no haras, algo exigido para apresentações em outros locais. Em qualquer tipo de atividade desenvolvida pela tratadora ao lado de mais cavalos, o garanhão, tricampeão da Copa do Mundo e ouro em Atenas-2004, faz questão de demarcar território para tentar assumir a posição de líder do grupo.

Veículo foi feito sob encomenda para transportar o cavalo campeão olímpico
Veículo foi feito sob encomenda para transportar o cavalo campeão olímpico

“Quando estamos no picadeiro com mais animais, se ele vê o cocô de outro cavalo, precisa ir marcar o seu território por cima. É uma mania que tem desde sempre e tive que manter. Quando tento tirá-lo do picadeiro antes disso, ele fica chateado, abanando a cabeça e não quer andar. O Baloubet mostra para mim que pensa: se eu sempre fiz isso, por que agora você vem dizer que não posso mais fazer? Ele gosta de mostrar quem manda e de marcar a sua posição”, afirmou a tratadora.

Depois de passar um período sem atuar como reprodutor, Baloubet já retomou as funções. Durante sete meses do ano, ele tem o sêmen colhido uma vez por semana – de acordo com seu proprietário, o animal sabe o dia da coleta e fica irritadiço. De Portugal, o material segue para um centro de armazenamento e distribuição na Bélgica. Dom Diogo calcula gastar de US$ 100 a US$ 110 mil anuais com o cavalo e uma dose de seu sêmen gira em torno de US$ 3,6 mil.

O empresário diz não visar qualquer tipo de lucro com o animal e se esforça para agradá-lo, a ponto de encomendar um veículo especial para o seu transporte. Não apenas o cavalo viaja de maneira confortável, mas também os acompanhantes, já que o caminhão dispõe de camas, televisões, banheiro espaçoso e fogão. Esporadicamente, o empresário manda Baloubet ser trazido do haras para passear no jardim de sua residência, uma casa do século XIV, devidamente restaurada, em Vila Chã de Ourique.

“O Baloubet é como se fosse um filho para mim e para minha mulher. Depois de sentir tanto orgulho e satisfação com esse cavalo, agora temos que oferecer os momentos de repouso com a melhor qualidade de vida e saúde que ele possa ter. Não se pode esquecer que esse foi o único cavalo que deu ao Brasil uma medalha de ouro olímpica. Julgo que a minha obrigação é não lhe deixar faltar absolutamente nada”, declarou Dom Diogo.

O português recebeu uma série de ofertas por Baloubet du Rouet, mas diz jamais ter cogitado a possibilidade de vendê-lo, nem mesmo diante de uma pedida de “muitos milhões” de um empresário interessado em presentear a princesa da Jordânia com o animal. “Tive algumas propostas bastante convidativas, mas não interessa o valor. Ele não tem preço para nós. Tem um valor incalculável, de estimação. Pertence à nossa família e nunca vamos nos desfazer dele”, disse.

emperamental, Baloubet tentou acertar um coice no fotógrafo e ficou incomodado com os flashes
Temperamental, Baloubet tentou acertar um coice no fotógrafo e ficou incomodado com os flashes


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